O mental fragilizado pode ser pior que as bases fracas
Bem-vindo ao Tottenham, mate. Após a derrota para o Manchester City, a coletiva de imprensa de Ange Postecoglou me fez pensar mais do que eu gostaria. E os pensamentos foram para o lado bom e ruim, ainda não sei dizer se achei exagerada ou sincera demais a reação dele, mas uma coisa é fato: o que ele disse, é um pouco do que Antonio Conte disse. E o Conte, apesar de ter a razão, ele não tem direitos. Vai se foder, terrorista italiano.
“As últimas 48 horas revelaram-me que as fundações são bastante frágeis. É isso que eu sinto. Só acho que as últimas 48 horas revelaram-me um pouco. Mas não faz mal, só tenho de voltar com mais alguma coisa. Compreendo, provavelmente interpretei mal a situação no que diz respeito ao que considero importante no esforço de se tornarem uma equipa vencedora, mas não faz mal. É por isso que estou aqui”
Oh, Ange, meu querido, por onde começar? Sim, as bases são frágeis. Sim, você interpretou muito mal. Eu nunca tinha visto, até este jogo, Ange tão irritado e tão incomodado com a equipe perdendo, em nenhum jogo da sequência a equipe entrou com tanta vontade, tanta garra, e todos com sede de fazer algo. Mas enfim, eu juro que não quero pontuar isso. Gostaria de falar sobre as bases, que é uma ideia do que é ser Tottenham e, o mais evidente, o que é experienciar o Tottenham atualmente (últimos 20 anos quase!).
Nossas bases podem não estar das mais firmes, eu diria que estão respirando por aparelhos no momento. É claro que ver o nosso maior rival com chance de ganhar um título faz todos os torcedores pensar loucuras, principalmente se pudermos atrapalhar, do jeito que dá, e tirar o título deles. Também fica bem óbvio que queríamos a vaga na UCL, mas não era um negócio ruim abrir mão disso para atrapalhar o título deles neste momento. E talvez, ao ler essa frase, você entende como está a mente do palhação.
O torcedor está machucado, e a culpa não é do Ange Postecoglou, aliás, posso dizer que Ange curou onde doía, como já dizia os jovens do Twitter. O torcedor está magoado. O torcedor está vivendo a beira da insanidade. E isso já tem anos, é um processo de se magoar com o time que tanto ama e no final, acabar abrindo mão do que é bom pra você para não deixar ser bom para os outros, afinal, se eu não posso, ninguém pode. E como alguém tem que conseguir, que seja o Manchester City, não poderia incomodar menos.
No fim das contas, tudo que o torcedor quer é um time competitivo, um time que não vai ficar perdendo jogos considerados fáceis, um time que não vai ter erros bobos em partes importantes do campeonato, um time que podemos confiar e pensar: ‘’vamos ganhar esse jogo, não tem jeito de perder’’ e que este pensamento não seja uma ilusão de um torcedor maluco que está no ápice da ilusão devido a sua pouca sanidade mental.
No fim, nós queremos algo parecido com o que está acontecendo do lado de lá, e isso é o que me irrita, isso é o que me deixa puto e, no final, por uma ação normal de torcedor bem babaca, em uma reação infantil, eu não quero que eles vençam absolutamente porra nenhuma, mas saiba: vão vencer. E quando isso acontecer, a única coisa que nós não queremos é estar ainda há 16, 17, 18 anos sem vencer um título.
No final, o Tottenham, como um todo, realmente tem que fortificar suas bases, nós não podemos ligar pra ninguém, não temos que nos importar com nenhum outro time, temos que focar no nosso, fazer sempre o nosso e lutar pelo nosso. Temos que garantir que somos capazes, que podemos disputar, que podemos incomodar, que podemos ganhar, que podemos sair campeão. É um sentimento que tem muito tempo que não vem ou que não aparece no peito do torcedor, do staff, do time, de todos. Depois da fatídica final da Champions League 18/19, a chama apagou, e tudo o que veio depois foram resultados ruins e derrotas históricas. Talvez uma ou outra vitória no meio disso tudo, mas não interessa.
Eu realmente acredito no trabalho de Ange, eu realmente acredito que ele vá trazer isso tudo novamente pra todos nós, eu acho que ele tem a capacidade e tem o apoio suficiente para poder mudar a estrutura do time, da pedra de fundação até o topo do galo no Skywalk. Mas, no momento, tivemos que lutar e apoiar uma derrota para preservar algo que foi impossível de mudar neste primeiro ano: a dor do torcedor e o orgulho do torcedor.
A questão do texto foi realmente um desabafo, eu não quero trazer nenhum debate, eu não quero trazer nenhuma reflexão, apenas senti que precisava desabafar. Foi uma coletiva com um absoluto ódio ou frustração, mas que entrou na minha cabeça, me fez pensar. No fim, as palavras de Ange após este jogo pode ser o início da mudança, pode ser o começo de algo grande, ou pode simplesmente ser mais uma grande coletiva, sobre o time, a torcida, o staff, a alma de todos que já estão calejados, mas sentem bastante quando podem ferir o nosso orgulho, assim como foi a de Antonio Conte.
