Breaking news não é tão ao vivo assim!

Inovação em Jornalismo
Futuro do Jornalismo
5 min readNov 9, 2016

O tempo real invade as redações, altera a qualidade na apuração e o preparo profissional do jornalista na era digital

Cleber Stevani

Atenção, 3, 2, 1… vai! A tensão do repórter em fazer uma entrada, ao vivo, no telejornal está presente em todas as edições, seja regional, nacional ou internacional.

A preocupação atinge tantos os repórteres focas, iniciantes, quantos os mais experientes. O jornalista que trabalha com imagens, seja em televisão, na web ou nas redes sociais, pelo menos uma vez na carreira, já precisou fazer uma entrada ao vivo com os mais variados temas. Assunto é o que não falta: o desenrolar dos acontecimentos da política no país, boletim de trânsito, divulgação de dados econômicos, entrevista com artista ou a escalação do clássico regional, direto do campo de futebol, com milhares de pessoas a sua volta. Para os jornalistas, a grande emoção do “ao vivo” é o friozinho na barriga, porque não há possibilidade de edição.

Os sites na internet, televisão, rádio e, principalmente, as redes sociais trazem uma quantidade imensa de informações. A enxurrada de notícias é simplesmente despejada sobre o usuário. Lenira Alcure (2010) conta que a todo instante somos bombardeados pelo noticiário da TV, pelas postagens de imagens e áudios em blogs, sites da internet e até mesmo por torpedos e vídeos que nos chegam pelos celulares.

A essência do jornalismo não deve ser deixada de lado, independentemente da avalanche de notícias e acontecimentos publicados na internet, divulgadas pelas emissoras de rádio e televisão. Alcure (2010) defende que a profissão de jornalista tem a premissa básica, que deve ser desempenhada no momento do fato, da apuração, verificação e edição dos dados.

O texto falado com tanta desenvoltura por um repórter de TV normalmente é escrito, antes de ir ao ar. O repórter decora ou memoriza o que escreveu e repassa várias vezes o que vai falar diante da câmera. Portanto, os fatos foram apurados, os dados tiveram uma verificação prévia e o texto final foi aprovado. Independentemente do veículo de comunicação, rádio, TV ou mobile, a preparação do repórter para a entrada ao vivo é fundamental. Alcure (2010) comenta que há pouco espaço para improvisação. O texto a ser falado para câmera de vídeo ou smartphone é elaborado com antecedência.

O rádio e a TV surgiram de forma ao vivo, as transmissões eram feitas em tempo real. Não havia equipamentos que gravavam o conteúdo, o que só foi possível anos mais tarde, com a evolução dos recursos tecnológicos.

A velocidade da internet, as publicações nas redes sociais e as atualizações constantes das informações, de minuto a minuto, praticamente colocam em xeque o que foi dito instantes atrás. Na atualidade, o profissional das notícias precisa conseguir unir todas as formas e meios possíveis nos quais se pratica o jornalismo para ter eficiência e credibilidade na publicação da notícia.

Quando falamos de jornalismo ao vivo, figura em nossa imaginação aquela imensa parafernália das equipes de televisão. Não queremos abordar somente os telejornais, mas também o jornalismo praticado na internet, e ampliado pelos aplicativos nos smartphones. A internet proporciona aos jornalistas ferramentas que trazem a mesma proposta da transmissão ao vivo na televisão.

O jornalismo móvel tem impacto direto sobre o breaking news. A respeito do smartphone, o repórter consegue uma atualização imediata da notícia.

Desde dezembro de 2015, o Facebook disponibiliza ao internauta a função live que permite fazer vídeos ao vivo para serem publicados na linha do tempo. A estratégia é utilizada por muitos veículos de comunicação como recurso para propagar informações relacionadas à determinadas atrações. A rádio paulistana Band News FM utiliza essa ferramenta do Facebook para engajar seus seguidores da rede social com a programação da rádio. O programa vespertino Alta Frequência faz, diariamente, uma chamada ao vivo no Facebook com a apresentadora Tatiana Vasconcelos, com objetivo de informar sobre os entrevistados e os principais assuntos debatidos. Portanto, é uma forma de atrair o internauta nas redes sociais para acompanhar determinada programação tanto nas mídias tradicionais como nas digitais.

Esta prática no jornalismo traz uma sensação de possibilidade de acesso direto à informação em tempo real por um público global e ininterruptamente conectado. Sylvia Moretzsohn (2002) alerta para o problema da falta de uma apuração mais efetiva e a divulgação de informações sem verificação.

Haverá público interessado num conteúdo com informações imprecisas e mal apuradas? Mesmo com as críticas cada vez mais frequentes e consistentes ao trabalho da imprensa, a resposta parece sugerir que sim. Moretzsohn (2002) indaga se antes de mais nada, esse jornalismo serve àquilo que se propõe, ou seja, fornecer as informações indispensáveis para a formação de cidadãos.

No âmbito dos aplicativos de vídeos móveis, o Snapchat é a mais nova sensação do público jovem, os chamados Millennials, faixa etária dos 12 aos 24 anos. Antenada com o mercado norte-americano, a grande mídia faz uso do aplicativo no jornalismo. O jornal New York Times já criou um perfil no Snapchat (nytimes), onde divulga diariamente vários vídeos. Os repórteres que se utilizam do aplicativo usam a mesma dinâmica e linguagem da televisão: simples, direta e objetiva.

No Brasil, até o momento, o único veículo de imprensa hardnews que utiliza o Snapchat com frequência é o site UOL. O perfil UOLoficial foi lançado em 2015 e completou um ano de atividade em agosto de 2016. Para estrear na plataforma de vídeo, a equipe de redatores e repórteres da editoria de Novas Mídias fez diversos testes de linguagens e adaptação para fazer os “snaps”. A iniciativa partiu da jornalista Denise Perotti, que argumenta: “A percepção desse nicho se deu porque o público jovem não quer apenas informação, mas também conteúdo leve, descontraído e humorado”. No futuro é esse público que irá consumir notícias e é preciso criar valores que fortaleçam a prática do jornalismo de qualidade, que vá de encontro com as necessidades desta nova audiência.

Referências

ALCURE, Lenira. Telejornalismo em 12 lições: televisão, vídeo, internet. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2010.

BRUNS, Axel. Tempo real acelera o ciclo das notícias. Brazilian Journalism Research, v. 7, n. 2, 2011.

MORETZSOHN, Sylvia. Jornalismo em “tempo real”: O fetiche da velocidade. Rio de Janeiro: Revan, 2002.

PATERNOSTRO, Vera Iris. O texto na TV: manual de telejornalismo. Rio de Janeiro: Elsever, 2006.

Cleber Stevani é jornalista e radialista. Trabalha como editor e diretor de TV do curso de jornalismo da ESPM-SP e é professor da faculdade Anhanguera. É aluno do curso de Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mercado da ESPM-SP. Foi ganhador de dois prêmios de telejornalismo.

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Projetos desenvolvidos na disciplina “Inovação, Tecnologia e Sociedade” do Mestrado Profissional em Produção Jornalística da ESPM-SP