A força oculta

Gabriel Senra
Gabriel Senra
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5 min readOct 3, 2016

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Essa é uma história sobre eleições e comida congelada.

Na semana passada, eu publiquei um texto falando da minha relação com a política e como ela me deu insumos para ser um empreendedor mais bem preparado. Aproveitei o desabafo para pedir votos e declarar meu apoio ao meu amigo Gabriel, que era candidato a vereador em Belo Horizonte.

Felizmente, ele foi eleito com mais de 10 mil votos. Convido a todos (mesmo os que não votaram nele) para acompanharem de perto o seu mandato.

Precisamos, como disse antes, ser protagonistas da nossa história e isso envolve estar mais envolvidos com os nossos representantes. Vou escrever mais sobre isso no futuro.

O assunto de hoje é outro.

Domingo, 2 de outubro, 19h. Contagem de votos quase encerrada. Corri para o comitê do Gabriel para abraçá-lo.

Queria comemorar com ele e dar os parabéns para a equipe que o elegeu. Por trás de toda grande conquista honesta tem sempre uma história de muito suor e dedicação. E nesse caso, merecem palmas o Alberto, o Dayrell, o Cidão, a Guilhermina e a Isabela pelo trabalho incrível que fizeram nas últimas 6 semanas.

Cumprimentei cada um. Estavam todos muito felizes. Mas o abraço mais apertado foi, de longe, o da Dona Carminha.

Ela não tinha nenhuma função oficial na equipe da campanha. Ela não ia todos os dias ao comitê. Ela não foi envolvida nas reuniões de estratégia. E por um motivo simples: não adiantaria discutir estratégia com ela. Ela entendeu que o filho dela precisava de ajuda e ia fazer o que fosse preciso para ajudá-lo. Nada poderia contê-la.

Você já tentou discutir estratégia com a sua mãe?

A Dona Carminha me abraçou e começou a contar, orgulhosa, das suas andanças pela cidade. Ela, com mais de 60 anos, esboçava energia rara em adolescentes e narrou, sem qualquer sinal de fadiga, que havia percorrido vários prédios pelo centro da cidade, pedindo votos de porta em porta. Que havia parado, de madrugada, na porta de um motel para distribuir panfletos.

O Gabriel não via, mas sua mãe era a militante mais dedicada. E se a campanha durasse mais tempo, enquanto todos estariam exaustos, lá estaria ela nas ruas.

Mas ao mesmo tempo em que são guerreiras, mães são teimosas. Hoje cedo mandei uma mensagem para o Gabriel para falar de um assunto que ele não iria gostar de ouvir. Ele disse: "Já sei". Eu insisti e continuei falando. Ele: "Você está igual a Dona Carminha".

E isso me fez pensar na minha própria mãe.

Eu sei o quanto, às vezes, discutir as coisas com nossas mães pode ser difícil. Hoje mesmo eu fiquei, durante o café, ouvindo sobre vários aspectos que preciso melhorar. Um coaching não contratado. Uma terapia da qual você nunca tem alta. E por isso mesmo, não é raro perdermos a paciência com aquela que pensa que, pelo simples fato de ser sua mãe, sabe de tudo.

Mas a verdade, dura de admitir, é que, de um jeito mágico e inexplicável, ela sabe sim.

Eu nem sei, não vejo, mas ela é um membro importante do meu time.
O mais importante, talvez.

Ela é minha força oculta.

Minha mãe me pergunta sobre o fluxo de caixa da empresa. Ela quer saber como anda o nosso pipeline de vendas. Ela quis saber, um por um, quem eram nossos investidores antes que eu assinasse o primeiro contrato. Até pouco tempo atrás, ela nunca tinha ouvido o termo startup, mas se você perguntar pra ela, hoje, o que eu faço da vida, vai se surpreender com a resposta (digo, aula).

Recentemente, passei pelo maior desafio profissional da minha vida, e lá estava ela, diariamente, buscando formas de me ajudar. Ela, mais do que todos que acompanharam a luta de perto, conhecia cada ruga de preocupação que eu me esforçava para esconder.

E aí vem a pergunta: como está sua relação com a sua força oculta?

Ela não precisa ser sua mãe. Pode ser o seu pai ou irmão. Namorada(o), talvez? Pode ser sua esposa, seu marido ou um amigo. Se parar pra pensar, vai saber quem é.

Mas mais importante do que conhecê-la, é preciso saber como nutri-la. Não porque ela queira nada em troca. Sua força oculta nunca vai sair de lá. Mas simplesmente porque vai se sentir melhor ao saber que você está alimentando quem te mantém vivo e forte.

A Dona Carminha se alimenta de orgulho. Quanto mais o Gabriel cresce e se destaca, mais força ela tem. Minha mãe tem muito orgulho de mim, eu sei, mas ela se alimenta mesmo é de paz. Em meio à toda agitação maluca da minha vida, sua luta incansável é para que eu esteja sempre bem. Se for preciso, ela vira o mundo de cabeça pra baixo, mas ela não deixa que obstáculos do caminho tirem a minha paz.

Por isso, hoje mais do que nunca, eu tento garantir que ela saiba sempre que eu resolvi alguma coisa pendente. É um alívio pra mim, mas grande vitória pra ela. Perceber isso me fez entender as coisas de uma forma mais clara. Ficou mais fácil e leve saber que na raiz de todas as coisas que ela fala, por mais difíceis que sejam, está a preocupação para que eu esteja cada vez menos agitado, mais focado e tranquilo.

No fim, fica a reflexão para que cuidemos bem da nossa força oculta. É importante respeitá-la. É importante sabermos como ela age e o que a motiva. E para ir mais além: pense que você é ou pode ser a força oculta de alguém. De que você se alimenta?

E por falar em "alimentar", neste exato minuto estou sentado na sala de embarque, esperando um voo para São Paulo e aqui comigo está uma mochila com comidas congeladas que a minha mãe sempre manda quando venho visitá-la. Foi o jeito que encontrou para que eu me sinta sempre perto dela. Diz ela que é importante eu comer feijão feito em casa.

Esse amor misturado com carinho que hoje tomam forma de torta de frango me dá uma força inacreditável; inexplicável.

Mãe, eu nunca vou conseguir agradecer o suficiente. Meu amor e admiração são infinitos.

PS: escrevi esse texto ouvindo "Fate don't know you" do Desi Valentine, no modo repeat. #ficaadica

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