Por que The Walking Dead é o jogo mais importante da década

Felipe Coelho
Game Clube
Published in
5 min readDec 7, 2019

Quando pensamos devidamente nos aspectos que influenciariam na decisão de um título como o mais importante da década, podemos chegar a alguns elementos que caberiam como argumentos: gráficos revolucionários, game play inovadora, trilha sonora cativante, multiplayer competitivo, dificuldade desafiadora, entre outros.

Lendo o parágrafo acima, talvez você esteja esperando que eu diga que The Walking Dead entrega tudo isso aos fãs. Infelizmente, isso não acontece. Mas não fique desapontado, existem sim grandes motivos para que eu aprecie tanto esse jogo.

Este texto é parte de uma série de artigos do Game Clube que revisita os maiores jogos da década de 2010. Novos artigos às terças e sextas-feiras!

Em 2012, a Telltale Games ficou incumbida de dar prosseguimento ao hype e todo sucesso da franquia de zumbis do criador Robert Kirkman, que há anos dominava o gênero nos quadrinhos. Ao mesmo tempo em que na televisão se aproximava do auge de sua audiência e se preparava para introduzir um dos arcos mais importantes de sua narrativa aos telespectadores.

Mais precisamente no mês de Abril, fomos apresentados a história envolvente dos personagens Lee e Clementine. Assim como na trama de suas mídias “irmãs”, o jogo mostra a luta pela sobrevivência de pessoas comuns diante de um apocalipse zumbi sem realmente entregar uma explicação sobre como todo esse inferno começou.

Assim que iniciamos o jogo assumimos o controle de Lee Everett, um professor universitário condenado por assassinato, sendo transportado por uma viatura policial para a prisão. No caminho, Lee e o policial que o conduzia são surpreendidos por um zumbi, sofrem um acidente e é a partir desse momento que começamos a perceber as primeiras consequências e todo o caos instaurado na sociedade recém afetada por um apocalipse.

Antes de prosseguir, gostaria ainda de destacar a importância de um protagonista negro — nesse caso, afro-americano — em um game de uma franquia tão importante. São pequenos, porém importantes passos na busca por uma representatividade maior.

Mas, voltando ao jogo, não demora para que na pele do protagonista encontremos a outra personagem principal, a pequena Clementine. E é a partir dessa relação fraternal, quase que uma relação entre pai e filha, que o game constrói suas bases.

The Walking Dead pode ser considerado um jogo de aventura, mas não é aquela aventura convencional. Dá para compará-lo a uma montanha-russa. Terão momentos em que a situação estará tranquila e os diálogos serão longos, mas isso muda em questão de segundos quando uma horda de zumbis aparece, colocando todos em perigo. E a partir daí, o que fazer?

É esse um dos pontos altos dessa obra. TWD é o tipo de jogo que lhe permite “tomar suas próprias decisões” — ou pelo menos te entrega essa sensação, já que a história é linear — sejam elas moralmente corretas ou não.

Você tem a liberdade de ser ríspido e “explodir” com um personagem que cometeu um erro ou simplesmente ser compreensível e amável.

Você pode tentar salvar um companheiro de grupo de uma horda de zumbis ou ser egoísta e deixá-lo para morrer.

O jogo te permite, literalmente, escolher entre ser um “babaca” ou um “nice guy”. Escolher entre salvar X ou salvar Y. E todas essas decisões devem ser tomadas em questão de segundos, sem ter muito tempo para pensar ou refletir qual caminho seria o melhor possível.

E esse é um dos elementos que acho mais interessante desse game. Eu e você somos designados a missão de sobreviver ao apocalipse zumbi e proteger a pequena Clementine dos riscos desse mundo caótico.

Como iremos fazer isso? Cada um escolherá um caminho diferente. Tomando suas “próprias” decisões. Eu posso ensinar Clem a atirar com uma arma. Você não. O jogo entenderá essa dinâmica, essas escolhas irão nos acompanhar durante todo enredo e vão interferir diretamente no progresso da história.

É Kenny, você é muito chato.

Falando um pouco sobre as interações, é claro que a relação Lee-Clem é o foco principal, mas também vamos de encontro a outros personagens carismáticos e que podem te fazer criar uma relação tanto de amor, quanto de ódio — um abraço, Kenny.

O jogo foi disponibilizado em capítulos, como normalmente fazem em jogos com a temática “point-and-click”. Mas o importante aqui é como esses intervalos foram bem construídos. Toda a narrativa é contada em doses quase que perfeitas e que contribuem para que esses episódios sejam interessantes, te prendam e te deixem com aquela sensação tanto dos quadrinhos como do seriado de: “Eu preciso muito saber o que acontece no próximo capítulo.”

Parte disso, graças ao excelente trabalho de escrita da Telltale que nos entrega uma narrativa única, emocionante, com personagens e personalidades credíveis — com destaque para a dupla principal, que fez um belíssimo trabalho de atuação — , e que alcançou com perfeição o agrado do autor que vos escreve.

Tudo isso alternando entre momentos de vários sustos, tensão e escolhas difíceis com cenas tocantes e comoventes em um universo caótico com um visual cartunesco —o que traz uma singularidade genuína ao jogo.

Nunca irei esquecer os minutos finais da história. Até hoje lembro muito bem dos créditos descendo e a música de fundo tocando enquanto eu me acabava de chorar ao ponto de soluçar. Nem minha mãe, nem minha ex-namorada entenderam o motivo de um jogo ter me deixado nesse estado, mas como poderiam? Só jogando para descobrir…

Pelo poder de “liberdade” de escolha nas ações, por ter um roteiro impecável, personagens cativantes e por saber muito bem como utilizar as emoções do próprio jogador ao seu favor, The Walking Dead: The Game faturou o prêmio de Jogo do Ano (Game of the Year) em 2012 e o prêmio de experiência inesquecível no meu coração.

E por isso, na minha humilde opinião, é o jogo mais importante da década.

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