Os TechTalks e a cultura do conhecimento compartilhado

Romulo Genú Neto
gb.tech
Published in
6 min readMar 4, 2021
Mulher fazendo uma apresentação ao time mostrando post-its presos na parede
Mulher fazendo uma apresentação ao time mostrando post-its presos na parede | Foto de Jason Goodman na Unsplash

Todo profissional, da área de tecnologia ou não, provavelmente já se deparou com uma situação em que se perguntou “mas porquê essa pessoa não compartilhou esse assunto antes?”, ou então “caramba, eu não tinha ideia que esse cara sabia tanto sobre isso!”

Imagem do personagem de desenho Pikachu, amarelo e com bochechas marrons, flagrado ao assistir um TechTalks (expressão de surpresa).
Pikachu flagrado ao assistir um TechTalks

Pois é, prezado leitor. Isso é mais comum do que se imagina. Nem sempre compartilhamos nosso conhecimento, e isso pode ocorrer por muitas razões: a cultura da empresa que não incentiva a prática, a própria criação do indivíduo, personalidade muitas vezes introspectiva, ou mesmo algo causado por rasteiras que a vida dá.

Já dizia o filósofo Francis Bacon: “Scientia potentia est”. Ou, em bom português: “Conhecimento é poder”.

É uma pena que, para muitos, o significado desta frase seja de ganhar poder por deter exclusivamente o conhecimento sobre determinado assunto.

O real significado do poder do conhecimento é não apenas ter, mas partilhar o conhecimento. Quem ensina também aprende, melhora sua reputação, ganha respeito, influencia os outros e garante realização pessoal. E quem aprende, põe o ensinamento em prática e, um dia… ensina.

Imagem do personagem Yoda, da saga StarWars, verde e com vestimentas marrons, expressando que você deve compartilhar conhecimento (falado de maneira invertida, característica do personagem).
Yoda é sábio, ouvi-lo você deve

É basicamente isso que nos leva ao que realmente eu quero falar sobre: nossa jornada de TechTalks aqui no Grupo Boticário.

A história começou no início de 2019.

Inspirados pelo TEDx Talks (inclusive o nome é em alusão ao mesmo), resolvemos, dentro do time de Arquitetura de Soluções, dar o pontapé inicial em um evento para compartilharmos conhecimentos técnicos, inclusive com demonstrações e “mão na massa”. Havia o sentimento de que não tínhamos visibilidade de como estava o conhecimento dos times da TI em relação a novas tecnologias, desenvolvimento, bancos de dados não-relacionais… enfim, a lista era grande. Ao mesmo tempo, tínhamos a certeza que o terreno que estávamos pisando era muito fértil: só precisava plantar a semente, pois tem muita gente boa aqui.

Queríamos contribuir, acender aquela faísca da curiosidade sobre tecnologias que naquele momento ninguém imaginava que estaríamos usando no Grupo Boticário: Serverless, Micro FrontEnds, PWAs, SPAs, dados em nuvem…

Imagem de uma vela de aniversário estilo “faísca”, em alusão à faísca da curiosidade.
A faísca da curiosidade. Licença poética.

Começamos timidamente, uma vez a cada 15 dias, com dois ou três temas, de forma presencial. Nossa audiência era bem pouca, de 7 a 12 pessoas dentro da TI do Grupo Boticário, e no início apenas o time de Arquitetura apresentava as talks. Aos poucos fomos evoluindo o modelo: disponibilizamos para quem quisesse assistir remotamente, começamos a abrir o evento para qualquer pessoa apresentar.

E continuou mudando, para melhor. O evento foi acompanhando a mudança do paradigma da TI no Grupo Boticário, ao que passamos a olhar para o desenvolvimento de soluções internamente, contratação de desenvolvedores, Tech leads, product owners e squad leaders. Eventualmente trouxemos convidados externos para apresentações internas, e mais recentemente, fizemos edições abertas a todo o público com participações muito especiais, como por exemplo, John “Maddog” Hall (inclusive esse talk está no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=PsNczrSffdE).

E foi assim, mudando aos poucos, que chegamos no modelo atual: semanal, de uma hora, com temas variados, perguntas de todos os lados, e participação bem mais relevante de um público cada vez mais diverso. Muitas vezes o TechTalks é uma extensão de assuntos tratados nas guildas tecnológicas. O resultado foi: muita troca de conhecimento!

