Hackeando a ansiedade crônica
A ansiedade é uma *&$%#%* e às vezes pode estragar tudo.
Tenho lutado há algum tempo contra este mal, assim como a maioria das pessoas habitantes deste planeta neste momento. Não me refiro à ansiedade aguda e sim a crônica, que é diferente. A aguda leva pessoas ao hospital, a crônica só enche o saco mesmo. É aquela que se você permitir, vai destruindo lentamente sua rotina e te deixa numa constante de instabilidade.
Sempre leio livros de auto-ajuda (quem julgar, sete anos de azar) para entender melhor como o cérebro e nossa sociedade funcionam, e assim, tentar hackear estes comportamentos. Depois de algumas madrugadas em claro pela telinha do celular, li conselhos de rotinas que ajudam a conter a ansiedade. Foi então que comprei o livro O Poder do Hábito. Devorei este livro, porque o que mais queria era me ver livre da frustração contínua de ter a percepção de não conseguir nunca fazer 10% daquilo que acredito que deveria fazer, mesmo depois de um tempo notar que na verdade fiz 500%.
Venho refletindo muito sobre as percepções que temos da vida. Ainda mais na pandemia. Ainda mais com tanta informação e mudança. Será que temos uma percepção que se aproxima da realidade? Será que nossa produtividade é saudável e está equilibrada com o contexto da humanidade? Será que esta pressão e descompressão sobre a extrema produtividade versus a vontade de ser feliz está nos levando para algum lugar bom?
O livro O Poder do Hábito de Charles Duhigg me ajudou a entender, naquele monte de páginas, como o cérebro funciona e com vários exemplos bem didáticos. Mas o livro não apontou um caminho eficiente. Ajudou a entender, mas não mostrou nenhuma técnica.
Então percebi que a ansiedade também envolve foco. E entendi que, no meu caso, tenho características boas, mas que no contexto ansioso, podem se tornar inimigas.
Sou muito criativa. Minha mente não para de inventar e criar coisas. Fazer muitas conexões. Tenho muitas epifanias nos meus momentos de hipomania. Pareço o personagem Cérebro tentando dominar o mundo. Já aprendi a lidar com isto. De vez em quando escrevo algumas ideias, e consigo diminuir a pressão dessa energia, compartilhando com pessoas tão empolgadas como eu. No meu caso, tenho sorte do meu pai ser esta pessoa. Depois de diminuir a pressão energética da criatividade, nem sempre sigo a realizar aquilo que inventei, porque são MUITAS ideias e eu sou sensata. Aprendi a não me frustrar quando algo incrível que idealizei é executado por outra pessoa depois de um tempo. Não dá pra vencer todas.
Quando você quer ter foco e hábito, geralmente é recomendável criar listas. Sim. Listas. Elas acalmam, mas nem sempre são eficientes. E quando param de ser eficientes, a frustração chega e faz com que o desânimo nos impeça de continuar a “tentar” a organizar tudo. Vira uma bola de neve.
Foi aí que entendi algo importante. A ansiedade vem sabotar as listas. Como sou megalomaníaca das ideias e criatividade, as listas podem se tornar uma cilada. Podem se tornar impraticáveis. Podem perder o foco do objetivo principal, que muitas vezes deve ser algo pequeno e simples por eu querer encher de lantejoulas e glitter.
Pense pequeno. Controverso de tudo aquilo que sempre aprendemos nas palestras de como obter sucesso, mas este é o melhor conselho para conter a ansiedade e frustração. Quem quer tudo, não quer nada.
Vamos visualizar. Se você deseja emagrecer, por exemplo. Alguns livros de auto-ajuda falam pra você imprimir fotos de corpos sarados, comprar adereços fitness e fazer o clichê de atrair a energia que te levará a emagrecer. Você fica imaginando todo o sacrifício que levará até seu objetivo, porque ele está enorme e assustador, como o monte Everest na sua frente. Se sente culpado de ter engordado e outros caminhões de pensamentos ruins que irão te atrapalhar estacionam e começam a descarregar e você nem tem o controle mais de nada. Ansiedade. Aí você desiste, se sabota, porque já falhou tantas vezes e vai ser um caminho tão longo… “É só mais uma pizza, qual mal irá fazer?” E vem a frustração que te deixa “na bad”.
Por isso é importante seu objetivo principal não ser emagrecer. Seu objetivo principal pode ser “ir na academia hoje”. E se você conseguir, esta será a realização. Se mesmo reduzindo o desafio principal tanto assim, ainda for muito pra você conseguir ir na academia, então o objetivo principal será você colocar a roupa da academia. Se você só colocar a roupa da academia e não conseguir sair de casa, o objetivo será chegar na porta da academia. Pequenos objetivos, este é o segredo. Não espere resultados grandes e rápidos. O resultado será apenas a sensação de conseguir ter cumprido aquele pequeno objetivo. Não espere ganhar na loteria. Não espere sua vida mudar magicamente em um dia ou uma semana. Ela não vai (no geral). Tudo muda aos poucos. Um passo de cada vez. Mas muda. E lá na frente, você vai se achar bem foda. Quem tá totalmente coberto de sujeira, não fica cheiroso em 5 minutos. Demora pra limpar tudo. Mas se a pessoa “começar” a limpar, uma hora ficará cheirosa.
Espero ter ajudado, pequenos padawans. Não que eu também não seja uma pequena padawan.
