A crônica dos wingers que vieram da França

Lucas Colenghi
Galo de Kalsa
Published in
4 min readJun 26, 2019

Todo clube possui certas histórias que fazem os torcedores se questionarem sobre as peculiaridades de cada uma.

  1. Existem aquelas que realmente aconteceram e são marcantes;
  2. Existem aquelas que definitivamente não ocorreram e deixaram o torcedor com um gosto amargo na boca;
  3. E, finalmente, existem aquelas que se mostram reais nos registros, mas que ninguém nunca vai lembrar com o passar dos anos.

Talvez, o atento leitor possa acrescentar ainda mais pontos a esta lista, mas para efeitos práticos deste texto, vou me atentar ao que estabeleci.

O Galo de Kalsa engloba diferentes seções que abarcam toda peça escrita que for produzida. No momento em que tive a ideia de abordar esta história, pensei: será que o Tottenham realmente contratou, em algum momento de sua história, Clinton N’Jie e Georges-Kevin Nkoudou?

Você deve estar se pensando que está é uma dúvida ridícula que me apareceu. Entretanto, volte ao número 3 da minha breve lista. Certo. Eu exagerei. A maioria das pessoas se lembram do Nkoudou, mas pode saber que apenas a minoria se lembra que N’Jie vestiu a camisa lillywhite.

Dois wingers que vieram da Ligue 1 e mal tiveram oportunidades na equipe. Ambos foram trazidos por Mauricio Pochettino e tiveram tratamento parecido por parte do treinador.

Falemos, primeiramente, do camaronês.

Foto: Evening Standard

Clinton N’Jie foi contratado junto ao Lyon, para a temporada 2015/2016, aos 22 anos de idade. Ele custou cerca de 14,1 milhões de libras ao clube segundo o Transfermarkt.

Ele fez 14 jogos em sua temporada de estreia, que foi marcada por 1 assistência e uma grave lesão. Na temporada seguinte, apesar de ter se reapresentado com o elenco foi negociado com o Olympique de Marselha por empréstimo.

Detalhe: em minutos, N’Jie cumpriu 386. Isto dá cerca de 4,3 jogos completos.

Enquanto N’Jie ia para o OM, Georges-Kevin Nkoudou vinha para o Tottenham, que ainda pagou 9,9 milhões de libras para ter o jogador em definitivo (valores do Transfermarkt). Mas deixemos para falar do winger francês em alguns instantes.

Apelidado de Clint logo que chegou a Londres, N’Jie mostrou-se promissor quando pôde atuar. Chegava ainda jovem a um país diferente e, logicamente, necessitava de adaptação a um futebol de nível mais alto.

Não só a lesão o atrapalhou, como também o treinador dos Spurs. Pochettino, por alguma razão, não achou que deveria dar mais chances ao meia-atacante e o interesse do OM uniu o útil ao agradável.

Clint, no fim das contas, não chegou a jogar nem meia temporada direito pelos Spurs. Em sua volta à França, ele mostrou ser um jogador útil. Os números não são os melhores já vistos, mas pelo menos ele pôde ter a sequência que gostaria de ter tido no Tottenham.

Agora, Nkoudou.

Foto: Independent

Eu vou confessar que um integrante do Galo de Kalsa chegou a chamar Georges-Kevin Nkoudou de: o novo Modric. Logo, vou chegar no episódio que fez com que essa alcunha surgisse.

O contexto da transferência do jogador já foi posto, mas como foi a caminhada dele no clube?

17 jogos na temporada 2016/2017. 1 assistência. É possível que Pochettino já tenha desistido dele neste exato momento, ao ver que seus números eram bem parecidos aos de N’Jie em sua primeira temporada. Detalhe: GKN também sofreu com lesão grave.

2017/2018: 6 partidas pelo Tottenham. 1 gol marcado. Oportunidades ainda mais escassas. Em janeiro, foi emprestado ao Burnley. Lá, também não jogou praticamente. Foram 8 jogos sem nenhum gol ou assistência.

2018/2019, temporada que recém se encerrou: 3 jogos pelo Tottenham. 1 assistência.

Esta assistência foi o que resultou no episódio: O Novo Modric. Uma das conversas de Whatsapp mais surreais e, ao mesmo tempo, mais sensatas que já tive.

Você se lembra do jogo? Vitória por 2 a 1 diante do Fulham no Craven Cottage. Nkoudou recebeu na esquerda e cruzou de forma precisa na cabeça de Winks para decretar a vitória lillywhite nos momentos finais.

Mas durou pouco a euforia. GKN foi emprestado ao Mônaco em janeiro. Por lá, fez 3 jogos. Nenhum gol ou assistência.

No total, desde que se transferiu para o Tottenham, contando os clubes pelos quais jogou emprestado, Nkoudou cumpriu 834 minutos em campo, o que dá cerca de 9,3 jogos completos. Desses 834, 224 foram pelo Burnley e 20, pelo Mônaco.

Exceto para quem olhou para o número 14 na camisa dele e projetou uma tremenda ascensão após aquele jogo no Craven Cottage, Nkoudou provavelmente não deixará saudades no coração dos torcedores.

N’Jie tampouco.

Dois jogadores que vieram ao clube em contextos extremamente semelhantes e viveram experiências muito parecidas ao chegar na Inglaterra.

Fica a seu critério, leitor, entender o motivo disto… de quem foi a culpa? Há um culpado só?

Mauricio Pochettino certamente concordou com a contratação de ambos, mas não teve paciência com nenhum.

O imponderável surgiu na primeira temporada de ambos: lesões.

Os próprios jogadores não confirmaram o potencial mostrado no futebol francês.

A verdade é que o tempo vai passar e ninguém ou quase ninguém se lembrará da passagem desses jogadores pelo Tottenham e tampouco de este texto ter sido escrito em homenagem a eles.

--

--

Lucas Colenghi
Galo de Kalsa

Professor em aprendizado. Escritor frustrado. Torcedor corneteiro.