Jornalismo e mobilidade: como as empresas jornalísticas usam aplicativos para cobertura de eventos especiais?

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Futuro do Jornalismo
6 min readNov 9, 2016

A mobilidade modificou o modo de fazer jornalismo. A tecnologia proporcionou aos profissionais de comunicação novas ferramentas que reestruturam a forma de produzir e distribuir a informação

Mariana Benvenido

A mobilidade pode ser definida como tudo o que é capaz de se movimentar. No caso do jornalismo, é a utilização de mídias portáteis, que acompanham o leitor por onde ele estiver, para a divulgação da informação. Fernando Firmino da Silva (2013) explica que o jornalismo móvel se configura pela atuação das tecnologias por meio das redes digitais móveis. João Canavilhas e Douglas Santana (2011) compreendem que a mídia móvel apresenta características próprias que trazem vantagens dos outros meios. Elas são portáteis, podem ficar ligadas o tempo todo, possuem um sistema de pagamento integrado e permitem a identificação precisa das audiências. Essas características potencializam a difusão de conteúdos jornalísticos.

A mobilidade alterou o modo de se fazer jornalismo. As novas tecnologias trouxeram outras ferramentas para os profissionais da área de comunicação que reestruturam a forma de distribuir a informação. Fernando Firmino da Silva (2013) explica que os dispositivos móveis alteraram as redações e proporcionaram novos formatos para o jornalismo. A internet foi responsável por grande parte dessas mudanças, especialmente com a introdução das plataformas móveis.

O jornalismo migrou para fora das telas dos computadores, chegando aos aparelhos celulares e tablets. Graciela Natansohn e Rodrigo Cunha (2013) explicam que a convergência no jornalismo foi responsável por toda essa reestruturação, permitindo a produção e distribuição do material jornalístico para várias plataformas e suportes. Os autores enfatizam que tais dispositivos têm atraído a atenção das organizações jornalísticas, uma vez que elas querem ter seus produtos acessíveis em várias formatos e meios.

O marketing dentro das organizações de mídia incentiva o uso dos dispositivos móveis. Essa área da organização quer promover a presença de marca dos produtos jornalísticos em todos os meios e isso facilita o investimento em aplicativos. O argumento do marketing está na existência de um público-alvo interessante de ser atingido e que pode consumir a informação sem a necessidade do meio impresso. Natansohn e Cunha afirmam que a popularização da telefonia móvel e o aumento do uso dos aparelhos de celular foram fatores determinantes para que as revistas, por exemplo, começassem a explorar esse nicho. As publicações impressas perceberam que cada vez mais, as pessoas estão utilizando os dispositivos móveis.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, divulgada em abril de 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que 80% dos brasileiros acessam a internet por meio do smartphone. Segundo os dados da pesquisa pela primeira vez o uso de celulares para acessar a internet ultrapassou o uso dos computadores, o que representa 76% dos acessos. O número de pessoas que utilizam desktops para entrar na internet aumentou 155,6% de 2013 para 2014, chegando a 8,6 milhões de brasileiros.

O estudo aponta que em 2013, os computadores eram utilizados em 42,4% das conexões dos brasileiros, enquanto os smartphones viabilizavam apenas 11,5% dos acessos. De 2013 para 2014, o acesso à web pelo computador caiu 88,4%. Já o acesso por meio de tablets saltou de 21,9% em 2013 para 76,8% em 2014.

Para João Canavilhas (2011), o jornalismo está se apropriando das plataformas móveis tanto para a produção como para a divulgação do conteúdo. O autor aponta que as pessoas têm um grande interesse pela comunicação móvel, especialmente pelos smartphones e tablets. Tais ferramentas são alternativas de entretenimento e informação para os usuários. Os aplicativos representam uma forma de os jornalistas segmentarem a informação, configurando-se em uma plataforma com alto potencial de crescimento.

Nas eleições de 2016, o UOL criou o aplicativo UOL Eleições 2016 com as principais notícias, pesquisas e apuração dos votos. Disponível para iPhone e Android, o aplicativo apresentava informações com textos, vídeos e fotos. Também disponibilizava a lista dos candidatos dos municípios do Brasil e pesquisas de intenção de voto.

Aplicativo UOL — Eleições- 2016

Essa não foi a primeira vez que o UOL desenvolveu um aplicativo específico para o seu público. Nas Olimpíadas de 2016, a empresa lançou um app com a cobertura dos Jogos. Com isso, o UOL conseguiu atrair mais público para sua plataforma a partir da cobertura de acontecimentos de um determinado evento, que tinha transmissão exclusiva de uma outra empresa de mídia, no caso a Rede Globo.

Aplicativo UOL Olimpíadas — 2016
Aplicativo O Globo Carnaval — 2016

No Carnaval de 2016, o jornal O Globo lançou um aplicativo para se aproximar dos leitores. O app apresentava serviços com a agenda dos principais blocos de rua de São Paulo e do Rio de Janeiro, além de notícias sobre o Carnaval. O usuário também conseguia ver a ordem dos desfiles da Sapucaí e acompanhar a apuração das escolas de samba.

Esse formato de aplicativo que mescla notícias, serviços e entretenimento possibilita uma maior interação dos leitores e um engajamento com a marca. Para o modelo de negócio é extremamente vantajoso, uma vez que as empresas podem lucrar com esses aplicativos por meio de parcerias com os anunciantes. Direcionado a um público específico, o app fez uma parceria com a Riotur e foi considerado o aplicativo oficial do Carnaval carioca. Uma vez que os leitores se conectam com o login do Facebook, o app sabe exatamente quem está utilizando, quais são seus hábitos e o que fazem, trazendo informações de target que são importantes para a empresa.

As empresas de mídia estão apostando na criação de aplicativos para realizar coberturas de eventos especiais. Essas organizações aproveitam a oportunidade de um acontecimento relevante para o público para desenvolver o aplicativo com o objetivo de conseguir audiência por outras plataformas. Mesmo nas empresas digitais, como o UOL, a inserção de apps em datas relevantes aumenta o número de usuários e faz com que os leitores consumam a informação dentro do próprio aplicativo.

A estratégia de utilizar o jornalismo móvel como mais um canal de divulgação de notícias é um recurso que pode ser vantajoso para as empresas jornalísticas.

Referências

CANAVILHAS, João; SANTANA, Douglas. O jornalismo para plataformas móveis de 2008 a 2011. Revista Líbero. São Paulo, v. 14, n. 28, 2011.

CANAVILHAS (org). Notícia e Mobilidade: O jornalismo na era dos dispositivos móveis. Covilha (PT)/ Universidade da Beira do Interior (UBI): Livros LabCom, 2013.

FIRMINO DA SILVA, Fernando. Jornalismo móvel digital: uso das tecnologias móveis digitais e reconfiguração das rotinas de produção da reportagem de campo. Tese (Doutorado Comunicação). Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas, 2013.

NATANSOHN, G; CUNHA, R. O jornalismo de revista no cenário da mobilidade. In: NATANSOHN, Graciela. (Org). Jornalismo de revista em redes digitais. Salvador: EDUFBA, 2013.

NATANSOHN, Graciela. (Org). Jornalismo de revista em redes digitais. Salvador: EDUFBA, 2013.

Mariana Benvenido é jornalista graduada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (2015). Atualmente, é mestranda do Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mercado (MPPJM) da ESPM, na linha de pesquisa Lógicas e Modelos de Gestão em Jornalismo.

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Projetos desenvolvidos na disciplina “Inovação, Tecnologia e Sociedade” do Mestrado Profissional em Produção Jornalística da ESPM-SP