Os Fantasmas de Tsushima
As histórias dos personagens e os fantasmas que os assombram.
Já há algum tempo estive de olho em Ghost of Tsushima, lançado em 2020, e finalmente tive a oportunidade de jogá-lo por conta da nova PS Plus. A sua história se passa majoritariamente na ilha de Tsushima em 1274 durante uma invasão Mongol que pretende conquistar todo o Japão e usar esta ilha como porta de entrada. Jin Sakai, um samurai do clã Sakai e que serve ao Lorde Shimura, junto com outros samurais tentam repelir esta invasão e sofrem uma perda devastadora, onde quase todos os samurais são mortos. Por sorte e com uma ajuda inesperada, Jin consegue sobreviver e começa sua jornada para derrotar os mongóis, custe o que custar, o que o leva a refletir sobre sua honra, história e determinação, procurar aliados e utilizar todos os recursos disponíveis ao máximo.
Muito foi comentado sobre as belíssimas paisagens do jogo e, realmente, devo conceder que são extraordinárias: do céu ao chão, detalhes incríveis, me peguei impressionado diversas vezes ao longo de minha jornada e apenas parado observando o meu entorno. No entanto, algo inesperado chamou mais a minha atenção do que as paisagens: os personagens e suas histórias. Antes de começar a jogar eu tinha uma pequena noção do que esperar das mecânicas de combate e das vistas incríveis, mas sobre a história em si eu sabia muito pouco, então foi uma agradável surpresa quando comecei a fazer as sidequests que apareciam no meu caminho. Eu naturalmente gosto de completar todas as sidequests possíveis só que desta vez fui com muito gosto para saber o que iria acontecer e como os personagens que me acompanhavam iriam lidar.
Simples em termos de mecânicas, as missões consistiam basicamente em matar algum inimigo, se esgueirar pelas sombras e conversar com algum NPC. Entretanto, suas temáticas eram sempre muito maduras e me colocavam a refletir sobre o certo e o errado, o que era honroso ou não, perdoar ou não perdoar, nada era preto no branco e as camadas que as mais simples missões continham me fascinaram.
Em algum dado momento um personagem comenta que “nenhuma guerra é bonita” e definitivamente podemos ver isso na história: as pessoas sofrem perdas terríveis, são consumidas pela vingança, ódio ou luto, são traídas por aquelas que mais confiavam, forçadas a fazerem escolhas que não possuem uma boa alternativa. O jogo captura com excelência a dor dessas pessoas, seus olhos expressam de maneira clara o que sentem e isso mexeu comigo.
No decorrer do jogo seguimos alguns personagens auxiliares em suas missões pessoais para recrutá-los como aliados contra o exército invasor e a cada nova missão uma nova camada era adicionada, muitas vezes com algum fator inesperado e que talvez nem fosse tão importante assim para o desenvolvimento daquela trama, mas que humanizavam os personagens e os deixavam mais realistas. E isso não era restrito às missões de seus aliados, é comum estar explorando o vasto mapa e se deparar com uma pessoa em apuros e aos prantos, com uma história que merece ser escutada. Algumas missões sequer são marcadas nos seus registros ou dão prêmios, mas pela curiosidade de saber o que elas guardavam eu as fazia mesmo assim, e nem uma vez sequer eu me arrependi. Até mesmo as missões da DLC da ilha Iki também não desapontaram.
Minha única crítica é que essas missões são muito curtas e acabam rápido, me deixavam sedento por mais e com vontade de avançar na história principal apenas para descobrir o desenrolar das tramas. Não critico nem a linearidade e falta de escolhas nos diálogos e missões, acredito que ajudaram na minha imersão no jogo e observar o que acontecia do ponto de vista de Jin, que, por sinal, foi o personagem que achei mais fraco por uma boa parcela do jogo, apenas no final que começou a mostrar sua verdadeira face e brilhar. Felizmente a DLC explora mais a fundo os sentimentos de Jin em uma viagem muito profunda ao passado, onde pensamentos sombrios permeiam vários momentos da aventura, que para mim são uma alusão à depressão.
No final as horas investidas no jogo valeram muito, me surpreendi com as experiências que tive, que foram bem além do que eu podia imaginar. Claro que o jogo não é perfeito (sim, estou olhando para vocês, missões com escaladas e templos escondidos), mas com certeza é mais do que apenas um rostinho (gráfico) bonito.
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André Bottino é graduando em Estudos de Mídia, membro do GameClube e do mediaLudens — grupo de pesquisa em mídias digitais, experiência e ludicidade, e bolsista PIBIC na Universidade Federal Fluminense.