Forma + conteúdo na construção de diálogos mais abrangentes

Gênero e Número
Gênero e Número
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4 min readAug 31, 2017

Maria Lutterbach *

Como diminuir o abismo entre o campo ativista que se dedica ao debate de gênero e um público amplo da sociedade civil, mercado e governo, que precisa estar a par do tema? A gente acredita que oferecer conteúdo de excelência em formatos irresistíveis pode ser um caminho. Por isso, a vocação visual que o jornalismo de dados carrega foi encarada com muito entusiasmo desde as conversas iniciais que guiaram a construção da Gênero e Número, primeiro como projeto, depois como organização de mídia que entra agora em seu segundo ano.

Desenvolver uma identidade visual que pudesse balizar tudo aquilo que a gente sabia que poderia ser criado a partir dos dados foi uma tarefa inaugural das mais estimulantes. Com experimentos e busca por referências, aportamos na atmosfera de cores e formas que emprestam cara à GN hoje. É desse território, agora mais demarcado, que sai toda e qualquer peça da redação em direção aos leitores — e ainda que às vezes pareça insano passar uma hora discutindo o par de cores que vai carimbar uma edição, o conjunto da obra aponta que faz sentido.

Primeiros estudos para a identidade visual da Gênero e Número

[Este texto integra a série de 1 ano da GN. Leia outros aqui]

O trabalho alinhado entre as áreas editorial e de criação tem sido sempre o de olhar para os dados como possibilidades e entender como eles podem ser traduzidos em sua melhor forma, saindo das raias áridas das planilhas para ganhar vida em visualizações, vídeos e peças gráficas. Principal matéria-prima dos nossos conteúdos visuais, os números convertidos em imagem tornam mais visíveis as correlações e contextos explorados nas reportagens e abrem novas possibilidades para que o leitor atribua sentido ao conteúdo.

Visualização sobre a evolução da participação das mulheres nos Jogos Olímpicos

Exemplos de peças gráficas criadas para levar esses números mais longe, os Dados de Bolso e Dados da Semana são pensados para serem replicados nas redes. Ao colocar em destaque um dado relevante para o debate sobre gênero e direitos, funcionam como convite para que o leitor se aprofunde nos temas, por meio de outros conteúdos do site.

Dados de Bolso e Dados da Semana: peças compartilháveis, com vocação para as redes

O trabalho de pesquisa de imagens de arquivo tem sido central na criação dos vídeos da revista, que ora são produzidos como suporte para reportagens, ora como peças de campanha que divulgam as edições.

Também na produção audiovisual a identidade serve como guia, sem impedir que outros caminhos criativos achem espaço, como no vídeo Rua, substantivo masculino, todo feito a partir do traço da artista gráfica Tainá Ceccato. Com ilustrações de dados e de personalidades femininas sobre mapas de capitais brasileiras, a vídeorreportagem abordou a falta de representatividade das mulheres nos nomes de logradouros brasileiros, e contou com um sofisticado trabalho de dados, cujos detalhes podem ser lidos no texto da seção Código-Fonte daquela edição, sobre Gênero e Mobilidade.

Prova de que nunca é demais experimentar, o vídeo e as ilustrações de Tainá estão hoje circulando por outros países da América Latina como parte da exposição itinerante Data Art: arte basado en datos, que foi aberta em maio deste ano em El Salvador no Forocap (Foro Centroamericano de Periodismo), organizado pelo jornal digital El Faro. Em agosto, a exposição de visualizações offline chegou à Costa Rica, como parte da programação do AbreLatam. Não por acaso, uma das mesas do encontro sobre dados abertos em San José se dedicou a discutir a crescente convergência entre jornalismo de dados e arte.

Eis uma tendência que se alinha muito aos planos para essa segunda etapa da Gênero e Número. Sabemos que a missão de levantar, analisar e propagar dados sobre assimetrias caminha junto ao desafio de capturar a atenção do disputado leitor dos anos 10. Nesse jogo, a equação conteúdo + forma é uma aliada e um campo aberto para inventar.

  • *Maria Lutterbach é realizadora audiovisual e codiretora da Gênero e Número
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Iniciativa independente de jornalismo de dados com foco em gênero