Universidades Públicas Sem Aula: É uma boa Ideia?

Espanta o silêncio de educadores, alunos e autoridades competentes do ensino superior a respeito de alternativas ao ensino presencial

Deborah Bizarria
Futilidade Marginal
3 min readApr 13, 2020

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Em meio a pandemia e com todas aulas presenciais suspensas por um período indeterminado, seria de se esperar que a discussão sobre adoção de modalidades de Ensino a Distância (EaD) fosse ganhar força. Contudo, não é isto que estamos vendo.

Por se tratar de uma atividade não essencial, é até natural que o ensino fique um pouco de lado nas discussões públicas. É compreensível, afinal, temos milhões de pessoas sem qualquer fonte de renda, empresas quebrando e hospitais sobrecarregados. Embora em algumas localidades a modalidade Ead esteja sendo aplicada no ensino fundamental e médio, gostaria de tratar aqui apenas sobre o ensino superior. Espanta o silêncio de educadores, alunos e autoridades competentes do ensino superior a respeito de alternativas ao ensino presencial em um momento como esse.

Enquanto faculdades particulares aceleraram a adoção a fim de manterem os serviços e a mensalidades, a maioria das universidades públicas não só não se esforçaram a viabilizar o ensino a distância bem como suspenderam as atividades que já eram realizadas nesses moldes. A justificativa dessas últimas é de que a maioria dos alunos não teria acesso a recursos que lhes permitissem acessar as aulas virtuais e, ao mesmo tempo, que os professores e as universidades não têm a capacidade de ofertar o conteúdo online com as mesma qualidade que de forma presencial.

Ainda que muitos universitários de fato não tenham acesso aos recursos necessários não seria razovel que as universidades ao menos se dedicassem a encontrar soluções? Ora, governos como os de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro prosseguiram com conteúdos disponibilizados de forma online mesmo para o ensino fundamental e médio. Sabendo que nem todos os alunos tem acesso a internet, houve fornecimento de dados móveis ás familias, envio de material pelo correio e desenvolvimento de aplicativos. As iniciativas foram muitas e as universidades públicas, onde deveria haver a vanguarda da tecnologia e da inovação não promoveram discussões nessa direção.

Mas digamos que nenhuma iniciativa desse tipo fosse viável nas universidades, será que faz sentido travar o semestre para todos os alunos? Ainda que muitos não tenham acesso ao conteúdo a distância, estes não ganham nada com o travamento do semestre para todos. Aliás, ao permitir que os alunos com bom acesso a internet sigam com as aulas, desde que sem prejuizo de faltas ou reprovações aos que não pudessem acessá-las, teríamos menos recursos direcionados aos mais ricos e menos pessoas sobrecarregando os professores no retorno presencial das aulas.

A resposta foi rápida demais para que uma análise profunda e honesta da situação, cheira a comodismo e um pouco de preconceito com modalidades a distância. E convenhamos, não é como se materiais virtuais ou mesmo aulas propriamente ditas já não fizessem parte da vida dos universitários.

Mesmo sendo uma aluna que adora assistir aula, em várias matérias era impossível contar apenas com a aula prensencial e o material de leitura. Mesmo estudando num bom curso de Economia, todo calouro recebia uma dica quente para se dar bem nos estudos: devíamos nos inscrever no canal de youtube chamado o Matemático, era ali que íamos aprender cálculo ‘de verdade’. As dicas não se limitavam a professores que davam aulas no Youtube, plataformas como Passei Direto compõe os sites favoritos dos universitários.

Parece-me um contrassenso que as mesmas pessoas que pregam que a educação deveria ser mais democrática e mais centrada no contexto do aluno rejeitem tão prontamente a adoção de novas tecnologias com o desculpa de que ‘não é viável’. Prefeitos e Governadores acharam soluções tecnológicas para as crianças em jovens e vário lugares do Brasil, mas as universidades sequer se deram o trabalho de ir atrás delas.

Hoje há milhares de alunos que iriam se formar em breve, ganhando qualificação e liberando verbas públicas que terão de esperar não se sabe até quando para seguirem com suas vidas. Enquanto isso, as universidades públicas decidiram que não vale debater o problema. Irônico não?

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