“Além do Horizonte” não é coisa de TV aberta

O público da novela das sete não está na Globo. Está na TV paga ou no Netflix

Bruno Viterbo

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Muitos são os motivos de “Além do Horizonte” não emplacar. Um deles é que os temas misteriosos (a marca da besta ou a sociedade secreta que busca a felicidade) não fazem parte do imaginário popular, principalmente em São Paulo, praça principal de audiência e que vem obtendo índices muito baixos, por volta de 17 pontos. O que é uma pena, pois mostra uma cultura pouco explorada por nossa teledramaturgia: as populações ribeirinhas que vivem perto de florestas.

A novela é bem feita, não restam dúvidas. A direção estreante de Gustavo Fernandez tem uma marca, tem estilo, arrisca e acerta. O autor Marcos Bernstein já fez outra trama de mistérios (a série “A Cura”) e foi bem sucedido, tem experiência. Algumas cenas, pelo menos nesses primeiros capítulos, são de tirar o fôlego, tanto pelo texto como pelas imagens. O elenco principal jovem e não tão famoso — visto como problema — é o menor deles. Eles estão totalmente de acordo com a proposta da trama.

O grande problema é que a Globo quer ousar sendo conservadora.

Novela, por si só, já é conservadora. É uma estrutura que não permite muitas mudanças. Elas devem ser sutis, como em “Avenida Brasil” e as atuais “Joia Rara” (das seis) e “Pecado Mortal” (na Record): as três tem características e temas dos folhetins mais tradicionais, como a vingança, luta de classes e rivalidades. Mas, são bem feitas por terem uma produção detalhada. O texto é bem escrito, dinâmico, natural, mas os temas dessas três são tradicionais: fazem parte daquele imaginário popular dito acima.

Outro problema é o público cada vez mais distante da TV. Ainda mais o público que a novela, aparentemente, quer atingir: um público mais jovem (mais até que “Sangue Bom”, a antecessora no horário). Esse público está nos computadores baixando séries (inclusive as “misteriosas”, como “Lost”). Esse público está na própria TV, mas assistindo pelo Netflix ou produções a cabo. Produções, às vezes, com o mesmo tema da novela. “Além do Horizonte” comprova que, infelizmente, não é possível aliar boa direção (fotografia, locações) com texto/tema diferentes demais.

E, definitivamente, esse não é o tipo de coisa que deva ser exibida na TV aberta. “Além do Horizonte”, aparadas as superficialidades e com o acréscimo de mais ação e ousadia, daria uma ótima série. Na TV paga ou no Netflix.

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Bruno Viterbo

Redator, às vezes fotógrafo (como na foto ao lado) e às vezes jornalista. Mas sempre encontrando tempo para assistir alguma coisa (boa) na TV.