O ontem e o hoje: o que os reboots têm a oferecer

Animações dos anos 80 e 90 ganham reboots na Netflix e trazem novos ares para histórias que fizeram a infância de muita gente

Beatriz Cunha
caixadesaturno
7 min readApr 6, 2020

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Imagem: Netflix/divulgação

As crianças dos anos 80 e 90 tiveram um leque gigante de animações que fizeram parte da sua infância. Considerando que naquela época a TV era a maior fonte de entretenimento para as crianças, as animações eram um grande mercado que não gerava lucro somente com a audiência, mas também com a produção de brinquedos e acessórios inspirados em tais desenhos.

Muitas das crianças que cresceram com essas animações têm por volta dos 30 anos (ou mais) hoje em dia e carregam boas lembranças dessas produções. É possível que você já tenha ouvido falar sobre os desenhos que você assistia quando criança, em uma roda de conversa com amigos, lhe trazendo a sensação de nostalgia.

A Netflix começou a apostar em reboots de animações antigas para que as crianças do século 21 pudessem ter um pouco da glória dos anos 80. Apesar de terem base em suas antigas versões, essas animações abordam temas atuais e extremamente importantes, os quais, naquela época, nem se sonhava em serem debatidos em um programa de TV para crianças, mas é um grande fato que esses reboots (livre para todos os públicos) atraem — majoritariamente — pessoas um pouco mais velhas.

É possível listar várias diferenças entre as animações originais e seus reboots, o que pode ser considerado como uma coisa boa, já que neles vemos novas formas de representatividade, empoderamento feminino e também novos visuais de tirar o fôlego.

“Voltron: O Defensor Lendário” (2016) e “Voltron: O Defensor do Universo” (1984)

Imagem: Netflix/reprodução

Em seu original título, Voltron conta a história de uma equipe formada por cinco exploradores do espaço que pilotam um robô gigante (também conhecido como mecha ou meca), chamado Voltron. Adaptado do que seria uma mistura de várias animações japonesas (em sua maior parte “Beast King GoLion”), “O Defensor do Universo (1984) mostra os cinco exploradores do espaço pilotando leões mecânicos, que juntos formam Voltron, para lutar contra o mal e salvar o dia.

A antiga animação não traz uma narrativa muito forte, conta com uma dublagem pobre, porém engraçada, e com certeza não pode se dizer ser a obra prima das animações, mas acabou conquistando corações. Contudo, o seu reboot, “O Defensor Lendário” (2016), conquistou com sucesso o que o antecessor não conseguiu.

Os produtores executivos Joaquim dos Santos (conhecido por seu trabalho em “Avatar: A Lenda de Aang” e “Avatar: A lenda de Korra”) e Lauren Montgomery (conhecida também por seu trabalho em “Avatar: A lenda de Korra”, “Batman Ano Um” e “Justiça Jovem”) trouxeram para o reboot personagens mais carismáticos, com histórias mais comoventes e motivações mais concretas.

Imagem: Netflix/reprodução

Quem acompanhou as oito temporadas sentiu na pele a emoção de esperar pelos plot twists que Voltron sempre apresentou tão bem, sem contar as mudanças feitas no arco da história e nas histórias dos personagens; Allura, que costumava ser a dama em perigo, se torna a princesa guerreira que luta para proteger não só o que acredita, mas também todo o universo.

A representatividade também se faz presente ao nos mostrar Lance, latino-americano, e Shiro, o qual, em meados da 7ª temporada, nos é revelado ser gay. Outro detalhe diferente da animação antiga é que Pidge, anteriormente direcionado como um personagem masculino, é representado como mulher em “O Defensor Lendário”, porém fora dos padrões de feminilidade, o que, entrelinhas, pode ser interpretado como um personagem não-binário.

Durante as temporadas, podemos observar o crescimento dos personagens e suas particularidades — e quem assiste se apega imensamente a cada um de formas diferentes, algo que não é tão presente na versão de 84.

“She-Ra e as Princesas do Poder” (2018) e “She-Ra: A Princesa do Poder” (1985)

Imagem: Netflix/divulgação

Na década de 80, existia um boneco nominado como herói e ele se chamava He-man. Depois de um tempo, esse boneco conquistou o que seria a sua própria animação, com o intuito de vender mais. Assim também nasceria She-ra, linha de brinquedos (e também a animação) criada para a audiência feminina.

