Cada um no seu quadrado

Raphu Amorim
Friday Night Talks
Published in
4 min readAug 31, 2018

Ser de Centro é tomar porrada de todos os lados.

Ou Direita ou Esquerda… Nunca Centro.

A esquerda te acusa de ser um vendido, um rentista, um explorador. Gritam, choram, inflamam-se. Como você pôde trair a esquerda social que só quer seu bem? Talvez fosse melhor deixar o mercado se regular sozinho? Cego!

Do outro lado, te acusam de ser contraditório ou farsante. Você não pode mesmo acreditar no cerne do liberalismo se você acha que o Estado deveria meter a mão em certos assuntos. Vêm com os livros debaixo do braço mostrar por A + B o quão ineficiente isso seria. E como, logicamente, isso faz você soar no mínimo falso. Sem ofensa.

John Stuart Mill vocês não tentaram convencer de nada, né?

Enfim, meu ranço não é o assunto do texto.

Veja você, cara leitora e caro leitor, qual não foi minha felicidade quando percebi que finalmente alguém ia ter que prestar atenção no Centro. Não pra apontar dedos, estudar como um animal na gaiola ou rir como de um palhaço. Mas para tomar uma decisão.

HA! Peguei todos na curva.

Nessa eleição presidencial, estabeleceu-se muito rápido como a coisa ia rolar: Ia ter o Lula — ou o moço, fantoche, marionete, sombra do Lula, aquele candidato que tá preso — e o Anti-Lula. Ou seja: A Esquerda e A Direita. Rapidamente, Jair Bolsonaro se apresentou como o militar, armado até os dentes como o clichê da extrema direita.

Escolhidos os lados do campo, começaram a bater time.

Ficamos com Lula-ventríloquo, Guilherme Boulos, Cirão da Massa e Vera Lúcia versus Capitão Bolsonaro — double entendre, don’t even ask me how — Cabo Daciolo e Ey-ey-eymael.

No pátio, com o uniforme de educação física e esperando, restaram Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Meirelles, Amoêdo e Marina.

Aí que as coisas se conectam.

Veja você que essas pessoas não são claramente — claramente, eu repito — identificados com a Esquerda ou com a Direita. Para alguns inclusive não faz sentido algum, de acordo com sua plataforma de governo, de fato escolher um desses lados. Seria melhor identificar essas pessoas como inclinados ao Centro do espectro político.

Mas lembra que eu te disse que ser Centro é padecer. Ser Centro é sofrimento. Constrói caráter.

Numa corrida presidencial em que as coisas bem cedinho se colocaram como Esquerda conta Direita, e as pessoas tenderam a ver as coisas e a tentar se posicionar dessa maneira, tentar ir pela rota do meio é horrível. Ninguém liga pro que está no meio a essa altura do campeonato.

Essas candidaturas correram então para achar seu espaço ao sol no Centro, se colocando especificamente contra alguma das características mais chamativas de algum dos times.

Álvaro Dias é o moço anti-corrupção. Bate panela, bandeira do Brasil na varanda, chora vendo o filme da Lava-Jato. Ou pelo menos é a imagem que ele quer passar. Ao bradar que Sergio Moro será convidado para ser seu ministro e tentar convencer os procuradores da lava-jato a apoiar seu partido, ele esfrega o combate à corrupção na cara de quem espera o destino de um candidato preso, se distanciando desse lado da conversa.

Geraldo Alckmin, o dono daquele que talvez seja o sorriso mais insosso do Brasil, pode não passar nada à primeira vista, mas foi batizado como o ‘candidato do mercado’. Querendo ou não, sua imagem e seu nome evocam experiência política, estabilidade, reformas, continuidade, o empurrando para a direita da conversa. Pra quem está querendo justamente isso, parece uma ótima opção. Além disso, com 434 inserções de 30 segundos durante a programação na TV não custa nada separar um cantinho pro cara aí na sua casa, porque vai precisar.

Henrique Meirelles faz questão de repetir sempre que pode que foi o primeiro estrangeiro a ser presidente de um banco americano nos Estados Unidos. Empresário, inteligente, bem-sucedido. Melhores festas ao sul de P.Diddy. O ponto é que seu rótulo foi logo cedo o de ser o candidato do governo: afinal, pertence à mesma trupe. Com a popularidade do governo como está, essa é a pior caracterização possível para um candidato. Sua agenda é bem o esperado: reformas, mudanças, redução de gastos. Tenta se destacar sempre como o não-político-ficha-limpa.

E basicamente na mesma linha que o Meirelles mas sem o mesmo glamour está João Amoêdo. Quando eu falo em estar seguindo os mesmos passos, quero dizer que se coloca como não político, empresário de sucesso. Mas a bem da verdade, eu diria que isso descreve quase a totalidade de seu partido, o Novo. Quando falo na falta de glamour eu quero dizer que ele é ainda menos conhecido que o Meirelles, que pelo menos já foi ministro.

Da galera que ficou aguardando descobrir de que lado estava, sobrou a Marina Silva. Bem, todos nós estávamos querendo saber de que lado ela estava. Aliás, esperamos até demais. Já tínhamos desistido mais uma vez dela — como acontece de quatro em quatro anos, quando ela sai do casulo — até que PÁ! Esse foi o som do tapa na cara que ela deu no Bolsonaro durante o debate da Rede TV. E aí finalmente ela se colocou na disputa como algo: mais uma voz anti-bolsonaro. Em sua ideia de governo, muitos debates sobre tópicos controversos, poucas armas e algum girl power.

Batidos os times está começada a disputa. Essa galera vai começar a pedir licença pra entrar na sua casa, invadir suas conversas e te colocar pra pensar. Com a polarização das coisas, a Direita e a Esquerda berrando uma por cima da outra, ficou bem ruim pra ouvir o Centro. Mas ele se adapta e mostra sua cara de uma forma que todos conseguem ouvir e entender. Cada candidato no seu quadrado.

--

--