E agora, José?
A vida não espera por ninguém, nem por um novo atacante
As circunstâncias lhe tiraram Kane. Ele meio que contornou. Depois, lhe tiraram Sissoko. Ele meio que contornou. Depois, lhe tiraram Son, e bem na hora em que a temporada começa a espiar seus momentos mais decisivos, ele meio que não sabe direito o que fazer.
Quer dizer, ninguém esperava inspiração e euforia de um time comandado por José Mourinho em 2020, imagino. Trocamos um tratamento homeopático por uma dose hiperbólica de aspirina, você sabe, mas a dor de cabeça nunca pareceu tão incômoda. O português faz sua icônica terceira temporada logo na primeira.
Se jogar de forma absolutamente reativa diante de times que nem são grande coisa assim é a fórmula do sucesso, de que vale essa porra de sucesso? Cada vitória passou a ser um alívio, como a retirada de uma pedra no rim. Os motivos pra uma queda brusca de produção são muitos, mas nem todos eles juntos no mesmo saco justificam o tamanho da má fase. Aquela história de “o Tottenham é melhor sem Harry Kane!” é o nosso terraplanismo.
O problema é que a cada dia que passa, a impressão que dá é a de que tudo aconteceu no lugar errado e na hora errada. De que era pra ser um Ancelotti, mas o Napoli demorou demais pra botá-lo na rua. De que podia ser um Nagelsmann, mas aquela cabeça dura e lustrosa quis jogar seu rojão em mãos mais calejadas.
Parte boa, ao menos, é que cada fim de partida mal jogada, José faz de boca cheia o que Pochettino fazia com meias palavras: expor as políticas caóticas que pautam cada pequena decisão feita nos bastidores do reformado White Hart Lane. A crise que nos assola, afinal de contas, não é culpa do gajo; ele só é mais um que não sabe transformar água em vinho.
Acontece que a merda já sujou a cerâmica, e a dúvida sobre o que fazer em seguida não é pautada na esperança de uma reviravolta, e sim no medo de uma implosão. Sem atacantes, ficamos sem Champions League. Sem Champions League, ficamos sem trunfo. Sem trunfo, voltamos à 2013, aos prazeres simples, à estaca zero.
Se você abriu este texto esperando uma solução prática para os problemas a curto prazo, sinto em lhe informar que estou tão desesperado quanto você, e José Mourinho deve estar mais desesperado do que nós. Essa resolução não é aquela “joga o Bergwijn pra lá, o Lucas pra cá e abre o Lo Celso” de sempre. O buraco é muito mais embaixo e a saída precisa ser encontrada em menos de dois meses. Aperte bem os cintos.