Olá Google: Quem é Jack Clarke?

Fernando Valverde
Galo de Kalsa
Published in
4 min readJun 29, 2019
Danny Rose dá um Google em Jack Clarke no que pode ou não ser uma montagem

Dizem que a sinceridade é uma virtude. Quiçá, Danny Rose também pensa assim. Em um arroubo de pura franqueza há quase dois anos atrás, o lateral-esquerdo do Tottenham canalizou o zeitgeist da torcida para si e mandou um ultimato para seu clube:

“Não estou pedindo dez jogadores. Estou falando em dois ou três, que não precise pesquisar no Google para saber quem são. Estou me referindo a jogadores reconhecidos”

Em algum outro momento, Rose poderia ser massacrado pelo que disse e pela dubiedade das suas palavras, que sugeriam uma vontade de sair como Kyle Walker já havia feito. Mas tal como seu chute em seu debut contra o Arsenal, Rose acertou no timing ao apontar o óbvio: É preciso pensar grande para ser grande. To Dare Is To Do.

Se Danny Rose soubesse o que viria a seguir, ficaria enojado!

Naquela janela chegaram Davinson Sanchez, de boa temporada no Ajax, Aurier, praticamente expulso do PSG, e Fernando Llorente, referendado a substituir Kane pelo que fez no Swansea. Nomes que ainda que não fossem de primeiro escalão, eram reconhecidos dentro do futebol e balizados pela internet afora no melhor estilo ●Davinson Sanchez — DeSpAcItO mIx● Welcome To Tottenham 2017 | Skills & Goals.

Lucas Moura, contratado na janela seguinte, entra na mesma seara. Já nomes como Foyth e Gazzaniga com certeza demandaram trabalho de investigação para o nosso lateral (e confesso que para mim também).

E parou por aí.

514 dias, duas janelas, uma Premier conturbada, uma final de Champions League, várias reclamações, ZERO entradas e ZERO saídas depois, Danny Rose tira o seu celular do bolso e exclama: Ok Google: Quem é Jack Clarke?

Photograph: Robbie Jay Barratt — AMA/Getty Images

Na iminência de ser o primeiro reforço do Tottenham para a próxima temporada, por módicos £10M, Jack Clarke chega sob a ausência do peso do seu próprio nome.

Tenho pouco a falar do Clarke que entra em campo já que não me recordo de ter assistido a uma partida sequer dele e achar um jogador de futebol no Google difere bastante de achar o perfil daquela pessoa com quem você trocou algumas palavras em uma festa e no dia seguinte só se lembra do nome.

Em uma era de pura informação, com estatísticas pulando pela sua tela através de múltiplos formatos, existe uma certa ciência (alô Moneyball) em determinar se aquele, até então desconhecido, tem seu valor. Se nome fosse o único critério a ser analisado, um certo jovem do MK Dons nunca teria assinado pelo clube.

Com apenas 18 anos e pouca experiência como profissional, somando 2 gols e 2 assistências em 814 minutos distribuídos em apenas 4 jogos como titular, o ponta-direita do Leeds não foi lá uma peça importante no time de El Loco Bielsa mas chamou a atenção daquele que é visto como uma espécie de sucessor espiritual do mesmo.

Nas mãos de Pochettino, admirado por sua aptidão em lapidar jovens, Clarke tem em quem se espelhar.

Contratado aos 18 anos, Lennon passou dez temporadas em White Hart Lane

Em 05/06, após um 9º lugar na temporada anterior, entre nomes tarimbados como Davids e Jermaine Jenas, um ponta-direito de 18 anos foi contratado junto ao Leeds por £1M.

Um dos principais expoentes da era dos pontas burros da Premier League, Aaron Lennon foi titular por boa parte dos seus dez anos em White Hart Lane chegando a disputar duas Copas do Mundo com o English Team.

Se o seu teto, e problemas com sua saúde mental que foram revelados mais tarde, não o permitiu acompanhar o crescimento exponencial do clube, Lennon foi peça fundamental em anos de transição e muitos hão de se lembrar, principalmente Mario Yepes, da sua arrancada que culminou no decisivo gol de Crouch nas oitavas de final da Champions League de 10/11.

Estádio novo, vice-campeonato da Champions, dinheiro no bolso e a cobrança por investimentos cada vez mais explicita pela parte de treinador e jogadores faz deste um período sensível em busca de consolidação: O firmar-se grande, o ser grande, a grandeza nos resultados, a catarse que todos esperam, o grito entalado, o alcance da glória. Atos que não respondem apenas ao presente, mas urgem pelo futuro.

Dizer que Jack Clarke será parte importante disso é um exercício de vidência que eu me nego a fazer. Mas também não há pelo que duvidar.

Outros exemplos como o próprio Danny Rose, que curiosamente também veio do Leeds, o já citado Dele Alli, Kyle Walker e Gareth Bale mostram que há uma boa margem de acertos na prospecção de talentos dos níveis menos badalados do futebol da terra da rainha.

Clarke pode não ser o (primeiro) reforço que 99,9% dos torcedores esperavam, mas, mais uma vez, ressalta a filosofia que os torcedores esperam que o clube tenha.

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