“Além do Horizonte”: aposta de risco

Globo traz novos profissionais e tramas para um produto cada vez mais em renovação (será mesmo?)

Bruno Viterbo

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Ultimamente a Globo tem reformulando totalmente o quadro de diretores e autores de suas novelas, dando chance a novos (ou nem tão novos assim) profissionais que durante anos permaneceram nas equipes de produção, mas nunca assumiram uma obra. “Além do Horizonte”, nova novela das 7, é a estreia de Gustavo Fernandez na direção de uma novela e é também a estreia da dupla de autores Marcos Bernstein e Carlos Gregório. O diretor faz parte do núcleo de Ricardo Waddington e já participou das produções de “Avenida Brasil”, “A Favorita”, e dirigiu a serie “O Brado Retumbante”, em 2012. Já Bernstein atuou com Fernandes em “A Cura”, de João Emanuel Carneiro e também com direção de Waddington, além de ter escrito o roteiro de “Central do Brasil” com o mesmo João Emanuel. Gregório tem uma longa carreira como ator e nos últimos anos aventurou-se como roteirista. A dupla de autores já trabalhou junta em “A Vida da Gente”, em 2011, de Lícia Manzo.

Tapiré: cidade cercada de mistérios

A proposta de “Além do Horizonte” é, no mínimo, curiosa: a trama tem mistérios que fogem do convencional — como a “besta de Tapiré” e uma suposta busca pela felicidade, em que pessoas abandonam tudo para encontrá-la. A novela volta para o caminho da fantasia, com toques de seriados americanos como “Lost” e “Terranova”. Pode ser um risco se pensarmos que a última proposta diferente para o horário foi um fracasso: “Tempos Modernos” (2010) amarga uma das piores audiências do horário e não foi bem recebida pela crítica. Mas, acredito que “Além do Horizonte” não corra esse risco. A trama é interessante, aposta em atores jovens e nem tão conhecidos para os papeis principais e uma equipe que, se não é nova, é experiente para estrear uma boa novela.

Marlon (Rodrigo Simas) e Paulinha ( Christiana Ubach)

A novela teve suas tramas principais já definidas e mostradas logo neste primeiro capítulo: jovens que querem partir em busca da felicidade (Marlon e Paulinha), uma comunidade no interior do Brasil que tem mistérios e a descoberta que o pai (LC, Antônio Calloni) de Lili (Juliana Paiva, a protagonista) não morreu e sim, partiu. Em busca da felicidade, claro.

William (Thiago Rodrigues) é o protagonista ao lado de Juliana Paiva. Os dois se cruzam quando ela vai procurar informações sobre o pai, que sumiu com a amante. Esta, porém, é Tereza, tia de William, que também sumiu. Ele e o irmão Marlon (Rodrigo Simas), que também “partiu em busca da felicidade” são criados por outra tia, que se desespera ao lembrar da irmã sumida — e se desespera mais ainda quando Marlon some.

Kléber (Marcello Novaes) e Keila (Sheron Menezes)

Marcello Novaes é o vilão Kléber e vive na cidade de Tapiré. Novaes em nada lembra o vilão Max, de “Avenida Brasil”: é ruim por natureza e não é nada ingênuo. Na mesma Tapiré, uma “besta” ataca um homem e reacende o medo na população. As cenas do homem fugindo da “besta” no meio da floresta foram bem feitas, mas nada de tirar o fôlego.

“Além do Horizonte” é uma aposta interessante da Globo. Foi uma boa estreia do diretor Gustavo Fernandez, que mantém as características de outros trabalhos: cenários construídos fora do padrão televisivo (Tucupira, se não soubesse, seria uma cidade no meio da floresta. Mas é no Projac) e pouca luz para trazer clima de suspense e tensão cinematográficos em alguns momentos. As imagens tem movimentos dinâmicos, com bastante uso de travellings, mas são estáveis. Não há a famigerada — mas sempre com efeito — “câmera na mão”, pulsante. Fernandes justifica: “Para que o visual fique limpo e não tão pulsante. É o que a história pede”. O elenco é enxuto, em torno de 27 personagens, o que pode ajudar a compreender melhor uma trama ainda nebulosa. A abertura, feita em stopmotion, é simples, mas cativante. Erasmo Carlos canta, claro, uma nova versão de “Além do Horizonte”. Por uma graça divina, cortaram o Jota Quest…

Lili (Juliana Paiva) e William (Thiago Rodrigues)

Marcos Bernstein já tem no currículo a ótima série “A Cura”, que também tratava de mistérios. O roteiro da dupla é bem escrito, mas apelou algumas vezes para clichês e frases de (suposto) efeito, como “Você tem que ousar, romper!” ou então “Eu sei o caminho para ser feliz!”. Ainda quero ver a frase já mostrada nas chamadas, que é um ponto alto: “Você tem que sair desse seu horizonte limitado”.

Assim como a novela, “Além do Horizonte” é um mistério. Esse primeiro capítulo não me empolgou — as chamadas já não eram tão empolgantes assim. Porém, apresentou técnica apurada, qualidades de texto e atuações: a Lili de Juliana Paiva já mostrou a que veio e tem tudo para ser o destaque da novela, que ainda conta com Flavia Alessandra, Alexandre Borges, Caco Ciocler, Cassio Gabus Mendes, entre outros. A estreia deu 24 pontos de audiência, abaixo de “Sangue Bom”, que estreou com 27.

Que “Além do Horizonte” faça a emissora sair do “horizonte limitado” que ela ainda insiste em viver.

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Bruno Viterbo

Redator, às vezes fotógrafo (como na foto ao lado) e às vezes jornalista. Mas sempre encontrando tempo para assistir alguma coisa (boa) na TV.