Os Fantasmas de Tsushima

As histórias dos personagens e os fantasmas que os assombram.

André Bottino
Game Clube
4 min readAug 3, 2022

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Já há algum tempo estive de olho em Ghost of Tsushima, lançado em 2020, e finalmente tive a oportunidade de jogá-lo por conta da nova PS Plus. A sua história se passa majoritariamente na ilha de Tsushima em 1274 durante uma invasão Mongol que pretende conquistar todo o Japão e usar esta ilha como porta de entrada. Jin Sakai, um samurai do clã Sakai e que serve ao Lorde Shimura, junto com outros samurais tentam repelir esta invasão e sofrem uma perda devastadora, onde quase todos os samurais são mortos. Por sorte e com uma ajuda inesperada, Jin consegue sobreviver e começa sua jornada para derrotar os mongóis, custe o que custar, o que o leva a refletir sobre sua honra, história e determinação, procurar aliados e utilizar todos os recursos disponíveis ao máximo.

Fonte: https://www.reddit.com/r/ghostoftsushima/comments/jalf2s/some_of_my_favorite_ghost_of_tsushima_screenshots/

Muito foi comentado sobre as belíssimas paisagens do jogo e, realmente, devo conceder que são extraordinárias: do céu ao chão, detalhes incríveis, me peguei impressionado diversas vezes ao longo de minha jornada e apenas parado observando o meu entorno. No entanto, algo inesperado chamou mais a minha atenção do que as paisagens: os personagens e suas histórias. Antes de começar a jogar eu tinha uma pequena noção do que esperar das mecânicas de combate e das vistas incríveis, mas sobre a história em si eu sabia muito pouco, então foi uma agradável surpresa quando comecei a fazer as sidequests que apareciam no meu caminho. Eu naturalmente gosto de completar todas as sidequests possíveis só que desta vez fui com muito gosto para saber o que iria acontecer e como os personagens que me acompanhavam iriam lidar.

Simples em termos de mecânicas, as missões consistiam basicamente em matar algum inimigo, se esgueirar pelas sombras e conversar com algum NPC. Entretanto, suas temáticas eram sempre muito maduras e me colocavam a refletir sobre o certo e o errado, o que era honroso ou não, perdoar ou não perdoar, nada era preto no branco e as camadas que as mais simples missões continham me fascinaram.

Em algum dado momento um personagem comenta que “nenhuma guerra é bonita” e definitivamente podemos ver isso na história: as pessoas sofrem perdas terríveis, são consumidas pela vingança, ódio ou luto, são traídas por aquelas que mais confiavam, forçadas a fazerem escolhas que não possuem uma boa alternativa. O jogo captura com excelência a dor dessas pessoas, seus olhos expressam de maneira clara o que sentem e isso mexeu comigo.

No decorrer do jogo seguimos alguns personagens auxiliares em suas missões pessoais para recrutá-los como aliados contra o exército invasor e a cada nova missão uma nova camada era adicionada, muitas vezes com algum fator inesperado e que talvez nem fosse tão importante assim para o desenvolvimento daquela trama, mas que humanizavam os personagens e os deixavam mais realistas. E isso não era restrito às missões de seus aliados, é comum estar explorando o vasto mapa e se deparar com uma pessoa em apuros e aos prantos, com uma história que merece ser escutada. Algumas missões sequer são marcadas nos seus registros ou dão prêmios, mas pela curiosidade de saber o que elas guardavam eu as fazia mesmo assim, e nem uma vez sequer eu me arrependi. Até mesmo as missões da DLC da ilha Iki também não desapontaram.

Masako Adachi, uma das aliadas recrutadas ao longo da história.

Minha única crítica é que essas missões são muito curtas e acabam rápido, me deixavam sedento por mais e com vontade de avançar na história principal apenas para descobrir o desenrolar das tramas. Não critico nem a linearidade e falta de escolhas nos diálogos e missões, acredito que ajudaram na minha imersão no jogo e observar o que acontecia do ponto de vista de Jin, que, por sinal, foi o personagem que achei mais fraco por uma boa parcela do jogo, apenas no final que começou a mostrar sua verdadeira face e brilhar. Felizmente a DLC explora mais a fundo os sentimentos de Jin em uma viagem muito profunda ao passado, onde pensamentos sombrios permeiam vários momentos da aventura, que para mim são uma alusão à depressão.

Fonte: https://www.reddit.com/r/ghostoftsushima/comments/jalf2s/some_of_my_favorite_ghost_of_tsushima_screenshots/

No final as horas investidas no jogo valeram muito, me surpreendi com as experiências que tive, que foram bem além do que eu podia imaginar. Claro que o jogo não é perfeito (sim, estou olhando para vocês, missões com escaladas e templos escondidos), mas com certeza é mais do que apenas um rostinho (gráfico) bonito.

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André Bottino é graduando em Estudos de Mídia, membro do GameClube e do mediaLudens — grupo de pesquisa em mídias digitais, experiência e ludicidade, e bolsista PIBIC na Universidade Federal Fluminense.

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André Bottino
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Gamer (?) | Estudos de Mídia (UFF) | Aspirante a pesquisador de Game Studies | Game Clube UFF | GP medialudens | @megadeds