É verdade que Kane torcia pro Arsenal?

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
Published in
5 min readJun 25, 2019

Caso isso fosse um artigo científico, o chamaria de “Infância em cheque: as disputas discursivas em torno clube de coração de Harry Kane”. Gostou? Eu também não. O fato é que muito se hoje em dia há poucas dúvidas sobre o amor pelo Tottenham, muito é discutido sobre qual clube o quarto maior artilheiro da história do Tottenham torcia quando era pivete.

Nascido em Londres no ano de 1993, a rivalidade entre Spurs e Gunners nunca foi algo estranho a Harry Kane, afinal de contas ele estava no epicentro do caldeirão. Desde sempre ele quis ser jogador de futebol: a paixão pelo jogo sempre foi o x para o garotinho que aos sete anos ganhou uma oportunidade nas categorias de formação do Arsenal, por onde ficou durante quase um ano antes de ser dispensado sob a justificativa de que era muito gordinho.

Quem deu a dura notícia foi o irlandês Patrick Kane, conhecido internacionalmente como o pai de Kane. Em texto publicado no Players’ Tribune em junho de 2018, Harry contou que o pai utilizou seu bordão pessoal para contar ao garotinho sobre o fim da jornada em Highbury. Dono de uma positividade ímpar, Patrick apenas perguntou se o garoto queria continuar no futebol e ao escutar o sim afirmou: ‘Bom, vamos continuar com isso então’.

“Eu não consigo realmente lembrar o que senti no momento. Para ser honesto, eu não acho nem que eu realmente sabia o que isso significava. Eu era muito jovem. Mas eu lembro como o meu pai reagiu e como isso fez me sentir. Ele não me criticou. Ele não criticou o Arsenal. Ele não pareceu especialmente incomodado de modo algum. Ele apenas disse: ‘Não se preocupe, Harry. Nós iremos trabalhar mais duro e nós iremos continuar e iremos encontrou outro clube, certo?’”, escreveu Kane.

Foram três anos até voltar para a base de um clube de Premier League. Aos 11 anos, Kane ingressou no Tottenham e só deixou de utilizar a camisa Lilywhite quando se profissionalizou: ainda vinculado aos Spurs, ele foi emprestado para Leyton Orient, Millwall, Norwich e Leicester antes de voltar para Londres e, sob o comando de Tim Sherwood, ganhar a titularidade que nunca mais deixou de ser sua.

O motivo para isso é óbvio: o atacante se mostrou uma máquina de gols. Já são cinco temporadas consecutivas balançando as redes por mais de vinte vezes. Mesmo grandalhão, sabe sair da área e consegue tranquilamente jogar como um 10, se for necessário. Aos 25 anos, Harry é um atacante completo e, não fossem as sucessivas lesões, certamente estaria alguns degraus acima de seu nível atual – que já é muito alto.

Por ter jogado na base do Arsenal, Kane tem à sua volta uma história sobre um amor infantil pelo lado vermelho do norte londrino. Basta dar um Google com as palavras “kane arsenal” e você verá que não são raras imagens do goleador com a camisa rival, inclusive em situações de um aparente lazer.

O próprio Kane desmente os boatos, afirmando que seu coração sempre teve um dono. De toda sorte, é inegável a importância do Arsenal para o nascimento dele que se tornou a referência técnica do Tottenham e de toda a Inglaterra.

“Para mim, a rejeição foi o melhor que aconteceu para mim. Quando eu estava amarrando as chuteiras para meu primeiro jogo como titular no dérbi do Norte de Londres em 2015, eu tive uma recordação de quando eu tinha 11 anos, jogando contra o time de base do Arsenal. Foi como um déja vu. Antes de toda partida, eu sempre visualizo cenários na minha cabeça, exatamente como vou marcar gols na partida. Chute com curva de esquerda no canto baixo. Voleio de direita do lado direito da área. Eu sempre fui assim. Eu sou detalhista sobre isso, eu visualizado meus adversários, o corte da grama e tudo isso”, se define.

“Desta vez, eu estava visualizando defensores vestindo o uniforme vermelho do Arsenal e eu fiquei arrepiado. Nós estávamos no túnel e eu pensei. ‘OK. Demorou 12 anos. Mas nós veremos quem estava certo e quem estava errado’. Eu marquei dois gols naquele dia e o gol da vitória aos 41 minutos foi algo que eu nunca nem sonhei visualizar antes de um jogo. Foi uma cabeçada, provavelmente a melhor cabeçada que eu já marquei, e aquele sentimento quando a bola foi para o fundo da rede… Eu nunca senti uma emoção como aquela na minha carreira inteira”, escreveu Harry após marcar o seu centésimo gol na Premier League. Hoje ele tem 126 gols em 178 jogos e é o goleador máximo do North London Derby (NLD), nome do clássico entre Arsenal e Tottenham. São 9 gols anotados.

O contrato de Kane com o Tottenham vai até 2024. Seus números no clube somados às boas apresentações em sua seleção nacional (vale lembrar que ele foi artilheiro da última Copa do Mundo e é capitão da Inglaterra) despertam o interesse de gigantes europeus, mas estima-se Daniel Levy, manda-chuva Lilywhite, só topa iniciar uma conversa de venda a partir do obsceno preço de 300 milhões de libras, valor próximo de 1,5 bilhões de reais.

A discussão sobre para quem o atacante torce é muito divertida e rende assunto em mesas de bar e fóruns na internet. Independente disso, as atuações, atitudes e declarações de Harry para o Tottenham prova que no mínimo aconteceu um desvio de percurso no seu coração. No mínimo, teve uma portabilidade nessa torcida. E que bom pra nós.

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