As ocupações dos candidatos de acordo com o cargo político pretendido

Judite Cypreste
Ganha-pão
Published in
6 min readAug 27, 2018
O pãozinho funciona como uma espécie de eu lírico.

Na primeira etapa da nossa análise, vamos começar pelos cargos políticos. Será que alguns cargos são mais disputados por médicos? Onde estão os atendentes de telemarketing nessa história?

Antes de tudo, é preciso realizar o download dos dados disponíveis no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que já informam o quantitativo e a porcentagem dos em determinada ocupação para determinado cargo.

Site do Tribunal Superior Eleitoral.

DEPUTADOS

Deputados estaduais e distritais

Começaremos por aqueles que são responsáveis por representar o povo na Assembléia Legislativa. Os que legislam, propõem emendas e projetos de leis. Que fiscalizam o trabalho do governador e julgam as contas anuais do executivo estadual. Aqueles que têm em seu poder a criação de Comissões Parlamentares de Inquérito, as famosas CPIs, que investigam o que pode estar errado na administração. Ah, e ainda são os responsáveis por fixar os salários do governador, vice-governador e, bom, deles mesmos.

Na nossa relação ocupação x deputado estadual, vamos nos deparar com algo repetitivo em outras análises: a presença da categoria “Outros”. No site do TSE, não há uma explicação sobre o que se levou a categorizar ocupações dentro desta categoria. Podem ser youtubers ou até atrizes de cinema. Um e-mail foi enviado para o TSE pedindo explicações sobre quais seriam as ocupações e o que levariam elas a serem classificadas nesta categoria tão genérica. Ainda não houve nenhum retorno do órgão.

Passe o mouse em cima dos quadrados para ver a ocupação e a quantidade de candidatos.

Empresários, advogados e comerciantes, que são líderes também na candidaturas de outros cargos, estão entre as cinco ocupações que mais tentam uma vaga para deputados estaduais.

Outros candidatos almejam um cargo de maior importância no legislativo do país. No total, 634 vereadores tentam sair do poder legislativo municipal para uma vaga na Casa Legislativa estadual.

Figurando como únicos em sua profissão, existem candidatos que são salva-vidas, office-boy e até relojoeiro, profissão bem rara nos dias atuais. Aos que acreditam em signos, um astrólogo pode ser o seu candidato ideal.

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Os deputados distritais são eleitos da mesma forma que os deputados estaduais. De acordo com a Constituição Brasileira, eles acumulam as funções dos municípios e dos estados. A cada quatro anos, são escolhidos 24 deputados distritais, que vão atuar na Casa Legislativa do Distrito Federal.

Nos primeiros lugares, a diferença da capital do Brasil para as demais regiões já se revela: servidores públicos estaduais e federais aparecem, respectivamente, em terceiro e quarto lugar na corrida eleitoral.

Deputados federais

Deputados Federais, aqueles que tem o poder de legislar e de aprovar medidas provisórias dos presidentes. Os que fiscalizam o Poder Executivo, que aprovam o Orçamento da União. E como não poderia deixar der ser, também podem criar uma CPI que pode, inclusive, instaurar um processo de impeachment contra os presidentes e vice-presidentes da República.

Uma pausa na análise para uma lembrança:

No processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando ficamos vidrados por quase 10 horas na frente da televisão, as seguintes frases foram ditas nas justificativas ao voto da continuação do processo:

“Feliz aniversário, Ana, minha neta.” — Sérgio Moraes (PTB-RS);

“Por causa de Campo Grande, a morena mais linda do Brasil, o voto é sim.” — Mandetta (DEM-MS);

“Pela paz de Jerusalém, eu voto sim” — Ronaldo Fonseca (PROS-DF); entre tantas outras.

E caso você queira relembrar como votou os Deputados Federais na ocasião dos processos de impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer e Eduardo Cunha, deixo linkados alguns dos veículos de informação que registraram estes votos.

