Feminilidade

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Friday Night Talks
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3 min readJul 20, 2018
Eu posso — e eu faço — o que eu quiser.

Ontem, depois de uns dois meses de enrolação, eu fiz as unhas.

Eu me recuso a pagar por um serviço que eu vou estragar em um dia e que eu até que engano tentando sozinha.

Mas que preguiça! Nem um pouco vaidosa.

Quem me vê só em ocasiões importantes sabe que eu só apareço embonecada, a Kardashian perdida, separada da Beyoncé na maternidade. No dia-a-dia me recuso a sair sem brinco e sem delineador.

Já chorei no metrô quando me dei conta de que estava sem meus olhinhos de gatinho. Veio tão de dentro que tentaram me dar mais espaço na lata de sardinha sobre trilhos.

Mas que preguiça dessa moça. Vaidade demais.

Quando me dei conta dessas tendências quase bipolares, eu tinha uns 13 anos e brincava que era meio menina e meio menino.

Bailarina e goleira.

Sabia todos os nomes esdrúxulos de esmaltes e toda a escalação do Chelsea.

Hoje, olhando pras minhas unhas enquanto digitava, me veio uma pergunta:

Quê?

Não estar afim de fazer as unhas me faz menos mulher? Ficar chateada com a falta de um brinco me faz mulher demais? Ter drags preferidas e centroavantes preferidos é incompatível? Quem me condicionou a pensar assim?

Bem, eu não tenho centroavantes preferidos. Eu me amarro é num camisa nove.

Mas ao chegar naquela última pergunta, eu na verdade já sabia a resposta. O que me incomodou ferozmente foi ter notado que se passou uma década até que eu questionasse isso.

Durante essa década eu fui exposta a muitos estímulos opostos. ‘Você é linda como é, mas que tal dois quilos a menos?’ ‘Você esteve incrível no gol, mas agora se comporte como uma mocinha!’ ‘Nossa, você está tão diferente de saia, veio vestida de menina hoje?’

Ainda nesse espaço de tempo, cresci com, vendo e ouvindo mulheres incríveis — reais ou da ficção — que não se importavam em ser quem eram, independente das opiniões dos outros. Minhas amigas atletas, professoras na escola, técnicas. Buffy Summers, Kitty Pride, Lois Lane. Ellen Gracie, Marta, Angelina Jolie. Destiny’s Child — e depois Beyoncé — , TLC, Lil’ Kim, Pitty… E porque não Kelly Key? Que menina dos anos 2000 não sabia ‘Cachorrinho’ na ponta da língua?

Para abrir de vez meus olhos que ainda tinham um medinho da luz, ainda vieram Emma Watson, Michelle Obama, Marielle.

Não vou mentir aqui e dizer que foi fácil parar de ouvir quem se sentia no direito e até dever de ‘consertar’ minha feminilidade. Eu não parei de ouvir. Eu tenho recaídas. Mas uma coisa eu entendi: é a MINHA feminilidade.

Se eu quiser sair de salto e saia de manhã e à tarde colocar as chuteiras ou o Jordan pra jogar, isso é quem eu sou. E quem decide sobre quem eu sou é apenas eu mesma. E eu sou um mulherão! Nós todas somos!

E se você ainda vai me dar sermão sobre isso… Que preguiça de você.

Assina: Raphu Amorim

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