Quem vai substituir Sissoko?

Um quebra galho para o lugar do quebra galho

Pedro Reinert
Galo de Kalsa
4 min readJan 8, 2020

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Na última temporada, só houve um momento de desespero maior do que os segundos finais contra o Ajax: Moussa Sissoko mancando para fora do campo no Etihad Stadium. Com pouca delicadeza, perdemos a mais inimaginável das grandes engrenagens para o que era, até ali, nosso maior jogo da década. E você, assim como eu, pensou “pronto, agora fodeu” ao ver o francês se arrastando pra beirada do gramado.

Não preciso me estender dissecando a trajetória do meio campista em terras britânicas — Nino já o fez muito bem feito. Sabemos que era impossível cogitar que aquele brucutu de 2016 (ou 17, ou 18) se tornaria qualquer coisinha além de um brucutu, mas Pochettino beijou o sapo e Sissoko virou príncipe, carregando a equipe até o palco máximo do futebol europeu.

Passado seu suposto auge, porém, o possante se manteve como pilar da equipe. Mesmo sem a violência pra romper as linhas adversárias com a bola (meio) dominada de outrora, a equipe não se desvencilhou de seu carrilero. Aí, pra celebrar seu fico, Moussa fez o que lhe faltava: um gol. E gostou tanto que logo repetiu a dose. Mas logo ao pensar que tê-lo como referência possa tenha virado coisa boa, os ligamentos do joelho do homem foram pro chapéu.

Pochettino e Mourinho até tentaram, mas não encontraram formas de jogar sem o camisa 17 no time titular

Agora só tem Sissoko em abril, quando as cortinas já estão fechando e o pouco tempo que sobra não é tempo pra nenhuma epopeia. Mas se o próprio homem já era um quebra galho, quem é que pode quebrar o galho dele?

Victor Wanyama

O queniano já foi sombra de N’Golo Kanté na disputa de melhor volante da Inglaterra. E foram bons dias, aqueles, mas já passaram há algum tempo, e desde então ter Big Vic em campo é só dor de cabeça. Seu escasso ritmo de jogo fica mais gritante a cada mês, impedindo-o de executar suas funções de construção e destruição de jogadas com a mesma intensidade, inteligência e vigor.

Negócio é que, também por uma questão racista, Wanyama é por vezes reduzido a seu poder físico; e este, por mais que seja parte importante de seus atributos, é quase nada se comparado à sua capacidade tática e criativa vista durante seu auge — desde a leitura de jogo e exploração de espaços até as esticadas de lançamentos em profundidade e corta-luzes na aproximação. Ou seja: mesmo fora de forma, Victor ainda pode quebrar linhas adversárias de outras formas que não como um trator.

Tanguy Ndombele

Pense na cena do Rei Leão, aquela em que Mufasa vai até aquela beirada ao lado de Simba e diz ao filho que “tudo isso que o Sol toca é o nosso reino” e tal. Sabe? Bem, Mufasa é Dembélé, Simba é Ndombele e o reino é o meio de campo. Pois bem, a inconstância de Tanguy é natural; assim é o ciclo da vida. O problema é que aqui quem fazia as vezes de Timão e Pumba era Sissoko, então fica complicado sair batendo na tecla do hakuna matata, de que tudo vai ficar bem, porque a vida ainda não é que nem a Disney.

Enfim, o jovem francês até poderia cumprir o papel de seu compatriota lesionado, mas sua adaptação implicaria em um problema crucial: a limitação de sua importante presença ofensiva, que seria mais enxuta considerando que boa parte do trabalho de Sissoko consistia em cobrir a lateral direita e servir como apoio defensivo na cabeça da área. Ndombele (ainda) não é um canivete suíço e não se pode exigir dele três ou quatro funções no mesmo setor — sua coxa nem tem dado conta de uma só ultimamente.

Eric Dier

Não.

Oliver Skipp

A minha opção favorita é também a mais perigosa. Skipp é mais forte do que Winks, constrói melhor do que Dier, passa melhor do que Wanyama, defende melhor do que Ndombele e pensa melhor do que o próprio Sissoko, mas sabe-se lá como ele ainda passa menos confiança do que cada um dos citados. Essa insegurança é natural para um atleta recém-promovido da base e só pode ser desmantelada com minutos em campo, é claro, mas o garoto tem um potencial grande demais pra ser queimado num momento tão turbulento.

Luke Amos

É uma cogitação desesperadora, mas a prata da casa faz boa temporada no Loftus Road. Emprestado ao QPR desde julho, Amos já se tornou titular absoluto e é um dos líderes em interceptações da equipe na segundona. E, bem, parece óbvio que o garoto ainda está aquém do nível da Premier League (e, convenhamos, não é nesta encarnação que deve atingi-lo), mas não é justamente isso que define um quebra-galho?

Com 22 anos, Luke ainda não teve uma chance no onze inicial dos Spurs (exceto em amistosos de pré-temporada aqui e acolá), mas já que é elegível para ter seu empréstimo finalizado e voltar ao norte da cidade (bem como Jack Clarke, que já retornou do Leeds), acho que vale considerá-lo no baralho.

Novo contratado?

Rabiot voltou às manchetes e falaram até de Gerson, mas é difícil imaginar que Mourinho convença Levy a abrir (mais) os cofres, ainda mais considerando que a compra definitiva de Lo Celso seja concretizada ainda nesse mês. Aliás, por incrível que pareça, os nomes mais ventilados até o momento são para o setor ofensivo (consequência da lesão de Kane, a princípio). Só nos cabe rezar.

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