A Neurociência do Clique

Talita Duarte Viana
gb.tech
Published in
4 min readJun 4, 2024

Você já se perguntou por que é tão fácil cair em golpes na internet, mesmo quando você acha que sabe o que está fazendo?

Estamos expostos a ofertas de treinamentos, histórias de pessoas que sofreram prejuízos por conta da inocência ou que foram entrelaçadas por golpes modificados e específicos. Com a expansão do uso da Inteligência Artificial (IA), a ciência por trás dos golpes avançados e uma sensação de vulnerabilidade e impotência pode perseguir as pessoas.

Cena do desenho Tom & Jerry, onde Tom persegue Jerry pela casa.

Muitos de nós crescemos vendo desenhos como Tom & Jerry . Nos episódios, Tom usa armadilhas ou ofertas tentadoras para capturar Jerry , que precisa avaliar rapidamente a situação para evitar ser enganado. Essa dinâmica ilustra a importância de estar alerta e questionar ofertas que pareçam boas demais para ser verdade.

Porém, é mais fácil quando temos um inimigo declarado como Jerry tinha ao Tom do que quando qualquer um pode estar por trás de uma “oportunidade”. Há uma crença velada de que, para não estar sujeito a um golpe, você precisa ser um especialista no assunto — e de preferência ter habilidades quase cinematográficas para ser poupado de prejuízos.

Mas será que é tão complexo assim? A neurociência estuda como nosso cérebro processa informações e toma decisões, e pode nos ajudar a entender nossa orientação ao “Clique”.

  • A tal da Dopamina: Nosso cérebro é atraído por novidades e recompensas. Isso provoca a liberação de neurotransmissores como a dopamina, associada ao prazer e motivação. E é por isso que aquela oferta fora do normal fica tão irresistível: O fato de imaginar perder uma oportunidade pode pesar mais do que ter uma atitude segura.
  • Viés Cognitivo: Nosso cérebro usa “atalhos mentais” para tomar decisões rápidas. Porém, isso é diretamente influenciado por nossas visões cognitivas. Por exemplo, a visão da familiaridade faz com que algo ou alguém familiar fale confiável. E por isso funciona tanto quando algum golpista se disfarça como marcas ou pessoas conhecidas, ainda que o que dizem ao tentar aplicar o golpe não faça tanto sentido. Isso também explica o motivo de tantas notícias falsas ganharem notoriedade. Quanto mais faz sentido pra nós algo que foi dito, maior a chance de não questionarmos a veracidade daquilo.
  • O Efeito de Ancoragem: Já ouviu o ditado “a primeira impressão é o que fica?” Este é um fenômeno onde nos fixamos na primeira informação que recebemos (a âncora) e a usamos como referência para decisões futuras. Em golpes online, a primeira impressão de legitimidade pode nos levar a ignorar sinais de alerta posteriores.
  • Fadiga de Decisão: Não é novidade que nosso cérebro muitas vezes fica sobrecarregado de tanta informação no mundo moderno. Os golpistas se aproveitam disso, apresentando ofertas complexas ou decisões urgentes, sabendo que é mais provável que tomemos decisões impulsivas ou menos analíticas sob pressão.
  • Persuasão Customizada: A IA elevou os golpes a um novo nível. Algoritmos podem analisar nossos dados e comportamentos online para criar armadilhas altamente personalizadas e persuasivas, tornando-as mais difíceis de detectar e resistir. Essa ameaça tem sido cada vez mais frequente e muitas vezes é encarada como brincadeira, como quando usamos aplicativos para colocar nossos conhecidos para falar outros idiomas, cantar uma música e outras coisas. É possível, hoje, com o que encontramos em redes sociais, fazer parecer que alguém está dizendo alguma coisa de forma tão realista que é quase impossível detectar.

Compreender a neurociência por trás de nossas decisões pode nos ajudar a reconhecer as razões de estarmos mais ou menos propensos a cair em armadilhas online, e não apenas isso, podemos modelar nosso comportamento e hábitos através da repetição.

A primeira vez que eu analisar um e-mail que pode ou não ser ameaçador, certamente serei tomada de insegurança, mas a partir do momento que desconfiar é minha primeira reação, principalmente quando se trata de algo que não procurei, mas fui acionada por terceiros, essa ação se tornará um hábito. Ao construir hábitos seguros, dificilmente permitirei que minha mente governe de forma “automática” as minhas ações perante aos perigos e oportunidades, mas eu passo a “governar” sobre elas.

Não demora até que aquela ação que antes precisava ser pensada e calculada se torne um hábito, graças à Neuroplasticidade. A neuroplasticidade é uma capacidade de adaptação do Sistema Nervoso Central (SNC) em modificar as propriedades fisiológicas em resposta às alterações do ambiente. Em palavras mais simples, o cérebro aprende a se reprogramar. Aquilo que antes era considerado impossível se torna parte de sua resposta natural aos estímulos, ameaças, etc.

Na era da IA, é mais importante do que nunca que tenhamos consciência de como nosso cérebro pode ser influenciado e manipulado.

Por isso, crie o hábito de se manter informado por várias fontes diferentes (mas não precisa viver de teorias da conspiração, calma) , questionar e pensar criticamente antes de acreditar no que vê te protegerá muito mais do que apenas cair em golpes. E se precisar de ajuda, conte com o apoio do time
de Segurança da Informação da sua empresa para te ajudar a construir esses novos hábitos, que certamente serão positivos não só para sua vida profissional, mas pessoal também.

Espalhe conhecimento! Repassem aos seus conhecidos, familiares e amigos dicas sobre o assunto — se não tiver nada em mente, comece compartilhando nosso Guia de Segurança Digital . Não é preciso ser um especialista em Segurança para ficar protegido — mas ser um bom desconfiado é meio caminho andado!

Imagem gerada por Inteligência Artificial (Dall-e) — com base no artigo.

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