A precisão da colheita começa com o plantio
Com sistemas que ajudam a traçar linhas reais de plantas é possível reduzir significativamente o pisoteio nos canaviais
Quem vive no campo sabe: toda boa colheita começa com um bom plantio. Todo o manejo realizado entre essas duas etapas, é claro, faz muita diferença. Mas em algumas culturas, como a da cana-de-açúcar, a relação entre as operações que marcam o início e o fim de uma safra tem uma relevância ainda maior. Como um cultivo semi-perene, as plantas de cana passarão por vários cortes durante seu ciclo produtivo, em média de cinco anos. As passagens de colhedoras pelo canavial, porém apresentam um risco a cada ano. Se o plantio não seguir à risca o planejamento, ao final da safra as máquinas podem pisotear as soqueiras, causando danos irreparáveis e impedindo que elas voltem a crescer e produzir no próximo período.
O prejuízo causado pelo pisoteio não é pequeno. Segundo estudo do laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), as perdas nas colheitas custam anualmente cerca de R$ 4,5 bilhões ao setor sucroenergético. Entre os fatores de perdas econômicas durante a operação de colheita, o pisoteio é o mais grave. De acordo com levantamento de Rafael Otto, professor de Solos e Adubação na Esalq/USP, citado pelo Grupo de Apoio A Pesquisa e Extensão (Gape), ele responde em média por 33% de redução na produtividade do canavial.
Um problema deste tamanho exige várias abordagens. A mais avançada é a utilização de ferramentas de sensoriamento remoto para estabelecer a rota mais precisa para as colhedoras e minimizar o pisoteio no canavial. O uso do monitoramento e da análise de imagens, por exemplo, ajuda as usinas a resolver justamente a relação entre plantio e colheita. Dentro do pacote de soluções digitais CANEFIT, voltadas especificamente para a cultura de cana, a agtech suíça GAMAYA lançou no segundo semestre de 2020 o produto Linhas de Colheita com Precisão (ou PHL, de Precision Harvest Lines), especificamente com a finalidade de ajudar a reduzir as perdas na colheita e em outras operações agrícolas através da geração de mapas capazes de orientar o melhor caminho a ser seguido pelas máquinas no canavial. A solução também cria um conceito de precisão nos projetos e em sua execução nas novas áreas a serem plantadas no ano seguinte, com a redução de problemas de paralelismo.
ROTA CERTA
Um dos principais causadores de pisoteio é o fato de os mapas de colheita seguirem as indicações dos mapas dos projetos de plantio. Ocorre que a localização real das plantas no canavial nem sempre corresponde ao indicado nesses projetos de plantio. Em virtude das características do terreno, são frequentes as diferenças entre o projetado e o que foi realizado. E então, quando as máquinas vão a campo, acabam seguindo rotas que trazem danos ao canavial.
Isso não acontece apenas com as colhedoras. Falhas no sinal de GPS podem comprometer os dados obtidos com plantadeiras equipadas com a tecnologia, o que gera informações imprecisas sobre a localização das plantas. Com o uso de dados incorretos, casos de pisoteio de plantas por equipamentos de pulverização também acontecem, tornando ainda maior a perda de produtividade.
INTELIGÊNCIA EM AÇÃO
Por esse motivo, o produto Linhas de Colheita de Precisão prevê a análise de imagens feitas por drones, dentro de especificações de voo indicadas pela GAMAYA, 120 dias após o plantio ou do último corte, ainda na fase inicial de crescimento da cana (as plantas devem estar com tamanho entre 0,7 e 1,0 metro. A solução utiliza algoritmos avançados e inteligência artificial para identificar, de forma automática, as linhas reais onde estão as plantas.
Uma vez inseridos as imagens e os dados completos — o que é feito utilizando-se o Gamaya Uploader, uma plataforma com interface amigável e fácil de usar — a análise é feita em até 72 horas. Os resultados podem ser acessados online na plataforma Gamaya Viewer, onde podem ser gerados relatórios e mapas com os melhores caminhos para o maquinário agrícola e dados precisos aos pilotos automáticos, exportando em arquivos PDF ou como mapas compatíveis com todos os equipamentos de piloto automático operados no Brasil em pulverizadores e colhedoras.
Por não serem desenhadas para fazer manobras bruscas, as colhedoras precisam seguir trajetórias suaves. Com a solução PHL, os mapas já são desenhados para que o maquinário possa ser utilizado, de forma total, do começo ao fim da linha, com o menor índice de pisoteio. Precisos e georreferenciados, os mapas gerados podem ser utilizados também nas operações mecanizadas de fertilização, pulverização, com assertividade superior ao GPS. A acurácia fica na faixa de 90% no comprimento das linhas e a precisão é de até 10 centímetros na localização das plantas. Assim, permite a avaliação da qualidade e do paralelismo das linhas de plantio e proporciona a otimização das operações de campo durante todo o ciclo de produção. E, é claro, aumenta a eficiência e a qualidade da colheita e incrementa a produtividade e a longevidade do canavial.