Aproveito para indicar o @ImpeachmentBot, no Twitter. Elaborado pelo meu amigo jornalista Rodrigo Menegat, o robô cria frases juntando trechos das justificativas dos deputados federais na época da votação do processo. Na primeira vez que vi, gargalhei por quase todas as horas que gastei assistindo a votação.
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Alguns vereadores (270 no total) quiseram dar um salto maior que a cadeira legislativa estadual e foram tentar uma vaga na Câmara Federal. Ao todo, 236 médicos querem largar os jalecos brancos por ternos e gravatas. E com dois candidatos cada, profissões curiosas como garimpeiros, artistas de circo e atendentes de lanchonetes também aparecem na análise.

Falando em deputados federais, deixo aqui outra sugestão, desta vez do projeto Serenata de Amor. Através da robô Rosie, são analisadas e identificadas suspeitas em gastos de deputados federais em exercício de sua função. A Rosie avisa no Twitter e pede a seus seguidores que a ajudem a investigar. Ás vezes alguns candidatos a respondem… .

SENADORES

Atualmente, 352 candidatos tentam uma vaga para o Senado Federal. Cada estado e o Distrito Federal vão eleger três senadores para um mandato de oito anos, onde eles terão, além de outras funções, a de propor novas leis, normas e alterações na Constituição. Os senadores possuem também o poder de julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, além de outras figuras.

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Pode ser que uma banda seja formada no Senado, caso sejam eleitos os dois músicos e o cantor que são candidatos. Já os professores do ensino superior, médio e municipal, quando somados, ultrapassam o número de senadores que tentam a reeleição.

Suplentes

“§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes.” — Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Apesar de não serem escolhidos por voto direto, os suplentes possuem o mesmo salário e o mesmo direito ao auxílio-moradia dos senadores. Um levantamento realizado pelo G1, afirmou que dos 81 senadores que foram eleitos entre 2010 e 2014, 41 suplentes assumiram em algum momento o cargo de senador. No impeachment de Dilma, cinco senadores eram suplentes e apenas um foi contra o prosseguimento a admissibilidade do processo.

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Teremos, ao todo, dez candidatas que são donas de casa como candidatas de senadoras suplentes. Mas são os empresários que lideram, com 105 candidatos.

GOVERNADORES E VICES

E o que dizer dos chefes do Executivo Estadual? Bom, são eles os responsáveis pela segurança pública, a infraestrutura, educação, saúde, orçamento e até mesmo no sistema prisional do estado. Além disso, podem também criar projetos de lei, desde que estas estejam sob competência do estado. Conhece a a recente polêmica da lei contra a caça de javalis no estado de São Paulo? Pois bem, ela foi sancionada pelo governador em atual exercício e é uma lei estadual. Mais detalhes dela você pode encontrar aqui.

E o que fazem para sobreviver os que pleitam ao cargo de governadores? Veja a seguir:

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Parece que a advocacia não está mais tão interessante para estes 48 advogados, que chegam a 24% dos candidatos a governador e vice governador dos estados brasileiros.

PRESIDENTE E VICE

É chegada a hora de falar do mais alto cargo do executivo do país. Aqueles que são chefes de Estado e chefes de Governo. Que podem criar ou extinguir ministérios. Que nomeiam comandantes das Forças Armadas, ministros do STF e presidentes do Banco Central do Brasil. Podem propôr leis, e são os responsáveis pela lei orçamentária nacional. Cuidam da segurança nacional, incluindo, é claro, as nossas fronteiras. Podem também decidir sobre posicionamentos acerca de organismos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas).

No gráfico a seguir figuram os nomes dos candidatos a Presidência da República e os vices.

Passe o mouse em cima dos quadrados para ver a ocupação e quantidade de candidatos. Para ver seus nomes, clique em na ocupação pretendida.

Nestas eleições, teremos dois engenheiros e historiadores disputando uma vaga na Palácio da Alvorada.

Um dos candidatos a presidência, que atualmente é Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, preferiu a ocupação “Membro das Forças armadas”, ao invés do cargo que ocupa desde 1991. Um outro Deputado, que também é do Estado do Rio, preferiu informar a ocupação na Câmara, em vez de sua atividade como sargento do Corpo de Bombeiros carioca.

Do lado dos vices dos presidenciáveis, os professores quase chegam a metade do número de candidatos.

Obrigada pela leitura e até a próxima análise do Ganha-pão.

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Judite Cypreste
Ganha-pão

Acredito que um bom jornalista de dados entrega mais do que tabelas e números percentuais incompreensíveis.