A tão desejada solitude…

Gabriela Cecon
GabiCecon
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4 min readAug 4, 2020

Há um bom tempo atrás, esbarrei num texto por aqui com esta palavra, teoricamente, inventada. O texto falava sobre a diferença entre solidão e solitude.

Resumidamente, solidão é se sentir só, e solitude é estar só por opção, e tudo bem. Decidi adotar pra mim este conceito e reflito muito sobre.

Eu fui criada num ambiente cheio de gente. Família grande, que fazia tudo junto. Aquele clima acolhedor onde mesmo quando você treta com alguém, continua convivendo no mesmo ambiente, porque nunca se abre mão da convivência familiar.

Nunca consegui ter solitude quando mais nova. Precisava ter barulho em casa. Quando não tinha ninguém, ligava a TV, mesmo que fosse pra ela ficar falando sozinha. Quando iniciei minha vida amorosa, não me lembro de estar realmente solteira sem nenhum rolo… Sempre tinha alguém, e se não tinha, buscava desesperadamente. Hoje é muito mais fácil. Tem o Tinder ou outros aplicativos. E isto mostra como que a solitude está cada vez mais difícil de entrar no dicionário…

Depois que me divorciei há um ano e meio, entrei num looping de “rolos” infinitos. Posso dizer que não passei uma semana sequer sem ter um encontro. Me apaixonei, magoei, apaixonei, magoei… Que ciclo…

O medo de ficar sozinha foi tão grande que quando me apaixonei por uma pessoa, dei tudo de mim logo de cara. Não estava com meu coração cicatrizado ainda para tal feito. Ele não aguentaria o tranco. Se apaixonar, tudo bem, mas se entregar tanto assim? Arriscado.

Aos poucos fui tentando entender mais sobre as novas dinâmicas de estar solteira. Fiquei dez anos em um relacionamento e desaprendi. Estar um final de semana sozinha pela primeira vez foi assustador. Vieram várias inseguranças. Me senti velha, abandonada, indesejada. Era como se estivesse deixando de curtir a vida. Será que me senti assim pelo excesso de referências de pessoas supostamente felizes com hashtags #gratidão nas redes sociais?

Foi quando eu percebi que talvez eu não me amava o suficiente para ficar apenas com a minha companhia. Logo de cara quando percebi isso, fiquei horrorizada. Chorava muito nos dias de TPM por entender que eu tinha esta percepção tão negativa de mim mesma. Comecei a trabalhar isto internamente. Eu fiz uma lista (de verdade) com tudo o que eu realmente gostava em mim, e depois escrevi o que gostava de fazer. Foram descobertas interessantes.

Depois disso, decidi comprar produtos de cuidados pessoais, como cremes, máscaras faciais, depilação… Tirei fotos sensuais. Decidi escolher um final de semana por mês para o que apelidei de “meu dia especial”. Nesses dias eu tenho cuidados pessoais com pele e cabelo, escolho apenas filmes e séries que eu queira assistir (porque de vez em quando eu tenho que assistir algo pra gerar conteúdo), geralmente são comédias românticas. Peço comida nos aplicativos ou compro pizza, como sorvete e uso meus brinquedinhos da sexshop. A única roupa aprovada é o roupão. As redes sociais ficam de lado. É o meu final de semana especial. Também gosto de ouvir um Bob Marley, se é que você me entende ;).

Depois destes finais de semana, evoluí para ir ao cinema sozinha, ir à um restaurante sozinha. Comecei a pensar em viajar sozinha. Finalmente a solitude começou a dar as caras. Comecei a entender que tudo bem se eu nunca mais entrar em um relacionamento. Que eu me basto.

Também percebi que me cobro bastante, e este nível de perfeição individual que exijo de mim mesma, é de certa forma inalcançável, um sintoma também fomentado pela pressão vinda das redes sociais. Espelhei e projetei minha vida em pessoas que estão muito longe de mim. Não dá para alcançá-las. Mas repito para mim mesma que tudo bem. Minha jornada até aqui foi diferente. É importante aceitar meus erros e entender que fiz tudo o que estava ao meu alcance. A única coisa que posso mudar, é o futuro. E não dá pra mudar de uma vez. Tem que ser aos poucos, todo dia um pouco. Essa é uma lição que todos os dias reflito e busco absorver. Sempre fui tão ansiosa e imediatista… Antigamente as pessoas tinham a colheita e isto ensinava muito sobre lidar com a vida. Hoje compramos tudo pronto no supermercado. As metáforas importantes não existem mais, ficamos só com um reflexo de uma vida artificial. Por isso é importante olharmos um pouco fora das telas. Conversar mais sobre assuntos que não são trending topics.

Tenho dificuldade de encerrar textos. Não sei preparar muito bem um clímax ou uma conclusão, porque nestes casos, nem existe muito bem uma conclusão. Mas a solitude é uma busca diária, e não vai parar, mesmo se eu entrar em um relacionamento. Porque mesmo estando em um relacionamento, temos que nos manter indivíduos. Únicos. Essa é a minha mensagem por hoje.

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Gabriela Cecon
GabiCecon

Especialista em cultura geek, empresária, design thinker e sonhadora.