Renovar ou não renovar: eis a questão

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
Published in
4 min readJul 19, 2019

“Eriksen” é uma série digna de Netflix com 5 temporadas e uma season finale a la Shonda Rhimes

Piscamos os olhos e voilá: lá vai Christian Eriksen começar sua quinta temporada no elenco do Tottenham. Seis anos de clube é algo muito incomum no futebol moderno™, ainda mais quando se trata de um dos jogadores que outrora era uma das maiores promessas do mundo e hoje está consolidado como um dos melhores meias do globo.

Christian foi revelado no Ajax e teve sua passagem comprada para o norte de Londres logo que os Spurs acertaram a caríssima venda de Gareth Bale em 2013. O dinamarquês chegou junto ao pacotão que embalou Lamela, Paulinho, Soldado, Chadli, Chiriches e Capoue para viagem graças aos 100 milhões de euros (R$315 milhões na cotação da época) que Daniel Levy fez Florentino Pérez desembolsar. Foi a transferência mais cara da história do futebol até aquele momento e seus valores só foram superados em 2017 com as vendas de Neymar para o PSG (222 milhões de euros) e Dembelé para o Barcelona (105 milhões de euros).

Convenhamos que daquele pacote de jogadores, só Eriksen deu certo de verdade. Lamela segue em relacionamento sério com suas oscilações, algo que já lhe ACOMETIA™ desde seus tempos de Roma. Paulinho foi uma lástima que todos os treinadores que o dirigiram custaram a acreditar em sua ruindade. Pochettino, por exemplo, tentou de tudo. Até colocou o brasileiro para jogar de ponta direita, mas nada funcionou. Nem funcionaria.

Eriksen chegou ao Tottenham para ser o substituto de Bale, ainda que jogando em outra posição. A expectativa era tanta que o dinamarquês custou 20 milhões de euros em uma época em que isso era uma dinheirama (Foto: Reprodução/Tottenham)

Chadli foi outro com seus bons momentos, mas tão quanto chegou a mudança de patamar do time na Europa e o antigo camisa 21 foi negociado com o West Brom. Soldado é o caso mais emblemático porque foi uma desgraça tão ruim, mas tão ruim que Tim Sherwood precisou apelar para um atacante da divisão de base, já que o reserva do espanhol também não vivia seus melhores momentos por conta, supostamente, de uma maldição rogada por sua mãe. Mas essa história de Adebayor eu deixo para Fernando Valverde contar. Ah, sim, o garoto da base se chama Harry Kane.

Me recuso a falar de Chiriches e Capoue.

Sobrou Eriksen, que pelo bem ou pelo mal foi o único com regularidade no time titular até aqui. Se por muitas jornadas o camisa 23 flertou com a displicência, mesmo com sua irregularidade o dinamarquês não deixou de ser fundamental ao time. E em todos os times que passou: desde o que apenas sonhava com um retorno continental àquele de hoje, que faz dos ares europeus e aspirações a título uma constância, digamos assim, possível.

“Fico ou nem?”

Traduzindo em miúdos: Eriksen acompanhou a subida de patamar do Tottenham. E isso certamente despertaria interesse dos gigantes do futebol. Seu estilo de jogo cadenciado e sua capacidade de ditar o ritmo de qualquer jogo cairia como uma luva no estilo do Barcelona. Assim como sua leitura, frieza e um potencial enorme para quebrar linhas em passes longos ou rasantes seriam boas armas para o Real Madrid.

Depois da última temporada, com o Tottenham finalista da Liga dos Campeões, já era dada como certa a saída do dinamarquês para um dos dois supracitados. O Real Madrid, em reformulação de elenco, inclusive era o grande favorito para fazer a mudança que seria das mais naturais. Só que ainda não aconteceu.

Se os gols de Lucas Moura na semifinal foram salvadores, os de Eriksen contra a Inter na primeira fase foram fundamentais para que o time não passasse o vexame de cair antes do mata-mata em um grupo onde a INTER de 2019 jogava (Foto: Alastair Grant/AP PHOTO)

Na verdade, a cada dia que passa esse desenrolar parece mais longe de uma concretude. Não há rumores, não há conversas, sequer existem fanfics. Mais ainda, nesta sexta-feira chuvosa em que vos escrevo, chega a notícia de que o Tottenham ofereceu ao descarado uma renovação de contrato que traria um pomposo reajuste salarial. Se hoje ele ganha 90 mil euros por semana, Levy tirou a mão do bolso e jogou ela pra cima oferecendo 200 mil euros a cada sete dias para seu maestro. Uma proposta tentadora, mas nada que os poderosos não possam pagar. O problema é que antes de acertar o salário, é preciso acertar o seu passe. E me perdoem o trocadilho, mas isso é um grande impasse.

De acordo com o site Transfermarkt, especialista em valores de mercado no futebol, Eriksen é o segundo jogador mais valioso do plantel lilywhite, com valor estipulado em 100 milhões de euros. A conversa explanada por setoristas do time é de que o clube não libera seu armador por menos de 150 milhões de libras. Um valor que é até possível nesse mercado louco, mas que ainda assim não é fácil. Ficar em um Tottenham que finalmente coçou o bolso para se reforçar e também agradar um pouco mais os seus jogadores está longe de ser uma má ideia.

O seriado Eriksen, produção do Netflix digna de histeria de seus fãs, ainda não tem um final muito certo. Pode ser que a gente esteja assistindo à season finale sem nem saber, ao mesmo passo que os diretores podem querer ampliá-la por mais algumas temporadas. O jeito é pegar a pipoca e maratonar.

“QUE EPISÓDIO FOI ESSEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE” (Foto: Reprodução/Instagram)

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