Escritação

Carolina Rodrigues
Frestas
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3 min readMay 7, 2021

Você já pensou que a escrita é também uma forma de meditação? Seja qual for o intuito da escrita — criativa, intuitiva, jornalística, científica, literária… — é sempre um processo de presença. Não tem como escrever sem estar inteiramente atento. Mesmo que tente fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo, no momento em que se atreve a escrever, você se debruça tão somente no ato da escrita.

Escrever exige presença!

Se você ainda pensava que meditar é apenas ficar em silêncio e tentar parar o fluxo dos pensamentos, eu te absorvo da culpa de achar que meditação não é para você.

Meditar é tão somente sobre estar presente!

Se você apreciou a paisagem durante uma viagem, você já meditou.

Se você sentiu todo o sabor do seu prato favorito, você já meditou.

Se você admirou a perfeição que é seu filho, você já meditou.

Se você sentiu o cheiro de terra molhada e agradeceu pela chuvinha mansa, você já meditou.

Se você simplesmente sentou e observou o contorno, você já meditou.

Escrever é também meditar!

Imagem: Pixabay

Instigo você a uma escritação, neologismo que acabo de fabular para escrita+meditação. Olha para os lados. Escreva sobre o que você vê. Talvez, seja melhor começar descrevendo todos os detalhes. Se, assim como eu, você está sentado no sofá, aproveitando os feixes de luz que escapolem pela janela, escreva as minúcias que nunca parou para observar do sofá e da janela, ou, quem sabe, da luz.

Explore as texturas, cores, cheiros, sabores, sons. Descreva todos os detalhes da árvore frondosa que está do outro lado da rua; do movimento dos carros e o barulho das buzinas; da pessoa mais próxima de você; do pão delicioso que você acabou de comprar na padaria; das flores do jardim do vizinho.

Depois de percorrer os detalhes materiais, eu te desafio a seguir para o próximo nível: externar a natureza emocional do que está contemplando. Ultrapasse a fronteira da denotação para a da conotação. A criatividade não tem limites. Não represe a explosão de sensações, afetos e intuições.

Sinta todos os detalhes descritos e não se intimide caso venha a ser aturdido com o fenômeno da gratidão, alegria ou entusiasmo. Nessa circunstância, você já transcendeu e irrompeu no nível espiritual da escritação. Esse é o ápice, o instante em que cada átomo vibra por tudo o que foi escrito e sentido e contemplado e meditado. A presença é real, genuína e majestosa. Quem ousaria dizer que isso não é meditar?

A palavra escrita alcança outra dimensão e, por consequência, te leva a um estado de inteireza. Talvez você bem conheça aquela sensação de profunda satisfação, ao olhar para um texto finalizado. Pode acreditar que a meditação aconteceu no fluir das palavras.

Então, respira profundamente três vezes e permita-me fazer, novamente, o desafio: vamos escritar?

PS: Arrisco dizer, se você foi cativado por essa minha escrita intuitiva-criativa-didática-meditativa, acabou de meditar.

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Carolina Rodrigues
Frestas
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Jornalista por formação. Contadora de histórias e estórias por vocação.