Os seis maiores momentos do Tottenham na Champions League: Milan, 2011

A epopeia em Amsterdã não foi a primeira longe de casa

Pedro Reinert
Galo de Kalsa
4 min readSep 18, 2019

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Antes que o músculo cansado da coxa de Llorente acalmasse a bola inquieta para que Dele, num só toque, a entregasse para a eternidade, eram outras as fábulas que preferíamos contar primeiro que as outras. Histórias pré-VAR, que não viram estádio bilionário, que disputaram holofotes com os blockbusters, que só ensaiavam nos tirar do descaso.

É certo que, neste pouco tempo figurando entre a elite europeia, colecionamos mais dissabores e desamores do que risos e regozijos. Somos calouros curiosos numa festa de gala. Ainda nos sentimos meio xucros e inocentes no meio da sala cheia de magnatas e medalhões. Tomamos os sopapos que a vida gosta de dar, mas não deixamos de criar memórias aconchegantes que fazem nossa relação com a maior competição de clubes do mundo ser meio… agridoce.

Ao longo da fase de grupos, vamos recordar seis grandes momentos do Tottenham na Champions League, mas torcendo para que lista torne-se obsoleta ao fim dessa campanha.

O arranha-céus e o arranha-terras de Milão

O Milan ainda era um pouco temido. Talvez não tanto para os colossos do continente, mas para o Tottenham, o mais novo virgem a entrar no bordel, os rossoneri eram monstros. Nesta, Gattuso, Seedorf, Ibrahimovic e Robinho defendiam as bancadas do Giuseppe Meazza na partida de ida das oitavas de final.

Enquanto o time da casa destoou em qualidade e organização, os visitantes tomaram uma postura destrambelhadamente cautelosa (onde já se viu escalar Steven Pienaar para dar jeito na volância?), e coube a Heurelho Gomes manter o equilíbrio no marcador — foi a atuação celestial do arqueiro garantiu que a equipe de Redknapp retornasse para o segundo tempo ainda com uma luta para lutar.

Na segunda etapa, Redknapp mostrou as armas e atirou seu time em busca do triunfo. Colocou Woodgate, Modric e Kranjcar em campo para inflamar Milão, que sentiu a partida — outrora tranquila — arder em nervosismo e ânsia.

Foi o pequeno croata da camisa 14 que, ao ouvir o fechar das cortinas, deu uma leve pifada para Aaron Lennon ainda saindo de sua própria intermediária. Azza, em forma de eletricidade, arrancou em direção à meta oposta enxergando só um entrave pela frente — Mario Yepes, o último sustentáculo possível da defesa milanesa, que foi triturado por um corte esguio para a direita.

Rápido e desconcertante, o drible deixou Alessandro Nesta vendido, como um carteiro pensando correr atrás do cachorro, e é claro que optou por não correr, porque era inteligente o suficiente para saber que há brigas que deve-se evitar comprar. E Lennon, imaculado, arranhou a terra de San Siro, mas deixou que o arranha-céus fizesse o trabalho sujo.

Peter Crouch usou a perna direita para completar, de chapa, o passe que veio da direita — um movimento traiçoeiro para qualquer finalizador. Felizmente, porém, é esse sempre foi o grande trunfo da criatura.

Deselegante e desengonçado, como sempre, o gigante empurrou a bola para dentro e selou a vantagem espumante dos Spurs numa das maiores catedrais do futebol europeu.

Pena que um angustiado Gennaro Gattuso tenha roubado a cena ao fim da partida enforcando o auxiliar técnico, Joe Jordan, fazendo uma foto para a história. Essa partida poderia ser melhor recordada mundo afora com a imagem de Yepes largado às traças na entrada da área.

Ficha técnica:

AC Milan 0–1 Tottenham

Local: Giuseppe Meazza, Milão

Data: Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2011

Árbitro: Stéphane Lannoy (FRA)

Gol: Peter Crouch, 80’

Cartões amarelos: Mario Yepes e Gennaro Gattuso (Milan)

Milan

4–4–2: Abbiati (Amelia, 18’); Abate, Nesta, Yepes, Antonini; Gattuso, Thiago Silva, Flamini, Seedorf (Alexandre Pato, 45’); Robinho, Ibrahimovic.

Técnico: Massimiliano Allegri

Tottenham

4–2–3–1: Gomes; Corluka (Woodgate, 59’), Gallas, Dawson, Assou-Ekotto; Palacios, Sandro, Lennon, van der Vaart (Modric, 62’), Pienaar (Kranjcar, 76’); Crouch.

Técnico: Harry Redknapp

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