Braços Dados: uma rede de confiança em forma de aplicativo
Caminhar pelas ruas ou utilizar o transporte público sem ter que lidar com assédios frequentes e outros tipos de violência deveria ser direito de toda mulher, mas nas cidades brasileiras a percepção delas é de que o pior pode acontecer a qualquer momento. Alguns dados evidenciam que as mulheres simplesmente não se sentem livres para ir e vir, mesmo sendo maioria entre pedestres e usuários do transporte público. Um levantamento da Ong ActionAid realizado com 503 entrevistadas de quatro capitais brasileiras mostra que o medo de assédio foi motivo para que 86% delas alterassem sua rotina de alguma forma, ou mesmo desistissem de sair de casa.
Se o espaço público ainda se apresenta tão hostil às mulheres e elas seguem à margem das políticas públicas, como a sensação de risco pode ser diminuída no cotidiano?
Contar com uma rede de confiança sempre alerta pode ser uma forma de se resguardar em situações de insegurança e este foi o ponto de partida para que a Gênero e Número desenvolvesse o aplicativo Braços Dados, que a partir de hoje está disponível gratuitamente na Google Play, para dispositivos Android.
O Braços Dados oferece às usuárias a possibilidade de cadastrar até cinco contatos que podem ser acionados rapidamente, com um clique, caso ela sinta necessidade de deixar sua rede em alerta. Ao acionar o app, uma mensagem com a localização da usuária é enviada às pessoas previamente cadastradas, que podem oferecer ajuda. Inspirado em iniciativas semelhantes bem-sucedidas em outros países, o serviço é só uma das camadas do Braços Dados. O aplicativo pretende ainda mapear a percepção de risco das mulheres nas cidades brasileiras, preservando sempre o anonimato das usuárias. As análises realizadas a partir dos levantamentos vão ter por objetivo tanto qualificar o debate sobre o tema, como servir de base para a produção de conteúdo inédito a ser publicado na plataforma www.generonumero.media.
“Com o aplicativo, ao mesmo tempo em que as usuárias acionam uma rede para acompanhar se elas vão chegar bem ao seu destino, o registro desse momento de insegurança se torna um dado sobre a percepção da mulher no espaço público. As próprias usuárias podem dar mais detalhes da situação que as levou a recorrer à rede: atravessar uma rua erma, ir do ônibus à porta de casa em uma rua mal iluminada, estar em um vagão vazio com um desconhecido suspeito. A longo prazo, esse levantamento poderá subsidiar ações para tornar o espaço público mais amigável às mulheres”, afirma Natália Mazotte, diretora de Dados da Gênero e Número. Prestes a entrar em seu segundo ano de atuação como iniciativa independente de jornalismo, a Gênero e Número extrapola a produção da web revista para fortalecer sua proposta de colocar os dados a serviço da discussão sobre equidade, que segue urgente.
Saiba mais: bracosdados.generonumero.media