Os seis maiores momentos do Tottenham na Champions League: Real Madrid, 2017

Um golpe terreno na equipe galática

Pedro Reinert
Galo de Kalsa
3 min readOct 22, 2019

--

Sobre essa série de memórias, se você ainda não viu os capítulos anteriores, exercite seu saudosismo lendo aqui e aqui.

Sobre o último jogo na Champions League eu não tenho absolutamente nada a dizer.

Com os pés na terra

O Real Madrid que conquistou e sucedeu La Decima talvez seja o time mais icônico, sólido e intocável da década (tá, trocando um Bale por um Isco, no máximo) — por mais que você odeie, vai saber escalá-lo de cabo a rabo daqui a vinte anos.

O Tottenham visitara estes galáticos duas semanas antes, num enfurecido Santiago Bernabéu, arrancando um empate corajoso. Se antes do embate parecia escandalosa a disparidade técnica entre as duas equipes, depois do apito final ouviu-se um zumbido que incomodava ao querer dizer algo como “porra, dá pra bater nos caras”. A prova real viria dali a meia dúzia de noites sem dormir.

É que bater naquele Real Madrid era impensável. Impensável até para os gigantes do continente. Naqueles anos, era Cristiano Ronaldo quem mandava prender e soltar na maior competição da Europa, e ninguém ensaiava lhe passar a perna sem tomar um arranhão. Já para nós, a Champions League era um campo minado, um território adverso por natureza. 70% pavor, 20% excitação e 10% desconforto. Ainda não parecia nosso lugar. Mas enquanto a gente perdia a cabeça antes da bola rolar com insegurança, ansiedade e medo, os time desfilou sob as luzes do Wembley atestando que ser galático não era grande coisa; valia mais sentir os pés na terra.

Vestido de noiva, o Tottenham protagonizou uma noite para se emoldurar. Kieran Trippier jantou Marcelo e acertou cruzamento atrás de cruzamento. Dele Alli marcou dois gols como um veterano vigoroso e maduro, mas sorriu para Sergio Ramos como um moleque marrento e endiabrado. Eriksen parou o tempo a bel prazer, encharcando a intermediária madridista por pura crueldade. E o jovem Winks aproveitou a ausência de Dembélé para mostrar as credenciais e fazer Casemiro, Modric e Kroos de gato e sapato.

Pochettino venceu o melhor time do mundo com arrogância, mas não uma arrogância petulante ou pedante; foi mais como uma conscientização educada que sussurrou no ouvido de Zidane algo como “fica calmo, é só o nosso trabalho, e pode doer, mas não vai demorar”.

Talvez a única coisa que tenha decepcionado neste desfecho precoce de uma campanha que era para ser nervosa seja o fato de não termos enfiado quatro ou cinco no Real Madrid mais vencedor deste século — o que me faz sorrir outra vez lembrando que eu estava mais nervoso quando o placar já estava em 3–0 do que quando estava só 1–0. Isso é ser Tottenham. Ser obstinado, corajoso e ainda autodepreciativo. Que isso nunca mude.

Ficha técnica:

Tottenham 3–1 Real Madrid

Local: Wembley Stadium, Londres

Público: 83,782

Data: Quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Árbitro: Cüneyt Çakir (TUR)

Gols: Dele Alli (27', 56'), Christian Eriksen (65'); Cristiano Ronaldo (80')

Cartões amarelos: Mousa Dembélé (Tottenham); Sergio Ramos (Real Madrid)

Tottenham

3–5–1–1: Lloris; Alderweireld (Sissoko, 24'), Sánchez, Vertonghen; Trippier, Winks (Dembélé, 66'), Dier, Eriksen, Rose; Alli; Kane (Llorente, 79').

Técnico: Mauricio Pochettino

Real Madrid

4–3–1–2: Casilla; Hakimi, Nacho, Ramos, Marcelo; Casemiro, Kroos, Modric (Hernández, 81'); Isco (Mayoral, 73'); Cristiano Ronaldo, Benzema (Asensio, 73').

Técnico: Zinedine Zidane

--

--