Pelos abraços que ainda daremos
Metade de mim é saudade, e outra também tem sido. Cheguei a essa conclusão enquanto meu olhar vagava pelos porta-retratos na parede do meu quarto. Há algo em comum entre eles: emolduram abraços. O saudosismo próprio da fotografia é uma espécie de magia que não consigo explicar, apenas sentir. Enquanto escrevo estas linhas, vêm à tona os sentimentos vividos naqueles momentos genuinamente felizes em família, com amigos e amores.
Não sei você leitor, mas amo abraçar e ser abraçado. Para quem me conhece sabe que não dispenso o quentinho de um abraço aconchegante, seja na chegada ou na partida. Nos braços do outro me encontro e me sinto vivo.
Em tempos pandêmicos, para continuarmos vivos, houve a necessidade do afastamento físico, o qual evita a propagação do novo coronavírus. Assim, o gesto de abraçar, antes corriqueiro no meu dia a dia, teve que ser reservado e adiado. Justo no momento em que eu queria encontrar conforto em um abraço apertado e demorado, capaz de me fazer acreditar que iria ficar bem.
Felizmente, já surgiram alternativas para tentar substituir esse afeto físico, como acenos à distância, abraços virtuais e até protegidos por capas plásticas. Isso não é atoa, pois o gesto é conhecido como “medicina universal”, por estar associado à produção do “hormônio da alegria”, a ocitocina. Hoje, encontrei refúgio nesses registros fotográficos, que me lembram que é tão gostoso se deixar envolver nos braços de quem a gente ama. E isso me encheu de alegria e esperança em meio a tanta tristeza e angústia.
Para mim, cada um desses abraços foram únicos — já dizia o filósofo Mikhail Bakhtin, cada vez que o Eu-Tu se encontra é singular e irrepetível. Nesse instante, a vida desacelera, tudo parece ser mais simples e possível; é um mundo à parte, nele encontro paz.
As fotografias na parede também me revelaram que é muito doloroso não ter mais a chance de nos abraçar novamente. Os que perderam um ente querido, um amigo, sabem que a lembrança e saudade do abraço é diária. Então, pelos abraços que ainda daremos vamos continuar nos cuidando. E fica o convite para você também reviver os abraços eternizados nas fotos que tiver em casa. Sinta-se abraçado!
Thiago “Zina” Crepaldi, professor de Biologia e divulgador da Ciência. Atualmente graduando em Jornalismo pela Universidade Federal do Mato Grosso.