Por que Death Stranding é o jogo mais importante da década

Iasmin Barbosa
Game Clube
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5 min readNov 30, 2019

P.T. foi uma demo do que seria um novo jogo para a clássica franquia Silent Hill, com a colaboração entre Hideo Kojima e Guillermo del Toro, que deixou todo mundo completamente extasiado. Embora tenha sido apenas um teaser jogável, ele conseguia ser absurdamente aterrorizante de uma forma simples, ajudando a criar todo um hype sobre como estaria o jogo final. Contudo, esse projeto nunca pôde ser finalizado visto que o Kojima saiu da Konami e começou a trabalhar no seu próprio estúdio. Apesar da frustração que abalou os fãs, uma faísca se acendeu quando Death Stranding foi anunciado. Desde os seus primeiros trailers, ninguém sabia exatamente do que iria se tratar esse jogo e isso fez com que a curiosidade em volta dele aumentasse. Agora que ele foi lançado, muitos jogadores conseguiram enxergar o seu enorme potencial que pode levá-lo a ser considerado o jogo mais importante da década.

Este texto é parte de uma série de artigos do Game Clube que revisita os maiores jogos da década de 2010. Novos artigos às terças e sextas-feiras!

A dinâmica de Death Stranding é completamente única. O objetivo fundamental do jogo é reconstruir a América, só que para isso acontecer é necessário que se crie conexões. Por esse motivo, Sam Porter, personagem principal, precisa sair pelo gigantesco mapa realizando entregas que serão capazes de unir as pessoas. Basicamente, um “Correios Simulator”. Esse não é um tipo de jogo que se vê todo dia, o que faz com que, de certa forma, ele tenha uma energia especial. Até mesmo o próprio criador, Hideo Kojima, afirmou em um tweet que Death Stranding é um gênero totalmente novo denominado “strand game”.

Tweet do Hideo Kojima explicando o conceito do jogo.

Por se tratar de um jogo que busca ser inovador, é de se esperar que a sua jogabilidade tenha um espírito completamente diferente. Vão existir certos momentos que haverá mais ação, mas o foco principal de death stranding não é esse. O Sam não veio aqui para abater os inimigos, o propósito é ajudar as pessoas com as suas entregas. O jogo chega a um certo nível que você não ajuda apenas os personagens, mas também outros jogadores no modo online. Ao construir ou colocar coisas no caminho que buscam facilitar a sua jornada, outros jogadores também poderão usufruir disso. Logo, se você, por exemplo, criar uma ponte, ela irá existir no mundo de outros players e eles poderão usar ela. Isso também vale para as escadas que podem ser inseridas, cordas, placas de aviso e entre outros. Ainda é possível deixar likes nessas estruturas. Outro elemento interessante são os armários compartilhados. Neles você pode doar itens para outras pessoas ou pegar o que estiver precisando no momento. Dessa forma, essa dinâmica online serve, essencialmente, para você ajudar outros players, criando, assim, um sistema de interações extremamente colaborativo e empático.

Imagem de uma parte da gameplay em que mostra a construção de um jogador

Como dito antes, apesar de não ser um elemento principal, existirão momentos de ação no jogo. Se o jogador passar por um território de MULAs, que são os viciados em roubar cargas, eles iram tentar atacá-lo. Você poderá tentar fugir, mas se estiver encurralado não terá alternativa, vai ter que enfrentá-los. Se eles conseguirem neutralizar o Sam, toda a sua carga será roubada, fazendo com que o jogador tenha que voltar para o acampamento deles para recuperar os objetos. Além disso, também existem os assustadores EPs, criaturas paranormais que ao entrar em contato com um humano causam uma grande explosão denominada “Obliterações”. Para lutar com eles, é necessário de armas que contenham fluidos do Sam, como fezes, urina, água do banho ou sangue. Contudo, é possível escapar deles de um modo furtivo. Ainda tem cenários de guerra que aparecem quando o personagem se encontra com o Cliff Unger. Desse modo, Death Stranding não fica preso em apenas um estilo de gameplay, fazendo uma mistura que deixa o jogo cada vez mais interessante.

Por ser um jogo que quer se diferente, é óbvio que as críticas ficam divididas. Muitos vão gostar dessa dinâmica, mas outros vão se cansar rápido. Death Stranding é um jogo lento, tanto no ritmo da sua gameplay como na sua narrativa. Em diversos momentos, ele vai ser extremamente exaustivo. O jogador pode se entediar fácil com as mecânicas para administrar suas cargas, tentar deixá-las balanceadas nas costas do Sam, criar rotas ou de tanto tropeçar em rochas e quase ser levado pela correnteza de alguns riachos. Porém, isso não significa que o jogo é ruim ou chato, é apenas uma questão de estilo.

Apesar da narrativa seguir um ritmo lento, ela é bastante complexa e rica de elementos. Dentro do jogo, vão existir diversos conceitos que dão uma impressão de que está acontecendo muita coisa dentro da história. É bem provável que você sinta a necessidade de anotar cada nome ou explicação para não se perder dentro desse enorme mundo. Além disso, Kojima afirmou em uma entrevista que se inspirou no cenário político atual para desenvolver essa trama, principalmente envolvendo o BREXIT e o Trump.

“O presidente Trump agora está construindo um muro. Também temos o Brexit, onde o Reino Unido está tentando sair; há muitas paredes e pessoas pensando apenas em si mesmas no mundo” — Disse o renomado diretor durante a sua entrevista para a BBC. (link: https://www.bbc.com/news/newsbeat-50172917)

“A era de hoje é sobre o individualismo. Cuidar um do outro é o que faz as pessoas se sentirem bem. Sempre fomos assim no passado, quero que as pessoas se lembrem disso e sintam isso no meu jogo.”

Foto em que mostra Lucy, Bridget e Sam.

Portanto, Death Stranding surge com uma energia totalmente única, carregando a marca de um dos mais importantes diretores do mundo dos games. Com grandes títulos na sua carreira, como Metal Gear, Kojima continua revolucionando nas suas produções. Contando com um elenco renomado, uma ótima trilha sonora, gráficos lindos, uma narrativa e jogabilidade complexa e atual, esse jogo inovou e, com certeza, fechou o ano com chave de ouro, podendo, assim, se tornar o jogo mais importante da década.

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Iasmin Barbosa
Game Clube

Graduanda em Estudos de Mídia na UFF e escrevo umas coisinhas às vezes.