Oscilar não é fracassar

Geane Durante
Frestas
Published in
3 min readMar 30, 2022

Sugestão de música para acompanhar a leitura: Mais uma vez (Renato Russo)

Na infância, meus pais me criaram para que eu fosse autora da minha própria história. Você quer aquilo? Faça por onde; quer ser uma boa estudante? Dedique-se para isso; entre outros questionamentos que o meu eu criança e adolescente faziam continuamente. Talvez por isso, sempre fui inquieta e ansiosa, porque queria estar um passo à frente nos pensamentos de como aquele trabalho de escola seria ou como eu poderia ganhar aquela boneca.

Toda essa construção formou e ainda faz parte de quem sou hoje, mas, confesso, tem sido um desafio diminuir essa cobrança que faço de mim mesma. Já me peguei, várias vezes, com aquele pensamento totalitário: se eu não tiver disponibilidade para fazer um pouco daquilo, melhor nem começar. E com isso, acabo ignorando o poder que existe no fazer um pouco de cada vez, dia após dia. Mas, tenho aprendido nos últimos anos, que, o processo tem sido mais importante que a chegada — pelo menos para mim.

Em um desses dias, minha psicóloga fez o seguinte comentário: oscilar não é fracassar. A minha mente explodiu, como naqueles desenhos animados, sabe? E, tudo que ela foi dizendo, acrescentava ainda mais à reflexão. Aquilo me marcou muito, fiquei pensativa por semanas. Tanto que, eu queria compartilhar isso com você, leitor.

Afinal, quantas vezes eu deixei de fazer ou começar algo, na exigência de desenhar um cenário ideal na minha cabeça para executá-lo. Querendo uma perfeição milimetricamente calculada, fracassar esquece, não é uma opção. Com isso, eu ia adiando, adiando, e me iludindo com os meus próprios pensamentos. Basicamente, eu estava procrastinando e me sabotando.

Acredito que, uma parte dessa utopia da perfeição veio da minha geração, não sei. Os millenials, sempre foram obstinados em idealizar, sonhar, e querer chegar ao destino, vencer a batalha da vida, sabe? Tá, beleza. Mas e o processo? Ele também não seria parte dessa tal batalha da vida? E, o que fazer depois que você “chegou lá”? Onde é a chegada, para você?

Foi na faculdade que eu comecei a refletir melhor sobre isso. Entrei recém-formada do ensino médio, ainda menor de idade, para um universo completamente diferente ao qual estava acostumada. Minha turma era majoritariamente jovem, com menos de 20 anos, sedentos de saber e de fazer acontecer. Entramos de um jeito e saímos de outro, ainda bem.

Pôr do sol que eu registrei há mais de quatro anos, em um desses dias difíceis. Essa foto tem um lugar especial em meu coração.

Nessa fase, a escuta ativa da minha mãe era meu consolo. Ela, inclusive, relembrou isso semana passada: “quantas vezes eu parava o que estava fazendo para te ouvir e te acalmar, Geaninha”? Foram milhares de vezes, mamãe. Ela acalmava quase que, diariamente, o meu coração ansioso, com os conselhos divinos de mãe, somado a boas doses de realidade. Aquelas reflexões me faziam ver os problemas por uma outra ótica, me ajudava a compreender a importância do processo e do aprendizado. “Tudo bem, eu não estar, ainda, no estágio dos sonhos, mas preciso aprender a gostar do processo e começar de algum lugar”. Todos os dias era um desafio novo, que eu jurava que não fosse capaz de fazer, mas ela estava lá, sendo presença nas minhas inquietações.

Anos depois, estou aqui, retomando esse tema na tentativa de acalmar o meu coração, e, quem sabe, o seu também. Tenho conseguido, aos poucos, fazer um pouco mais a cada dia, vendo o processo como elemento fundamental de todas as minhas conquistas. Um dia estarei à mil, cheia de energia para fazer aquilo, noutros nem tanto. Mas, pouco a pouco, vamos dedicando e aprendendo que oscilar não é fracassar, é apreciar o desenrolar da vida, apesar das adversidades.

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