O Natal Invisível

GBU Portugal
Por Linhas Tortas
Published in
4 min readDec 18, 2017

— Emily Lange, Assessora do GBU Lisboa

O que é o Natal? Onde está ele? Estamos rodeados de símbolos, imagens, luzes e sons. Muito ruído natalício espalhafatoso. Isto não é necessariamente mau… mas é muito visível, muito in your face. A força visual do Natal facilmente se torna o seu real significado, ou então, esconde muito bem o significado subjacente. O significado original do Natal como a chegada da Luz às trevas, a chegada de Jesus, o Cristo, já não é tão visível. Se é este o significado desejado, como celebrar e manter o invisível no meio da overdose visual? Como celebrar Jesus Cristo como o foco do Natal quando tantas coisas dentro e fora de nós mesmos competem para este lugar central?

Fotografia: Rodion Kutsaev

Acreditar no invisível começa pelo visível. Para qualquer salto de fé — que é outra definição possível para este ‘acreditar’ — há sempre algum indício, algum vestígio… algo visível. Também a celebração do Natal invisível começa pelo visível.

A própria vinda de Jesus Cristo é o melhor exemplo disto. O Deus invisível, que se ia revelando de formas visíveis, deu o tudo na Encarnação. O Deus invisível sempre fora visível para quem estava atento aos muitos indícios. Mas desta vez foi diferente. Tornou-se um ser entre nós e como nós! O Deus invisível tornou-se visível. O apóstolo João escrevia, não sem bastante emoção, imagino eu, “Escrevemos acerca daquele que é a Palavra da vida, que já existia no princípio de tudo. Nós, que o ouvimos e vimos com os nossos próprios olhos, também o contemplámos e lhe tocámos com as nossas mãos.” (1 João 1:1). Que apogeu! Tocar naquele que existia antes sequer de o tempo ser tempo.

Fotografia: Dan Kiefer

Mas Jesus foi-se embora. Philip Yancey costuma dizer que é este o momento que ele menos compreende acerca do Cristianismo. Como é que Jesus nos poderia deixar? Dizia Jesus que até é melhor assim… E que se ele não fosse, se não se tornasse invisível outra vez, nós seríamos privados de algo ainda melhor. O que poderia ser melhor do que o Deus encarnado sentado à mesa connosco?

Jesus vai-se embora e o visível torna-se, novamente, invisível. Mas não por muito tempo. Ao que parece, uns dez dias depois ocorreu um pequeno vendaval que inaugura uma nova era de invisibilidade tangível. Emanuel, Deus connosco, torna-se Deus em nós. Somos convidados a fazer parte como nunca antes numa nova metafísica espiritual misteriosa. Deus invisível multiplica-se em nós, tornando-se presente em cada coração que lhe abrir a porta. Deus presente no mundo, de forma inédita, misteriosa, subtil.

É esta subtileza que nos apanha a cada volta que dá. Esperávamos o quê? Vendavais a cada dia? Não parece ser esse o modus operandi habitual de Deus. Há espaço para isso… mas agora, o espaço é nosso. A bola está do nosso lado. Como se torna visível o Deus invisível em nós para aqueles que ainda não o veem?

Fotografia: Naletu

O Natal tem sempre um quê de invisibilidade. Mas deixou o seu rasto indiscutível. Natal um vez, Natal para sempre. O Filho de Deus veio ao mundo e entrou na história e no tempo de tal forma que criou uma rutura visível. Antes de Cristo e depois de Cristo é uma marca visível que usamos todos os dias. Mas há outras marcas e vestígios. Há sempre. O que aconteceu foi grande demais e é muito maior do que nós. O desafio é juntarmo-nos a este movimento invisível de tornar Deus visível num mundo que o deseja invisível. Deus está presente. O Natal aconteceu e existe. A pergunta é se nos juntamos à festa ou não.

O sentido do Natal tem, primeiro, de se tornar visível nos nossos corações. Deus em mim?! Nas nossas conversas. Deus veio!? Deus está connosco!? Nas nossas prioridades. O Rei chegou, Nosso Senhor está mesmo entre nós!? Nos pequenos atos simbólicos que daí advêm. Deus presente!? Este Natal, vamos deixar-nos levar pela subtileza desta invisibilidade. Ela não significa falta de força nem presença. Foi assim que a Luz escolheu tornar-se visível.

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