Entre lobos e montanhas

Carolina Rodrigues
Frestas
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2 min readSep 6, 2021

Estava pensando sobre o ditado “estar no fundo do poço”, ou seja, no último estágio do fracasso completo. Várias pessoas declaram a falência pessoal e acreditam não ter mais oportunidade ou tempo ou coragem de reconstruir e reinventar. E se, ao invés de fundo do poço, for o começo da escalada em uma montanha? Talvez, seja uma analogia melhor.

Imagem: Pixabay

Imagina que, em um primeiro momento, está na base da montanha. Tudo parece muito distante, o topo parece impossível, as adversidades são muitas — frio, calor, bichos, tombos, medos. Ao olhar para cima, quase não dá para ver o topo; a vista chega a embaralhar. Aí a mente dispara em medo e desespero: “Você enlouqueceu? Acha mesmo que consegue escalar isso? Não percebe que é demais?”. Os sentidos se perdem com tamanha imensidade.

Dá até para acreditar no discurso mental. O choro e a falta de esperança são reais. Nesse momento, considera desistir com toda a convicção e, por um instante, cai em sono profundo, entrega o corpo desalentado. Quando acorda, depara-se com um lobo enorme e a única alternativa é lutar pela vida, correndo e escalando até despistar o animal.

Ao recuperar o fôlego, percebe uma vista completamente diferente da qual estava habituada na base da montanha. “Uau, como aqui é bonito”. O entorno é muito melhor do que o imaginado. Se soubesse o que encontraria, já teria subido antes. “Nossa, eu precisei quase ser atacado por um lobo para subir aqui e descobrir essa preciosidade?”.

Coisas surpreendentes em cada novo canto. Alguns novos obstáculos. Mas a vista compensa cada superação. Cada passo se torna um aprendizado. “Quais outras maravilhas me aguardam alguns passos acima? Não quero esperar um lobo vir para me fazer subir novamente”.

Vem o dia e a noite, o calor e o frio, o medo e a coragem, o sonho e a realização. O caminho é imperfeitamente maravilhoso, mas o movimento é sempre perfeito. O topo é ainda muito distante, mas apreciar a caminhada é gratificante. Cada nova parada é radiante. Quantas belezas e alegrias. Sempre há algo a aprender, encantar, surpreender e superar.

Então, pode ser que sinta gratidão pelo lobo que lhe fez sair da base da montanha e superar o que tanto temia. O novo olhar leva a contemplar o que já foi trilhado e percebe que o topo é diferente para cada pessoa. O importante, de fato, é não parar e apreciar a beleza do caminho. A montanha tem seus perigos, mas os maiores são perder a viagem, não subir o próximo degrau e estagnar na base por causa do medo. Ah, os lobos… alguns vêm mesmo só para te fazer subir sem olhar para baixo.

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Carolina Rodrigues
Frestas
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Jornalista por formação. Contadora de histórias e estórias por vocação.