Em sua animação original, She-ra era apenas um spin-off da série de He-man, usado apenas como acessório para que pudesse vender mais. A antiga She-ra acaba dependendo de He-man para perceber que está sob influência de um feitiço para trabalhar para a Horde (ditadura que tenta governar Ethéria) e para receber a espada que lhe dá os poderes.

Nesse quesito, é possível dizermos que Adora só acaba se tornando a She-ra por causa de He-man.

Imagem: Netflix/divulgação

Agora, na animação de 2018, as coisas acontecem diferentemente, pois Adora não depende de He-man para conseguir seus poderes e muito menos para perceber que está sendo manipulada por mentiras; ela muda de lado e consegue seus poderes sozinha.

As relações entre os personagens também são diferentes que no original, pois a nova She-ra nasce mais livre do que a antiga, feita apenas para aumentar a venda de brinquedos. A mensagem e a relação entre bem e mal na versão de 2018 são mais profundas e atuais, que se assemelham muito mais com o mundo em que vivemos hoje em dia.

“Essa nova série é sobre a liderança feminina. É sobre mulheres assumindo posições novas e tentando liderar da melhor forma. Adora, Cintilante e Felina mostram três jeitos diferentes de liderar e eu consigo me identificar em todas três. Não foi uma vontade consciente, mas isso acabou entrando na série, especialmente porque muitas na equipe eram mulheres em suas primeiras funções de liderança.” — Noelle Stevenson, criadora da nova versão de She-ra

“Carmen Sandiego” (2019) e “Em Que Lugar da Terra Está Carmen Sandiego?” (1994)

Imagem: Netflix/divulgação

A história de Carmen Sandiego, na verdade, começa de uma maneira diferente. Em 1985, a fabricante de jogo Broderbund desenvolveu um jogo chamado “Em Que Lugar da Terra Está Carmen Sandiego?”, no qual o (a) jogador (a) toma o lugar de um dos novos detetives da agência ACME e precisa localizar ladrões da organização V.I.L.E, responsável por roubar obras de arte famosas pelo mundo todo e também pegar a sua líder, Carmen Sandiego.

Com todo o sucesso do jogo, várias sequências foram criadas, até um programa de TV no estilo game show, em 1991, mas foi só em 1994 que a animação tomou vida com o mesmo nome que o jogo original de 1985. A produção foi a primeira vez em que foi dada à Carmen uma personalidade e uma história.

A animação de 94 ainda manteve a mesma pegada educativa que o jogo tinha, mas agora era possível saber o passado e as motivações de Carmen. Descobrimos então que ela era uma órfã acolhida pela agência ACME e se torna a sua maior detetive aos 17 anos. Contudo, Carmen se vê presa em algo pelo que ela não tem mais interesse e funda a V.I.L.E, em busca de uma vida mais excitante. Então, os detetives Zack e Ivy são requisitados para capturar Carmen a todo custo.

Imagem: Netflix/reprodução

A história da produção de 2019, intitulada apenas como “Carmen Sandiego”, muda, porque desta vez, Carmen, como é criada pela V.I.L.E para se tornar a maior ladra do mundo, abandona a organização quando descobre do que se trata — e passa a impedi-la de realizar os crimes, ao lado de Zack e Ivy. Apesar de não ouvirmos sobre a ACME (importante não só na versão de 94, mas também nos jogos) nos primeiros episódios, ela acaba se tornando parte da narrativa ao final da primeira temporada.

E mesmo tendo virado a história de ponta-cabeça, o reboot ainda apresenta a abordagem educativa, narrando curiosidades geográficas dos demais lugares que Carmen visita, e a adição de novos personagens. Com uma pegada leve, é divertido e prazeroso maratonar as temporadas de “Carmen Sandiego”.

Muitos dos elementos das animações originais estão nos reboots e é muito interessante ver como os assuntos eram abordados naquela época e como são agora. As novas produções conseguem entregar premissa dos originais e ainda envolver o espectador de uma forma muito mais eficaz, trazendo junto assuntos importantes que devem ser abordados; por isso, os reboots são extremamente recomendados!

Edição realizada por Gabriela Prado.

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