Stray e Ambientação

Gustavo Dames
Game Clube
Published in
4 min readAug 4, 2022

Stray é um jogo sobre gatos. Sobre humanos, sobre robôs, sobre um bichinho laranja esquisito e sobre ambientação. Ao se perder de sua família, você (o gato) é obrigado a se aventurar por um esgoto para reencontrá-los, onde você encontra muitas trapalhadas e diversão (para o jogador, não para os habitantes do local)! Mas não é disso que eu quero falar.

Em Stray, todas as lacunas para te deixar imerso em um jogo são preenchidas. Quando jogamos com protagonistas humanos, a interação e ambientação de um jogo são fáceis de se criar, pois é um mundo comparável. Esse personagem, seja qual for, é humano e tem relações. Eu consigo ver e entender essas relações. Mas e com um gato que não entende sua língua e seu alfabeto, além de está ali sozinho? Como ambientar e te proporcionar uma experiência completa?

Ao começarmos o jogo, na tela, vemos uma mensagem que te recomenda a jogar com um controle para uma maior imersão e acrescento: usem um fone, de preferência! Ao longo do tutorial, você é apresentado a um robozinho chamado B12, que está em busca de um cientista. Em troca de ajudá-lo, ele traduzirá as mensagens nessa língua estranha para você, além do que se é falado por ali. Então, B12 vira uma mochila para você que, claro, inicialmente detesta.

A partir daí, você progride. Faz os primeiros puzzles e para pra admirar a cidade pela primeira vez. E pela segunda. E terceira… Os letreiros são curiosos, sem B12 você não entenderia. Alguns NPCs conversam em sua rotina e acrescentam para a construção da personalidade daquele local. Sempre na sua linguagem oficial. O que é extremamente incômodo nos momentos em que você não está com B12.

Ao progredir pelo primeiro arco local, alguns personagens com motivações diferentes te guiam pela cidade. Uma missão principal ali, uma sidequest aqui e nenhum tempo é gasto em vão. Desde o observar a paisagem ao catar partituras para um NPC em específico, tudo é bem recompensado. E então, você parte para o segundo arco, que não só complementa toda a história, como é um ambiente completamente novo dentro do mesmo ecossistema e que faz a integração perfeita com o terceiro arco, onde você troca insanamente a ambientação dessa cidade cyberpunk.

Os estímulos visuais são mais frequentes devido a cidade ser mais movimentada, porém isso não diminui a beleza específica do jogo, que é, acima de tudo, o que mais me fascina. São robôs. Eles são programados fora e dentro do jogo, mas agem de forma própria. Alguns com questionamentos filosóficos como “o barco de Teseu”, outros com música, pintura, justiça, saudade e carinho.

A linearidade do jogo não te atrapalha de forma alguma, não te obriga a seguir caminho específico e nem te apressa. O jogo não precisa de pressa. Tudo está ali para você apreciar e entender um pouco mais de quem são esses robôs, quais seus intuitos e motivações.

Além do botão de miar, poder arranhar e derrubar objetos aleatórios, o jogo te incentiva a fazer o que um gato de rua faz. Beber água das poças suspeitas, deitar em lugares inusitados, interagir e receber interações de coisas aleatórias, espreitar e resolver os mistérios de um domo pós-apocalíptico.

Com uma história linda que progride de forma fascinante te fazendo pensar sobre alguns aspectos filosóficos e humanos, se revoltando cada vez mais com o ambiente em que você está e movimentando tudo como peças de xadrez observadas por um profissional, Stray é um jogo que merece toda atenção do mundo. É um ode aos gatos e suas sutilezas.

Três recomendações do Dames: Jogue Stray, ouça a trilha sonora de Stray e adote um gatinho de rua.

Gustavo Dames é graduando do curso de Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense, contador de histórias e membro do Game Clube.

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