Erik Lamela é nosso retrato mais fiel

O espelho argentino para o drama do clube

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
3 min readJan 22, 2020

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É difícil escrever sobre Lamela. Mas o fato é que mesmo que não tenha se tornado aquilo que o clube imaginou quando desembolsou 30 milhões de euros para contatá-lo (e automaticamente fazer dele a contratação mais cara da história do Tottenham àquela altura), não dá para dizer que Erik é um flop.

É engraçado perceber o quão Tottenham ele é. Inclusive nas ironias da vida. Lamela sempre parece que vai, mas nunca engata. E mesmo assim ele segue importante. E mesmo assim a gente continua a acreditar. Justamente por não ser um fracasso retumbante e apesar de não ser um sucesso contundente.

Do pacotão que torrou o dinheiro da venda de Gareth Bale para o Real Madrid, Lamela e Eriksen foram os únicos que de fato renderam alguma coisa.

Caso não se recorde, os outros contratados foram Chiriches, Paulinho, Chadli, Capoue e Soldado. Comparado a essas criaturas, Coco teve (e ainda tem) desempenho divino.

É foda porque ser melhor do que essas tiriças supracitadas está longe de ser suficiente. Por outro lado, pesar a mão na crítica deixa a uma incômoda sensação de ingratidão. Lamela já foi vital em jogos cruciais. O maior deles, em minha opinião, contra City, no Etihad, em 2016. Ele saiu do banco para dar o passe que terminou em gol de Eriksen, e aquele 2x1 praticamente nos colocou de volta na Champions League.

Argentino sente na pele o que foi o Tottenham dos últimos anos: muito potencial, nenhuma glória e uma pá de frustrações encerrando ciclos de esperança

A dedicação de Lamela dentro de campo é proporcional ao azar que ele tem — principalmente com a questão física. As lesões já lhe tiraram uma Copa do Mundo. Se os problemas no quadril não lhe agredissem tanto, certamente ele estaria na lista de Sampaoli para o Mundial da Rússia, em 2018.

Cada penteada, cada recomposição, cada lapso de ousadia e genialidade faz de Lamela alguém que seja querido. Cada frustração, cada momento de ‘quase’ e cada baque a dois (ou até um) passo do paraíso faz de Lamela Tottenham pra caralho.

Talvez ninguém saiba — ou sinta — tanto o que é o clube nos últimos seis anos como ele. Porque Erik foi o Tottenham como ninguém. O nosso retrato fiel: cheio de vontade e potencial, mas nunca conseguiu transformar isso em glória.

Não devemos ter vergonha ou menosprezo por nossa própria história. Por menos gloriosa que seja. Por mais frustrante e repetitiva que se torne. Neste momento difícil que o clube vive, sem saber muito bem que rumo tomar, é em gente como ele em quem devemos nos inspirar.

Por piores que fossem os baques, ele sempre correu atrás de se recuperar. E deu um jeito de encantar, ainda que sem a regularidade esperada.

Ou vai dizer que você nunca se pegou pensando no “porra, esse jogo tá pra Lamela…” em algum jogo aleatório por aí?

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