Democrática e ousada, revista impressa em papel de jornal quer desafiar convenções

A inglesa Top Corner tem formato de tabloide, custo baixo, e buscou inspiração em publicações fora do mundo do futebol

Bruno Rodrigues
Futebol Café
4 min readMay 23, 2017

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Capa da primeira edição da Top Corner (Crédito: Behance/Adam Sharratt)

O jornal em formato de tabloide é como uma versão jornalística da cabine vermelha de telefone ou do chá das cinco, isto é, algo totalmente enraizado na cultura dos ingleses quando o assunto é a leitura dos diários. O que não está enraizado por lá e nem em qualquer outro lugar do mundo é ver uma revista de futebol impressa em papel de jornal, disposta justamente no formato de tabloide. Pois foi dessa forma que a Top Corner Magazine resolveu entrar no mercado editorial, procurando trazer um jornalismo esportivo diferente na forma e no visual, mas também no conteúdo de suas edições.

“Pensamos que poderíamos preencher uma brecha no mercado onde haveria uma cobertura de futebol que fosse pautada no irreverente e não levasse a si mesmo muito a sério, assim como misturar isso com um design divertido”, diz o diretor criativo Adam Sharratt, em entrevista ao Futebol Café. Mas se trata de uma revista ou de um jornal? “Eu diria que é uma revista impressa em jornal. Com o percebido declínio da mídia impressa e a democratização da mídia, os termos ‘revista’, ‘jornal’ e ‘zine’ estão começando a ficar intercambiáveis”, responde o responsável pela arte da Top Corner.

A decisão por rodar o projeto em papel de jornal responde a um princípio muito claro: o custo baixo tanto da produção como do produto final. A revista é vendida a 4 libras, um valor acessível se tratando de uma publicação impressa de futebol. “O papel de jornal é um material utilitário, é para todo mundo”, diz Sharratt. Quem cuida da logística de impressão, venda e entrega de cada exemplar é a empresa Newspaper Club, livrando a equipe de preocupações com esses processos e permitindo a eles que foquem suas energias somente em criar. Por “eles” é bom deixar claro que se trata de uma operação de apenas duas pessoas. Além de Adam Sharratt, há o editor-chefe Elliott Sheaf.

Cada edição lançada até aqui tem somente 12 páginas, um número que pretendem aumentar. Mas isso acarretaria em um aumento também dos custos de produção da revista. Para que esse crescimento em termos de páginas seja possível, a Top Corner precisa de uma base maior de leitores para que assim possam antecipar a demanda de exemplares para cada edição. Caso contrário, como explicam, correriam o risco de diminuir a qualidade ao simplesmente empurrar mais páginas goela abaixo dos consumidores.

Existe, contudo, um benefício em publicar como um tabloide que está intimamente ligado ao projeto gráfico, provavelmente o grande destaque da publicação. “A impressão em um formato maior que uma revista tradicional significa que o design pode ser super ousado”, afirma o diretor criativo. Por toda a revista é possível detectar símbolos futebolísticos que adornam as páginas e criam associações imediatas com seus significados: linhas do campo, cartões amarelo e vermelho, números clássicos de uniformes dos anos 90, etc. “Sua composição tipográfica consiste de uma face geométrica chamada ‘Circular’, imagens (são feitas com a técnica) halftone e padrões circulares são usados para textura nos gráficos”, completa Sharratt.

Matéria da primeira edição sobre a Copa do Mundo do Catar, que acontecerá em 2022 (Crédito: Behance/Adam Sharratt)
Capa da segunda edição, sobre ‘corações partidos’, e infográfico sobre Frank Lampard e Steven Gerrard (Behance/Adam Sharratt)

Curiosamente, a inspiração para a Top Corner não veio de veículos do universo do futebol. Os caminhos para a elaboração (principalmente) do conceito visual vieram de revistas como a Bloomberg Businessweek e a The New York Times Magazine, além de designers do gosto da dupla.

Na capa das duas primeiras edições e também em seu site, a publicação estampa uma espécie de missão do veículo, que diz: “um olhar alternativo sobre o saturado mundo do futebol”. Quando pergunto a Adam Sharratt a respeito do que a mensagem representa na abordagem da Top Corner, o diretor criativo confessa não saber se há uma resposta pronta para isso. “Mas seremos verdadeiros com nós mesmos, os mais originais possíveis e desafiaremos as convenções sempre que houver a possibilidade”, afirma ele.

Desafiar convenções é o que esses ingleses já estão fazendo. Afinal, trata-se de uma revista impressa como jornal e com visual de tabloide. Além de ser também barata, um desafio quando pensamos em um projeto no papel com qualidade gráfica como o que a Top Corner se propõe a fazer.

Se conseguirão entrar no gosto do fã de futebol inglês, não sabemos. Mas vale lembrar: o chá das cinco era português.

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