Errar é humano (ou sobre como errar faz bem)

Gusttavo
Friday Night Talks
Published in
3 min readAug 17, 2018

Acho interessante observar a dificuldade que nós seres humanos possuímos em admitir que estamos errados. O reconhecimento da falha pessoal dentro de qualquer âmbito da vida é de fato um processo doloroso que atinge diretamente um sentimento bastante presente na vida humana que é orgulho.

Contudo, por mais dor que possa causar, esse processo de reflexão a respeito de seus próprios erros é uma característica engrandecedora para os que são fortes o suficiente para encara-lo. Novamente pontuo, não é nada fácil admitir o fracasso.

Ao que parece, muitos de nós possuímos mecanismos que rejeitam até as últimas consequências a possibilidade de estarmos equivocados e o que parece mais irônico é que quanto mais avançamos dentro da atividade intelectual, mais estamos sujeitos a cair na armadilha do autoconvencimento.

Não acredito que alguém seja capaz de estar imune 100% do tempo da arrogância desmedida, mas creio que quanto mais o indivíduo fuja dessa armadilha mais ele venha a lucrar com tal proeza. Vejo isso não como uma forma de engrandecimento moral, uma espécie de culto a humildade que pode muito bem enveredar para um processo hipócrita de falsa modéstia que de nada serviria para o ser humano. Não! Interpreto a fuga dessa armadilha como uma forma segura de desenvolvimento das suas capacidades intelectuais de análise e compreensão do mundo a sua volta.

Observo que pessoas que se levam muito a sério possuem dificuldades latentes de compreender bem quais são as reais consequências de suas ações. Acredito que na cabeça dessas pessoas, a possibilidade do erro se encontra tão longínqua que se algo não vai de acordo com o planejado, alguma coisa externa provavelmente deve ter interferido.

É exatamente por isso que esse tipo de pessoa está sempre criando desculpas e culpados para problemas decorrentes de suas ações. Creio ser desnecessário citar o ônus que tal falha pode ocasionar não só para a pessoa em questão, mas para todos que são afetados pelas decisões tomadas.

A possibilidade de estar errado é uma ideia aparentemente simples, mas que está por de trás de argumentações primorosas de grandes autores. John Stuart Mill, por exemplo, defendia ferrenhamente a liberdade de expressão ancorado na ideia de que não somos infalíveis. Para ele, “[…]todo silenciar de uma discussão constitui uma pressuposição de infalibilidade[…]”. Subjacente a esse ponto se encontra a questão da tolerância. É claro que ser tolerante com o diferente é antes de tudo uma questão moral para muitos. Contudo, para as mentes mais utilitaristas, ser tolerante é algo necessário justamente pelo fato da possibilidade de estarmos errados. Já imaginou se aquele seu amiguinho ou amiguinha extremista do facebook vislumbrasse, mesmo que minimamente, a possibilidade de estar errado(a)? Muitos problemas seriam evitados.

Logo, seja para o desenvolvimento de capacidades pessoais ou para construir argumentações robustas em defesa de temas sensíveis à sociedade, a ideia da possibilidade do erro é algo que demonstra ser bastante importante como tema de reflexão. Se errar é humano e nós fazemos parte da humanidade, é irracional concebermos a ideia de que estamos sempre certos.

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