Bem-vindo de volta

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
Published in
3 min readNov 2, 2020

Bale is back. De fato.

“Aqui serei sempre feliz, mesmo que a minha função seja jogar na defesa”, disse Bale após o jogo contra o Brighton, pela Premier League, decidido pelo galês com um gol de cabeça. O seu primeiro no retorno ao Tottenham.

Quem já viveu fora de casa por um tempo conhece o estranhamento de deixar o lar. A despedida dói, mas a adaptação a um novo lugar pode ser ainda mais dolorosa do que o adeus.

Por mais que a nova casa seja legal, que tenhamos luxos, regalias e vitórias pessoais que parecem impossíveis de conseguir no lugar de onde saímos; e por mais que a gente até consiga se sentir feliz numa nova casa, o fato é que ser humano também é bicho. E bicho tem habitat natural, mesmo que a evolução e a seleção natural nos forcem -ou ofereçam a possibilidade- de migrar.

Em sua volta ao Tottenham, Bale não podia marcar o seu primeiro gol num jogo fácil. Mesmo que fosse o quarto tento em um 3x0 aparentemente resolvido. Gareth nunca foi jogador de aparecer em notas de rodapé. Nunca.

Sua grandiosidade pede por manchetes. Ele é quem é por ser decisivo e por isso sua cabeceada contra o gol de Sanchez quando o placar estava empatado, e o time dava claros sinais de um justo desgaste emocional após as trágicas decisões do árbitro Graham Scott em campo, teve um sabor tão… familiar.

Não por acaso o gol teimou em sair com uma assistência de Reguilón. Um rapaz que foi basicamente escorraçado de casa e acolhido por nós (independente de cláusulas etc e tal), mas isso é assunto pra outra prosa.

É da natureza de Bale resolver os problemas do Tottenham. Esse é seu habitat. E nosso habitat é contemplar e torcer pra que tudo dê certo. Na verdade, a gente sabe que vai dar certo. Se Bale tá com a gente, o melhor que estiver a nosso alcance é realidade.

Tudo isso é motivo de acreditarmos que neste ano teremos algum motivo pra sorrir. Uma goleada em quem tanto nos bateu? Pode ser. Uma dose de confiança que não conhecíamos? Talvez. Um troféu pra calar a boca de tanta gente? Possível. Bale está em casa. E isso quer dizer que tudo que está em nosso alcance é possível.

Pode-se dizer que ‘ah, foi só um jogo contra o Brighton’. É um bom argumento, mas eu digo que não. Não foi só um jogo contra o Brighton. Foi um jogo do Tottenham contra o Brighton. Foi um jogo do Tottenham, contra o Brighton, e com Bale. Foi um jogo do Tottenham, contra o Brighton, e com Bale decidindo. Quando a gente precisava. Com Kane abrindo o placar. Sentem esse cheiro? É o cheiro de casa. De nossa casa. De nosso Tottenham.

E não há nada tão precioso como se sentir em casa.

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