Eu, New Beatle

Glenda Mörking Kruk
Futuros de Curitiba
4 min readOct 20, 2016
Eu com meu dono menor

Post 1 (17/05/1970):

Há poucos dias eu nasci, e ando aprendendo um pouco sobre como as coisas funcionam. Sei que estou na cidade de Curitiba, o ano é de 197X, e a família de humanos que me adotou sempre me tratou muito bem!

Quando eu ainda estava entre meus irmãos, me disseram que sou de uma geração de revolucionários! Falaram que eu seria uma inovação para os seres humanos. Eu apenas sei que meus antepassados chamam a mim e a meus irmãos de New Beatle.

Da família que me adotou sempre escuto muitas histórias, de como meus antepassados não eram tão práticos e seguros quanto eu. Admito que as vezes me sinto orgulhoso, mas as vezes mau. Não que minha nova família esteja julgando-os, mas não quero pensar como se os que vieram antes de mim fossem menos do que eu sou.

Uma das coisas que aconteceram comigo recentemente me deixaram um tanto quanto perplexo. De vários conhecidos ouvi que somente os humanos adultos poderiam me utilizar, sendo que os menores apenas poderiam seguir viajem junto sem controlar-me. Porém, a minha família deixa a criança me dirigir… Eu fico pensando se é essa a questão revolucionária de que me falaram anteriormente?

Post 2 (02/06/1970):

Meus dias com minha família são bons. Eles sempre me tratam muito bem… Eu acho que já falei isso, hahaha!

Todos os domingos eles me dão um banho muito bem dado! É como se o momento de me lavar fosse um ritual para eles, uma festa! Eles se divertem muito, ainda mais quando o tempo está bom. Água voa de um lado para o outro, as esponjas com sabão, quanto não acertam uns aos outros, vem em minha direção. Eles dão risada de ficar guerreando com esses utensílios, que primariamente seriam para me dar banho.

Depois de limpinho eles sempre me colocam para dormir no lugar de sempre, esse lugar eles chamam de garagem. Alias, é na garagem que eu durmo todos os dias… e eu tenho que falar, eles deveriam limpá-la mais vezes. De vez em quando me pego pensando “De que serve me dar banho se vou me sujar todo na garagem depois?”, mas essa deve ser uma das muitas coisas que ainda preciso aprender desse mundo.

Não só por fora, meus humanos também me higienizam por dentro! Tiram todo o pó, limpam meus tapetes… É muito satisfatório ver como eles se importam comigo.

Eu possuo um lugar dentro de mim que os humanos chamam “porta-luvas”. Muitas coisas deles são guardadas ali! Varias das quais eles se esquecem! Por diversas vezes meus humanos vinham aborrecidos, por darem falta de algo. Quando abriam o porta-luvas e encontravam o que haviam perdido, saiam espalhando pra todo mundo onde aquilo estava.

Uma dessas coisas que é guardada dentro de mim tem um nome engraçado, monóculo! Me parece que os humanos o adoram! Falando em monóculo…

Post 3 (03/06/1970):

O monóculo… sim. Há várias situações que envolvem ele, mas uma delas me chamou mais a atenção, até porque, meus humanos dizem que é por causa dela que eles me adquiriram.

Acredito que a história era mais ou menos assim: Meu dono menor, filho dos meus humanos, tem 8 anos. Ele ia e voltava da sua escola sozinho, até porque ela fica perto da sua casa. Ele também sempre saía para brincar com seus amigos despreocupado, pois o bairro é seguro e tranquilo.

Porém, um dia ele começou a ser seguido por uma moça, com mais ou menos a idade de sua mãe. Isso se repetiu por dias, ela tirava fotos dele com seu monóculo… eu não sabia que algo tão inofensivo e divertido como tirar fotos poderia ser usado contra alguém de forma nociva.

Um dia ele teve coragem de relatar os fatos para seus pais. Isso aconteceu mais ou menos na mesma época em que eu e meus irmãos fomos feitos. Nós somos práticos, e não precisamos ser dirigidos apenas por adultos, crianças também podem nos manobrar, o que foi perfeito para a situação. Meu dono poderia me dirigir para sua escola e de volta para sua casa sem se preocupar em ser seguido por aquela doida. Ele também pode levar seus amigos ao parque ou até a sorveteria!

Eu me divirto muito com meus donos!

Post 4 (06/06/1970):

Se o problema da moça perseguidora foi completamente resolvido? Não… infelizmente. Além de me comprarem para que o menino pudesse evitar a mulher, os pais dele foram à polícia prestar queixa da situação. E bem que fizeram. Não é nada agradável ser seguido e ter pessoas estranhas tirando fotos de você sem que elas tenham permissão para tal.

Como eu sei de tudo isso? Bem, meus humanos se sentem muito a vontade a minha volta. Perto de mim eles falam sobre qualquer coisa. Além disso, fui eu quem os levou até a delegacia prestar essa queixa.

O que eu gostaria mesmo de fazer seria passar por cima dessa mulher atrevida. Porém, eu não quero descer ao nível opressivo dela. Vamos seguindo as leis, e eu sei que ela pagará por todo o transtorno que ela causou ao meu dono.

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