E agora, José?

A vida não espera por ninguém, nem por um novo atacante

Pedro Reinert
Galo de Kalsa
3 min readFeb 26, 2020

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As circunstâncias lhe tiraram Kane. Ele meio que contornou. Depois, lhe tiraram Sissoko. Ele meio que contornou. Depois, lhe tiraram Son, e bem na hora em que a temporada começa a espiar seus momentos mais decisivos, ele meio que não sabe direito o que fazer.

Quer dizer, ninguém esperava inspiração e euforia de um time comandado por José Mourinho em 2020, imagino. Trocamos um tratamento homeopático por uma dose hiperbólica de aspirina, você sabe, mas a dor de cabeça nunca pareceu tão incômoda. O português faz sua icônica terceira temporada logo na primeira.

Se jogar de forma absolutamente reativa diante de times que nem são grande coisa assim é a fórmula do sucesso, de que vale essa porra de sucesso? Cada vitória passou a ser um alívio, como a retirada de uma pedra no rim. Os motivos pra uma queda brusca de produção são muitos, mas nem todos eles juntos no mesmo saco justificam o tamanho da má fase. Aquela história de “o Tottenham é melhor sem Harry Kane!” é o nosso terraplanismo.

O problema é que a cada dia que passa, a impressão que dá é a de que tudo aconteceu no lugar errado e na hora errada. De que era pra ser um Ancelotti, mas o Napoli demorou demais pra botá-lo na rua. De que podia ser um Nagelsmann, mas aquela cabeça dura e lustrosa quis jogar seu rojão em mãos mais calejadas.

Parte boa, ao menos, é que cada fim de partida mal jogada, José faz de boca cheia o que Pochettino fazia com meias palavras: expor as políticas caóticas que pautam cada pequena decisão feita nos bastidores do reformado White Hart Lane. A crise que nos assola, afinal de contas, não é culpa do gajo; ele só é mais um que não sabe transformar água em vinho.

Acontece que a merda já sujou a cerâmica, e a dúvida sobre o que fazer em seguida não é pautada na esperança de uma reviravolta, e sim no medo de uma implosão. Sem atacantes, ficamos sem Champions League. Sem Champions League, ficamos sem trunfo. Sem trunfo, voltamos à 2013, aos prazeres simples, à estaca zero.

Se você abriu este texto esperando uma solução prática para os problemas a curto prazo, sinto em lhe informar que estou tão desesperado quanto você, e José Mourinho deve estar mais desesperado do que nós. Essa resolução não é aquela “joga o Bergwijn pra lá, o Lucas pra cá e abre o Lo Celso” de sempre. O buraco é muito mais embaixo e a saída precisa ser encontrada em menos de dois meses. Aperte bem os cintos.

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