Ecos da Galeria #01: Todos juntos, somos fortes

Janayna Bianchi Pin
Galeria Creta
Published in
5 min readSep 30, 2017

Eu sempre gostei de falar. Eu tirava notas ótimas e era uma aluna muito dedicada, mas minhas professoras chegaram a chamar meus pais na escola pra dizer que eu conversava muito e, às vezes, atrapalhava os amiguinhos.

Com o passar dos anos, acho que melhorei um pouquinho. Mas às vezes ainda me empolgo e desembesto a falar, embora viva no esforço constante de observar meus interlocutores pra tentar capturar rápido os sinais de que estou enchendo o saco (aliás, me desculpa se eu já enchi muito o seu saco, Caro(a)). Sem falar que eu sempre fico com vergonha quando vejo aqueles provérbios tipo “temos dois ouvidos e uma boca só porque devemos ouvir mais do que falar”, ou quando estou perto de pessoas muito quietas e calmas.

Meu esforço de pentelhar menos os outros continua, mas ultimamente ando refletindo mais profundamente sobre “falar vs. a deixar de falar”. Esse balanço delicado abarca muitos assuntos, como por exemplo lugar de fala, responsabilidade de discurso, desprendimento de energia vs. resultado e ocupação de espaços, entre outros. Mas como cada tópico desses dá muito pano pra manga — e, como já sabemos, eu gosto de falar rs — vou me limitar a comentar os últimos dois.

A consideração sobre o desprendimento de energia é mais um lembrete pra mim mesma de que, ultimamente, dedicar tempo e esforço pra expor minha opinião nem sempre vale a pena. As razões são duas: 1) Se a minha opinião é a mesma que a de grande parte da bolha em que eu vivo, não preciso expô-la e 2) Mais do que nunca, as pessoas não estão dispostas a ouvir. Não só não estão dispostas a ouvir como estão deliberadamente dispostas a falar bobagem e ignorar qualquer argumento contrário só porque, com a internet, elas têm esse poder e muito espaço disponível. E pra uma pessoa que ama falar, como eu, essas são armadilhas das mais ardilosas.

Ter consciência disso já é meio caminho andado, acho. Por exemplo, já penso duas vezes antes de postar coisas na internet que são puro despejo de indignação com notícias que (para pessoas sensatas, com as quais procuro me cercar) são obviamente horríveis, decisões de políticos que são obviamente patéticas ou declarações de gente pública (ou não) que são obviamente grotescas. Ao invés de dar popularidade pra essas pessoas e criar um ciclo de indignação entre pessoas que já pensam como eu, estou fazendo o esforço de pensar em alguma coisa ou projeto legal que vi ou consumi e uso meu tempo e esforço pra postar sobre isso. Esse controle nem sempre funciona, mas cada vez que eu fujo dessa proposição eu me arrependo e sinto aumentar um pouquinho a minha autoconsciência a respeito disso.

Mas como obviamente não há saídas fáceis para os dilemas desses tempos malucos que vivemos, calar totalmente também não me parece o caminho.

E o que me fez ter certeza disso foi ter ido ao 1º FLIPOP, o Festival de Literatura Pop que a Editora Seguinte promoveu em São Paulo nos dias 8 e 9 de julho. Minhas considerações completas sobre o evento estão nessathread no Twitter, mas uma das coisas que mais me chamou a atenção foi vivenciar o poder da ocupação de um espaço. Quem foi ao FLIPOP viu de perto as coisas maravilhosas que são ditas quando se dá voz a quem nem sempre tem espaço pra falar. Mais do que isso: quem foi ao FLIPOP viu como outras pessoas se sentem a vontade pra falar — ou pra simplesmente ser quem são — quando quem está por perto está repetindo e propagando seu discurso com total liberdade e segurança. Uma espécie de efeito amplificador do bem, vai.

Gostaria de poder terminar o meu textão (que é quase inevitável pra quem gosta de falar) com uma conclusão esperta, ou com dicas místicas de autocontrole e tomada de decisão. Mas eu infelizmente não sei o caminho pra fazer cada palavra minha valer a pena.

O que eu posso fazer, por enquanto, é me esforçar pra imbuir o máximo de significado e poder a algumas centenas de milhares de palavras que, em breve, vou reunir em um manuscrito — assim como quem não quer nada, vou jogar aqui que estou trabalhando no outline de uma ideia que está me empolgando muito e que no dia 1º de Outubro eu saio da empresa em que trabalho pra começar um ano sabático dedicado à escrita.

*saída pela esquerda (sempre)*

Abraços,

Jana Bianchi

PRA OUVIR | Eu, Thiago Lee e Rodrigo Assis Mesquita convidamos a Nathalia Dimambro, editora da Seguinte, pra conversar sobre Leitura Sensível lá no Curta Ficção.

PRA LER FICÇÃO | Já saiu a Revista Trasgo #15, que você podebaixar e ler de graça. Essa edição tem um conto do Thiago Lee, que também está publicando Réquiem para a Liberdade capítulo a capítulo lá no Wattpad.

PRA LER NÃO-FICÇÃO | Escrevi lá no Medium sobre a minha história com a escrita.

PRA CONHECER | A Fer Castro escreve resenhas e artigos sensacionais lá no The Bookworm Scientist.

PRA APOIAR | O Tempos Fantásticos, onde a Nana Ferreira trabalha, é um jornal que traz notícias de realidades paralelas. Você pode assinar o TF a partir de R$2,00/mês no Apoia-se.

PRA IR | Dia 06/08, domingo, Eric Novello lança seu livro novo, Ninguém Nasce Herói. É às 15h, na Saraiva do Pátio Paulista.

Lambe-lambe por Bruno Müller

Querido ouvinte,

Recebemos algumas mensagens depois da edição piloto do mês passado. A cada três contatos, um era pra apoiar e outros dois pra ameaçar. Aparentemente, incomodamos não só os seguidores do Minotauro, como também o pessoal acomodado que tem medo de mudar. Ou que simplesmente tem medo de perder espaço com a mudança, esses são bem comuns por aí.

Mas não importa a quantidade de barulho, e sim a qualidade. Então, tirando forças das mensagens de apoio e aceitando ajuda de algumas mãos amigas, demos um jeito de transmitir essa nova edição.

Às vezes parece que não, mas todos juntos, somos fortes.

VÁ PARA O BECO ESCUTAR O PROGRAMA

Pra ouvir o programa, se posicione diante do lambe-lambe dessa edição e ouça a transmissão do mês.

Se você chegou agora, pode ouvir também a edição passada, que explica um pouco mais sobre quem faz a Ecos da Galeria e o formato do programa.

Saudações,

--

--

Janayna Bianchi Pin
Galeria Creta

Escritora, engenheira, viajante e passeadora de lobisomens. Autora de Lobo de Rua (bit.ly/lobojana).