A luta vem de berço

Raul Moura
futebolélivre
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3 min readNov 1, 2018

A essência das torcidas organizadas brasileiras sempre foi a luta. Em um momento onde o que está em jogo não é a bola e sim a democracia, diversas uniformizadas resolveram se unir em pró do Brasil.

Ato do Coletivo Democracia Corinthiana em 2016 — Foto: Mídia Ninja

Fernando Haddad (PT), que lutou até o último segundo para derrotar Jair Bolsonaro (PSL) na corrida à Presidência, recebeu o apoio de 69 torcidas organizadas brasileiras. Torcidas que se confrontam rotineiramente, como as do Palmeiras e Corinthians, ficaram do mesmo lado em um momento histórico para o futebol nacional.

Haddad no início da campanha — Ricardo Stuckert

A primeira a se posicionar — e quiçá a mais politizada do Brasil- foi a corinthiana, Gaviões da Fiel. Gaviões, que não esqueceram o “povão”; aqueles que os constituem, liderou o movimento na luta em pró da democracia afirmando que “É importante deixar claro a incoerência que há em um Gavião apoiar um candidato que, não apenas é favorável à Ditadura Militar pelo qual nascemos nos opondo, mas ainda elogia e homenageia publicamente torturadores que facilmente poderiam ter sido os algozes de nossos fundadores.”

Vale lembrar que os Gaviões da Fiel nasceram em 1969, nos últimos meses da presidência de Costa e Silva, o primeiro presidente da ditatura militar, mais precisamente no período histórico brasileiro conhecido como “linha-dura; momento marcado pela repressão estudantil, assassinatos e desaparecimentos.

Em meio ao caos social vivido, o clube de futebol mais popular do Brasil vivia a sua própria crise, 15 anos sem levantar se quer uma taça e uma ditadura própria- o nome do ditador: Wadih Helu. Homem que estivera no poder do clube por mais de uma década e tinha autonomia para fazer o que quisesse dentro do instituição. Flavio La Selva, fundador dos Gaviões, cria então a primeira torcida organizada do Brasil para lutar contra um ditador, uma ditadura; para batalhar contra tudo aquilo que 45% dos brasileiros, que votou em Haddad, tentou nas últimas eleições.

Depois dos Gaviões; Torcida Jovem, do Santos; P16 do Palmeiras; Nação 12, do Flamengo e torcidas de pequenos clubes, como a Falange Grená, do Caixas do Sul e Guerreiros da Nação Galista, do Independente de Limeira, ergueram as bandeiras democráticas contra Jair Bolsonaro, movimento que ficou conhecido como “Torcidas pela democracia”.

“É preciso vir a público para manifestarmos e defendermos o ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO que conquistamos ao longo dos anos em que vivemos sob um regime militar. . É preciso definir que tipo de sociedade que queremos ser! E nós queremos a democracia “, afirmam as torcidas.

As organizadas nasceram para lutar pelo seu espaço, para abdicar do sistema imposto. Infelizmente, como diz o presidente da palmeirense Porcomunas, “ É triste ver. Esperava que houvesse mais torcidas.”

Entretanto, a luta é valida e é coerente com o futebol, que sempre foi um instrumento político, que as torcidas se unam e que mais outras participem. Para que o futebol brasileiro não se torne um instrumento ditatorial, como foi na Argentina, que pelo menos este desgosto, os fãs do esporte mais popular do Brasil tenham que passar.

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