Design e valores humanos: um resumo
Em tempos de mudanças é importante pensarmos em como reconhecemos e desenvolvemos nossos pensamentos e ações baseados em valores. Valores são como pequenas escolhas subjetivas: guiam e estão sempre conosco, e muitas vezes não percebemos. Gouveia (2003) menciona que valores podem ser separados em valores básicos e motivacionais. Por exemplo, há valores ligados à sobrevivência e outros que guiam nossas ações que terão um impacto na sociedade (e.g. ser voluntário, ajudar o próximo, etc.). Valores estão imersos no nosso dia-a-dia. Torres e Allen (2009) mostram por exemplo que nossos valores, inclusive culturais, influenciam nosso comportamento sustentável. E claro, valores estão também imersos no que produzimos. Isto inclui a atividade de Design (seja criar um produto, planejar uma aula, etc.).
Para isto, vamos falar um pouco sobre designers que procuram promover uma reflexão em torno da atividade do design. Um deles é Victor Papanek, designer e educador que defendia o design social e ecologicamente correto. Papanek teve a oportunidade de trabalhar com a Unesco e teve contato com diversos grupos, com diferentes necessidades e problemas. Uma das grandes questões que ele trazia era o questionamento da necessidade do conhecimento da necessidade do outro. Como designers, precisamos entender que o que produzimos terá um impacto na sociedade. E isto também deve ser aplicado quando o educador e professor desenvolve uma atividade usando uma tecnologia específica. Tudo está entrelaçado. Outro Designer e pensador, Carl DiSalvo, defende que a tecnologia também possui valores e que o design pode utilizar a tecnologia para promover ações políticas e questionamentos críticos. A grande questão é começar o nosso questionamento sobre o que são “valores”.
Definindo valores
Hunter Lewis, escritor e autor do best-seller A Question of Values (publicado em 1990), menciona que temos pelo menos 6 maneiras de tomar decisões baseadas em nossos valores pessoais (leia aqui uma revisão do livro). Embora o livro não tenha foco em Design especificamente, é possível tirar algumas conclusões. Por exemplo, Hunter menciona que nossos valores são de certa forma “escolhas”. E essas escolhas podem ser baseadas a partir da nossa experiência, lógica, emoção, intuição, autoridade e ciência. Para Schwartz, pesquisador em valores humanos, valores são como “crenças” e as pessoas tendem a considerar seus valores quando tomam decisões. Sendo assim, valores estão incorporados em todas as nossas ações e às vezes de maneira subjetiva.
Valores na tecnologia, design e educação
A tecnologia também tem seus valores. Por exemplo, valores de design relacionados à tecnologia giram em torno da transparência, privacidade, segurança, justiça e dignidade. Isso é bem evidente quando trabalhamos com dados pessoais na Internet por exemplo. Ou quando trabalhamos com mídias sociais e o comportamento das pessoas no mundo online. O Value Sensitive Design (VSD) é um dos métodos conhecidos na área. Isso é porque a tecnologia faz parte do nosso dia-a-dia e muitas vezes acabamos dependentes dela. É uma forma de questionar e entender o que construímos para a sociedade. Além do VSD, há também o Values in Design (VID), que busca quase a mesma reflexão. Neste caso, há o acréscimo de respeito, compaixão e ações sem preconceito. Por exemplo, há discussões sobre valores dentro de jogos e por aí vai.
Valores na educação estão sempre presentes. Há claro a educação dos valores, mas também a maneira como conduzimos nossas aulas e atividades. Por exemplo, é possível que na educação moderna tenhamos pelo menos 7 valores fundamentais como a capacidade de adaptação, honestidade, criatividade, empreendedorismo, trabalho em equipe e independência. No seu trabalho, você também possui seus valores e se não for, os valores da empresa. Veja bem, a Google tem seus valores como democracia, foco no usuário etc. A IDEO também possui seus valores, como “seja otimista” e “colaboração”.
Como você constrói seus valores?
Uma das questões é como construímos nossos valores e como estes valores influenciam o que produzimos no nosso dia-a-dia. Em tempos de mudança, fake news, informação, big data, é possível que não haja muito questionamento crítico. O que acontece é que às vezes ficamos desconectados e às vezes há pouco questionamento sobre isso. Por exemplo, acreditamos em todos estes valores devido a modelos mentais que podem ser guiados pelo nossos sentidos (e.g. acredito em algo porque eu consigo ver), lógica, emoção, intuição, autoridade ou ciência (Hunter 1990). Enfim, questionar como construímos nossos valores é fundamental para pensar a aplicação da tecnologia na educação ou em qualquer contexto. Isso acontece pois o fato de aplicar a tecnologia como atividades em sala de aula ou fora dela, por exemplo, é uma atividade de design. E é neste momento em que devemos pensar: qual a influência dessa tecnologia e quais os valores que estão embutidos na tecnologia (seja um objeto, um jogo, um sistema, etc.).
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Perguntas para reflexão:
1- Você consegue visualizar quais os valores embutidos em cada processo de design? (Veja os vídeos abaixo)
2- Quais são seus valores e como você incorpora eles no seu dia-a-dia?
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Leitura extra e referências:
https://weatherhead.case.edu/faculty/Richard-Buchanan
https://www.mitpressjournals.org/loi/desi
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01619566109537030?journalCode=hpje20
https://en.wikipedia.org/wiki/Learning_theory_(education)
https://www.nytimes.com/2011/05/16/arts/16iht-design16.html
https://www.design-museum.de/en/exhibitions/detailpages/victor-papanek-the-politics-of-design.html
http://www.nyu.edu/projects/nissenbaum/vid/about.html
https://www.vam.ac.uk/blog/design-and-society
https://www.youtube.com/watch?v=uSFHOanC0GA
https://www.vam.ac.uk/blog/design-and-society
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-69712009000300008&lng=pt&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-294X2003000300010&script=sci_abstract&tlng=es
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Este artigo é parte do material do curso Tecnologia na Educação: futurologias, imaginação & interfaces; desenvolvido pela Prof. Vanissa Wanick para o Colégio Pedro II em 2018–2019.