Imagem do cientista estadunidense Neil deGrasse Tyson (homem negro, com bigode) segurando um microfone e sobreposição da frase (em inglês): “se preparem, o conhecimento está chegando”.
Quem sabe um dia o grande Neil deGrasse Tyson topa um talk com a gente?

O TechTalks do gb.tech passou a ser um divertido evento de fim de tarde das segundas-feiras, onde temos a liberdade de trazer temas tecnológicos ou ligados à tecnologia: falamos desde novas linguagens de programação, frameworks, bancos de dados, padrões de desenvolvimento, até temas de infraestrutura, qualidade de código, segurança da informação, acessibilidade e metodologias.

Quando habilidades e conhecimentos são compartilhados regularmente, o time todo cresce junto. Dessa jornada de pouco mais de 2 anos de TechTalks, dou algumas dicas para tentar, modestamente, inspirar a sua jornada:

Consistência — nada é pior para essas atividades extra-curriculares do que inconsistência. Não deixe que reuniões de última hora tomem o lugar do seu TechTalks. Trate essa prática como algo sagrado, cultural, que beneficia a todos que participam. Elementar, vai acontecer de eventualmente ter menos audiência, mas o show deve continuar. Configure uma agenda e pau na máquina!

É para ser divertido — Esse evento não é para ser intimidador. Não é para ter medo de apresentar, de perguntar, de compartilhar. Esse é o objetivo do TechTalk! Não julgamos, pois isso pode afastar os mais introvertidos. O importante é a troca de conhecimento e experiências.

É para todos — Não é o Clube da Luta! A gente fala sobre o TechTalks, e tenta trazer o máximo de participantes, cada vez mais. Encorajamos, através dos nossos canais de comunicação, que todos os times tenham um espaço para apresentar ou sugerir temas. Aqui não apressamos nem forçamos ninguém, as pessoas precisam estar confortáveis em participar.

Imagem em referência do filme Clube da Luta, com a sobreposição do texto: “primeira regra do techtalks: fale sobre o techtalks”.
É pra falar mesmo

Resultados tangíveis:

Camaradagem — sem dúvida alguma, fazer esse evento melhorou a união tanto do nosso time de Arquitetos, quanto nossa interação com outras áreas e squads. Passamos a conhecer melhor as pessoas que trabalham conosco, suas inclinações e afinidades a determinados temas e tecnologias.

Passagem de conhecimento — Isso vale tanto para quem apresenta quanto para quem assiste. Como diz o grande Fausto, “quem sabe faz ao vivo!”. E não dá para dizer que alguém é mestre em algo, sem ensinar, não é? E claro, é normal se deparar com uma pergunta que não sabe responder. É perfeitamente aceitável responder um “não sei, mas vou pesquisar e te respondo no Slack”. E para quem assiste, melhora seus conhecimentos e em muitos casos dispara o gatilho do “quero saber mais sobre isso”.

Imagem do personagem Pai Mei (oriental, com cabelos, barbas e sobrancelhas brancas e longas), do filme Kill Bill volume II, alisando sua barba.
Para ser um mestre tem que ensinar também. Pai Mei que disse, eu não questiono.

Habilidades de comunicação — como eu mesmo disse esses dias em uma reunião do meu time: eu não sou exatamente um mestre de cerimônias. Mas, em minha trajetória, me acostumei a fazer apresentações diversas para todo tipo de público e lidar com meu nervosismo e alguma insegurança na hora de apresentar. É inegável que apresentar para uma audiência grande, especialmente se é um tema que você — além de dominar — gosta, dá aquele boost considerável nas habilidades de comunicação. Sou capaz de apostar que todos que apresentaram um talk ficaram mais confiantes depois.

Enfim, essa história está em curso. Os TechTalks são uma realidade no gb.tech, fruto de uma cultura de conhecimento compartilhado, muito além de apenas KBs e Wikis.

Ao leitor, desejo boa sorte na sua jornada, e que consiga encontrar um modelo adequado à cultura da sua organização.

Continuem a aprender e crescer. Abraço!

--

--

Romulo Genú Neto
gb.tech
Writer for

I'm an evil geek and nice solutions architect. Or the other way around.