Resposta ao texto “Errar é humano”

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3 min readJul 31, 2018

link para o texto principal: https://medium.com/@fridaynighttalks/errar-%C3%A9-humano-b343fa7a4c37

Meu amigo Gusttavo Farias escreveu um ótimo texto essa sexta-feira para o blog. O texto fala sobre a necessidade de reconhecer nossos erros, ou pelo menos a possibilidade de errarmos. Eu desejo desenvolver uma resposta a esse texto, como complemento a reflexão do Gusttavo. O ponto que me interessa é o que diz respeito as nossas razões para reconhecer um erro.

O texto não aborda esse ponto, mas por ser um ponto importante o leitor desavisado pode tirar algumas — errôneas- conclusões. O caminho do engano, sobre as novas motivações para reconhecer nossos erros, pode começar por aqui: o texto diz, se fugirmos da armadilha do auto engano (ou auto convencimento, como Gusttavo chama) podemos “lucrar com tal proeza”. Lucrar de que forma? com um caminho seguro para o “desenvolvimento das [nossas] capacidades intelectuais de análise e compreensão do mundo”. Ele retoma essa ideia na conclusão: ressaltando a importância de reconhecermos que somos falíveis se quisermos “o desenvolvimento de [nossas] capacidades pessoais”. Basta, portanto, a vontade de desenvolver nossa habilidades para sermos capaz de reconhecer nossos erros ou nosso caráter falível. Repito, o texto não defende essa posição, mas é um engano possível.

Eu acredito que essa posição seja falsa — a nossa vontade de desenvolvermos nossas habilidades analíticas não basta para reconhecermos nossos erros. Acredito que nossas motivações tenham outra origem.

Em condições normais de temperatura e pressão, nossa mente trabalha para o nosso ego. Isso quer dizer que se nenhuma força exterior ou disciplina interna interferir, nossa mente serve ao nosso auto engrandecimento e ao depreciamento dos nossos iguais. Esse é o típico comportamento de uma criança — egoísmo pleno. As crianças têm de ser ensinadas a dividir seus brinquedos com os demais. Também temos de reprimir seus atos violentos contra aquele irmão mais novo que captura atenção dos seus pais. Temos de tirá-la de sua bolha de auto referência e inserirmos ela na sociabilidade.

A mente aprende a se guiar por outras referências que não só suas necessidades: as necessidades da família, dos irmãos, dos colegas. Quando crescemos, nossa capacidade de abstração aumenta: aprendemos a nos guiar pelas necessidades da pátria, da empresa e assim por diante. Porém, na ausência dessas referências, retornamos a olhar o nosso umbigo.

Os momentos de auto engano — os momentos que caímos nessa armadilha narrada no texto — são momentos que estamos preso ao nosso ego. Porque desejamos manter sua coerência, sua coesão, sua virtude — e fazemos de tudo para defender que estamos certos hoje, como estivemos sempre. Não adianta recorrer a “vontade de desenvolver nossas capacidades”. Nós não servimos nossas capacidades, elas nos servem. Servem o mesmo senhor que nós — nosso ego.

Só é possível reconhecer o erro buscando outros referenciais. Se servimos ao bem da família — somos forçados a reconhecer nosso erro a custo de prejudicar nossa família, caso persistimos no erro. Se somos cientistas em busca de uma verdade — somos forçados a reconhecer nosso erro a custo de prejudicar nossa pesquisa e nossa comunidade epistêmica. Mas nada pode prejudicar nosso ego, se não deixarmos, se nos apegamos fortemente a vaidade: ficamos loucos antes de assumidamente errados. Não basta a vontade de melhorar nossas capacidades, para reconhecer um erro é necessário servir a outros referenciais que não nosso próprio ego.

Assina: Bruno Dias

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