Lições sobre aprender a fingir que sabe dançar

Gabriela Cecon
GabiCecon
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3 min readJul 6, 2021
Silhueta de várias pessoas dançando com um ambiente escuro e o fundo iluminado com luzes azuis e roxas e uma fumaça.

Esses dias estava lembrando de uma lição incrível e surpreendente que aprendi há uns anos.

Eu tive uma infância dentro da igreja evangélica pentecostal, que demoniza todo tipo de dança e música “mundana”. Então conforme fui crescendo e me desenvolvendo, por mais que fazia parte dos conjuntos musicais da igreja, nunca desenvolvi coordenação para dançar. Sempre fui bem travada. Sem contar a vergonha alheia que sentia de mim mesma, se é que isto é possível.

Um certo dia fui em uma festa de influenciadores digitais. Nessa festa tinha música, comida e álcool (saudades dos tempos pré-pandemia).

Do nada começou a tocar funk. Sempre fui uma julgadora desse estilo de música. Mas ao ver alguns amigos que eu admirava intelectualmente começando a dançar, comecei a questionar se eu estava levando minhas críticas longe demais. Eles estavam se divertindo, e o funk, na maioria das vezes, é sobre isto. Fiquei ali sentada no sofá, no escuro em meio às luzes de balada, com uma bebida e um pratinho de petiscos na mão observando pessoas se divertindo e aproveitando aquele momento. Beijos Coxinha Nerd.

Depois do funk, me aproximei de uma rodinha de amigos, e começou tocar outra música bem dançante. Uma amiga minha (Bia, vou te expor) me puxou e começou a dançar comigo. Eu falei meio sem graça para ela: Eu não sei dançar. — Ela me respondeu: Eu também, mas se a gente fingir que sabe, ninguém vai saber. Então eu comecei a fingir que sabia dançar. E finalmente me libertei dos estigmas que foram inseridos na minha cabeça durante anos.

Sempre que estou diante de alguma coisa muito difícil, de algum desafio e me sinto extremamente insegura, me lembro dessa experiência. Muitas vezes, fingir dançar, é saber dançar (dentro do contexto de diversão, claro).

As experiências que tive fingindo que sei, sabendo: Cantar no Karaokê, ter andar de parapente, mergulhar (sempre tive fobia de água), treinar Muay Thai e Jiu Jitsu, escrever este texto, ser influenciadora digital, host de podcast, entre outros.

Recentemente eu participei de umas gravações e lives. Utilizei este pensamento: “Vou fingir que sou apresentadora e entrevistadora”. Você acredita que deu certo? E o melhor de tudo, fiquei com zero frio na barriga e nervosismo. Na verdade, me preparei pra isso há muito tempo, mas temos agentes sabotadores que ficam nos atormentando e dizendo que não somos capazes. Foi uma forma de enganá-los bem genial.

cena do filme Luca. Personagem Alberto, do lado esquerdo, com uma mão aberta, o personagem tem cabelos castanhos e encaracolados, pele morena, Ele está com a sobrancelha cerrada e a boca aberta olhando para Luca, que está à direita da imagem, em frente Alberto. Luca tem cabelos castanhos encaracolados, pele branca e está com olhos arregalados olhando para Alberto. Ao fundo, árvores com muitas folhas. Ao centro da imagem, letras escrito “Silenzio” e em letra maior abaixo “Bruno.

Outra grande inspiração foi no filme da Pixar, Luca. Em um determinado momento, o personagem está diante de um desafio de descer uma ladeira sobre um protótipo de “vespa” (moto). Luca, fica com muito medo e hesitante. Seu amigo Alberto fala para ele mandar o Bruno calar a boca. Bruno é a voz sabotadora da mente de todos nós. Então Luca diz “Silenzio, Bruno”, e desce a ladeira abaixo, tendo uma experiência incrível.

Também tenho tido muita dificuldade de saúde por conta do meu problema nos olhos. Estou na fila do transplante. Algumas vezes, tenho problemas de muito baixa visão, devido a complicações e impossibilidade de usar lente e óculos. Então penso: Vou só fingir que enxergo. Começo a arrumar a cama, arrumar as coisas. Coloco uma roupa bonita, faço maquiagem do jeito que dá, e mando ver. É claro que não é todo dia que consigo ter energia de fingir, mas posso me contentar de que quando consigo, no final do dia me sinto incrível.

Que fique aqui este texto para que eu me lembre de mandar o Bruno calar a boca e de fingir dançar, e que te inspire também.

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Gabriela Cecon
GabiCecon

Especialista em cultura geek, empresária, design thinker e sonhadora.