Apontem as suas armas para o romance!

Gabriel Duarte
Geek Buster
Published in
4 min readDec 11, 2015

--

Quando as cenas românticas falham em produzir o efeito desejado, elas se tornam um alivio cômico para a audiência.

No mês de novembro, o último filme da franquia “Jogos Vorazes” chegou às telonas brasileiras. Recheado de muitas cenas de ação, o longa não deixa de lado o suspense e a intensidade, usando desde silêncios absolutos a dezenas de tambores ritmados para fazer com o que o espectador mergulhe no clima da guerra. O resultado disso: quase duas horas eletrizantes que colocam os sentimentos a flor da pele. No entanto, essa tensão encontra seu equilíbrio nas cenas de romance. O tempo de tela destinado ao triângulo amoroso entre os personagens Katniss, Peeta e Gale parecia avulso e, por vezes, inconveniente.

“A Esperança — O Final” retoma o enredo quase imediatamente após o ponto de divisão com o filme anterior, construindo a partir daí o tão esperado desfecho da revolução dos distritos contra a Capital. É de se esperar que o romance ficasse desfocado em meio a tantos elementos grandiosos. O que não se esperava era que logo depois de um dos momentos de maior emoção para os fãs, eles fossem surpreendidos com uma cena digna de uma comédia romântica.

Cenas de ação e drama se intercalam diversas vezes com os momentos românticos.

Após vários minutos de uma das sequências mais intensas de toda a franquia, quando um número significativo de personagens encontram um fim brutal, a equipe escolhida a dedo para acompanhar Katniss recupera-se em um refúgio inusitado. Alguns derramam lágrimas e outros ajudam os feridos, enquanto a personagem de Jennifer Lawrence hesita à porta — como se esperasse que os recém-falecidos entrassem, até ela perceber a cruel realidade. O momento comovente durou pouco. Logo há um corte e a protagonista, agora deitada, acorda no meio da noite e, imóvel, escuta a conversa entre os dois mocinhos que vêm disputando a atenção dela desde o começo.

O intuito claramente era dar mais tribulações ao triângulo amoroso, mas não era incomum ouvir gargalhadas nas sessões de cinema durante essa e outras cenas que buscavam desenvolver o conflito romântico de forma séria.

É inegável que o romance se tornou ainda mais secundário nos últimos dois filmes, o que pode até ter influenciado na queda de lucros da franquia — dos quatro, a parte final foi o que menos rendeu em sua estreia. O relacionamento forjado de Peeta e Katniss, antes usado como estratégia midiática para ajudá-los na arena, dá lugar ao mais puro drama adolescente, o que ironicamente ainda rende milhões à indústria cinematográfica.

Com a eclosão da guerra, “bem” e “mal” não são mais princípios claros e separáveis.

O problema dessa regressão do aspecto romântico é que o restante da narrativa seguiu o caminho contrário, se tornando muito mais densa e obscura. Agora, os combates corpo-a-corpo são substituídos por conflitos ideológicos; a dúvida sobre o que fazer em frente as câmeras da Capital, se transforma em transtornos psicológicos.

A culpa pelo decréscimo na venda de ingressos não tem origem na ficha técnica, já que o diretor Francis Lawrence também dirigiu “Em Chamas” — o filme mais lucrativo da saga e, também, o preferido do público. Talvez ela recaia sobre a própria distribuidora que insistiu em usar o romance como uma das principais formas de divulgação. Logo, era preciso atender até mesmo a expectativa daquela parcela da audiência que foi aos cinemas em busca de um clichê.

Mesmo com a bilheteria em baixa, “Jogos Vorazes” encerra sua jornada de forma espetacular. A franquia teve quatro estreias consecutivas com mais de 100 milhões de dólares, um feito inédito, e foi pioneira em desbancar o paradigma hollywoodiano que afirmava que filmes de ação protagonizados por mulheres são sinônimos de fracasso.

Ainda assim, com a queda considerável da procura pelos dois últimos filmes, a dúvida levantada pelo crítico norte-americano Scott Mendelson, em seu artigo para a revista Forbes, é muito pertinente:

E se grande parte dos fãs de Jogos Vorazes gostaram dessa série de filmes especificamente por causa do material que eles tentaram satirizar? […] E se uma parte da audiência apenas foi assistir aos dois primeiros filmes para ver os lindos vestidos de Katniss, para contemplar a Capital, para rir da ostentação pré-Jogos, para suspirar por “qual dos dois jovens bonitos Katniss escolherá” e para torcer e vibrar com os climáticos Jogos Vorazes?

--

--

Gabriel Duarte
Geek Buster

Estudante de jornalismo, entupido em café e provavelmente procrastinando