Antonio Conte e a semana que vem

Nos devolveram a vontade de ver o Tottenham jogar

Pedro Reinert
Galo de Kalsa
3 min readFeb 6, 2022

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Há meses eu não me dava o incomplexo trabalho de me certificar quando seria o próximo jogo do Tottenham. Meses. E não é só que em algum momento eu tenha deixado de fazer tanta questão de assistir, não, mas é que o evento em si não me despertava interesse o suficiente pra cutucar minha ansiedade.

Eu já sabia do roteiro, ué. De novo, de novo e de novo. O Tottenham dos últimos dois anos foi previsível da pior forma, sempre procurando novas soluções nos mesmos vícios, e assim sugando a cada semana um pouquinho mais do meu prazer em vê-lo.

E, olha, eu confesso que pouca coisa me machuca mais por dentro do que deliberadamente não assistir a um jogo do meu time, mas eu sequer consigo enumerar as vezes em que troquei Mourinho e Nuno por um almoço aqui ou uma cerveja ali ou uma hora de sono acolá. Pochettino me acostumou mal pra cacete.

A semana que vem, de repente, virou um fardo que eu nunca queria que chegasse. Pensar no combo de desânimo e indiferença que saía de dentro de campo para contaminar meu domingo já me tirava todas as forças ainda na quinta-feira. E logo eu, que vivia dizendo que o Tottenham era um sonho, vi o Tottenham virando um compromisso que além de aborrecedor ainda era chato pra caralho.

Mas alguma coisa mudou. Alguma chave virou. Alguma luz acendeu. E esse texto, portanto, é minha forma de agradecer Antonio Conte por ter me devolvido as semanas que vem.

‘Il Capo’ é o motivo pelo qual renasceram a ansiedade e a expectativa

O Tottenham não é o melhor time do campeonato, não tem o melhor ataque nem a melhor defesa e ainda tropeça nas próprias pernas vez ou outra, sim, mas assisti-lo não é mais um estorvo. O Tottenham é mais elétrico, mais cativante, mais desaforado, mais radiante, e isso é o suficiente pra me arrancar da cama de manhã com disposição e bom humor.

Na partida contra o Brighton — a primeira depois do único período de treinamento minimamente decente que Conte teve desde que chegou ao clube — tudo ficou tão bonito de novo. Lloris com a confiança de uma outra vida, Reguilon e Emerson bombardeando as beiradas, Lucas se sentindo Mané e fazendo todo marcador de João, Kane mandando prender e soltar no campo inteiro a bel-prazer, Romero vivo e respirando... Até Bentancur, em quinze minutos ou menos, nos deixou de pupila dilatada como quem vê o despir da pessoa que ama. Um dos jogos que podiam não ter fim.

Quer dizer, ainda há muito trabalho até que o projeto do treinador italiano realmente tome forma e ganhe cara, é óbvio, mas os sintomas evidentes da ressurreição da equipe já são indicadores de um bom futuro. Já não é de hoje que o time joga ligeiramente bêbado: alegre, um pouco inconsequente, extremamente impetuoso e sem tempo para arrependimento. A virada contra o Leicester que o diga.

Se antes vencer era um alívio apático e perder era coisa banal, hoje todo gol é arte e todo ponto perdido tem gosto de tragédia. O Tottenham é visceral de novo. O Tottenham volta a poder ser vivido, curtido, suspirado e desejado. E é isso que me importa no fim das contas. O resto é bônus.

Jogamos ontem e hoje eu já me peguei umas quatro vezes checando quando jogaríamos de novo. E a semana que vem, se deus quiser, vai chegar logo. O Tottenham é bonito de novo.

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