Estamos lendo menos?

Johnnie Brian
GeekExpresso
Published in
5 min readJan 15, 2020

No final do mês de outubro de 2018, a varejista de livros Livraria Saraiva anunciou o fechamento de (pasmem) 20 lojas em todo o Brasil. E isso não aconteceu só com esta empresa; a sua principal concorrente, Livraria Cultura, também enfrenta problemas para manter as lojas físicas em pé. Apesar da causa desses problemas estar relacionado ao comércio digital (ou e-commerce), levando em consideração a logística, o presidente da Associação Nacional de Livrarias, Bernardo Gurbanov, em entrevista ao NEXO JORNAL em julho de 2018 atesta que o baixo índice de leitura dos brasileiros ainda é um grande problema.

É evidente que a falta de interesse em livros por parte de nós, brasileiros, pode vir a ser um grande problema uma vez que as empresas dependem justamente de um público leitor para a venda de livros. Mas será mesmo que estamos pouco interessados em livros a ponto de fazermos com que livrarias fechem?

Acredito que não. Livrarias são um ótimo ambiente para procurar livros novos e até mesmo ler. Muito diferente de procurar um livro pelo computador, digitar os dados do cartão, calcular o frete e efetuar o pedido. Mas o que faz com que as pessoas deixem de ir para estes lugares e adiram à compra por meio digital? Você provavelmente já pensou e com certeza vai concordar comigo: o preço.

Eu particularmente não tenho dó de gastar muito em livros. O que pode me doer é saber que um livro que eu comprei em uma livraria física tenha sido comprado por duas vezes o preço do de uma livraria digital. E que em uma Black Friday, por um pouco mais, eu poderia ter comprado o box da saga daquele livro. E, acredito que, quanto mais acessível os livros se tornam, mais o público deveria ler, certo? Acredito também que foi isso que fez com que as empresas deixassem de brigar com a Amazon e passassem a aderir aos preços cada vez mais baratos.

Galera, é sério, parece que eu tô defendendo que os livros devem ser vendidos a preço de banana, mas o que quero dizer é que as livrarias estão finalmente sacando que o preço por elas estabelecido era um pouco abusivo para o público geral. Aqui em Fortaleza, no Ceará, a maioria dessas livrarias ainda ficam em bairros nobres, o que pode justificar os preços mais altos. Já cheguei a comprar O Herói Perdido (da saga Os Heróis do Olimpo) por R$45,00 em uma livraria localizada em um bairro nobre, e o preço normal do livro (fui descobrir depois) era entre R$25,00 — R$30,00, sendo o preço mais barato referente ao preço na internet.

Mas aqui que entra outra discussão: somos uma nação que lê pouco?

Acho que isso é sim verdade, mas o que realmente deveria importar quando há esse questionamento é: somos uma nação que consome poucas narrativas?

Nesse caso, acho que a resposta é: não.

A leitura, acredito eu, sempre foi mal apresentada, principalmente para os jovens. Crescemos lendo histórias do nosso folclore e histórias fantásticas mais clássicas como Chapeuzinho Vermelho, crescemos assistindo histórias magníficas na TV (Catalendas é um ótimo exemplo) para chegarmos à adolescência e a leitura ser apresentada pela escola com romances clássicos da literatura brasileira que na maioria das vezes são histórias baseadas num cotidiano ao qual não pertence mais ao jovem contemporâneo, ou seja, nada daquilo que estávamos acostumados, nada fantasioso que atraia a mente infantil/adolescente, que em sua maioria, adora coisas fantasiosas. Não os admira que histórias como as da saga Crepúsculo, cuja narrativa trate de um um romance com vampiros e lobisomens, seja mais atrativo para adolescentes do que os vários livros renomados da Literatura Brasileira?

Eu tiro pelo meu exemplo: cresci ouvindo e lendo histórias. Adorava criar histórias com meus brinquedos e às vezes na hora de dormir, me via pensando em uma história em que eu era o personagem. Mas a medida que eu ia progredindo na escola, me era apresentado uma literatura que não me despertava interesse e essa era a ideia de literatura que, para mim, foi se concretizando no decorrer dos anos. Resultado: só fui ler o primeiro livro aos 13 anos, depois de ter assistido um filme baseado nele. Ou seja, no meu caso, a literatura só pôde entrar com força na minha vida por meio de outra mídia.

Engana-se quem acha que não temos um grande acervo de obras brasileiras que atrairiam os olhares e despertariam o interesse das crianças e adolescentes por Literatura. Apesar de não tê-lo lido ainda, A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas, mostra o quão fantástica nossa literatura é. Ou seja, temos as obras, mas não temos o terreno pronto, pois alguém, em alguma época, teve a “brilhante ideia” de apresentar somente literaturas já consagradas aos jovens, que mudam de geração a geração. Imaginem a minha frustração (que creio que compartilhada por alguns de vocês) ao perceber que a literatura que me agradava não era brasileira. Com a globalização, crescemos com a influência de diversas culturas, mas ainda sim a mais forte é a nossa. Só que, infelizmente, quando procuramos alguma coisa que nos atrai para lermos nos livros brasileiros, podemos não encontrar, mas quando pensamos em histórias com dragões, reis e cavaleiros, a literatura estrangeira faz-se muito mais presente. Alguns autores brasileiros usam esse terreno para atrair leitores, como acredito que seja o caso de Raphael Draccon, entre outros.

Mas isso explica o baixo índice de leitura dos brasileiros? Claro que não, apesar de ser um motivo que contribua bastante pela falta de interesse. Com eu disse anteriormente, a literatura é mal apresentada para nós, durante nosso desenvolvimento. Nós adoramos narrativas e a falta de interesse nos livros não afeta nosso grande interesse por narrativas. Se os livros não nos agradam, procuramos histórias em outras mídias. É evidente que enquanto temos um baixo índice de leitura, nós consumimos séries como se não houvesse amanhã. Eu poderia apresentar dados que provem isso, mas prefiro que você olhe ao seu redor. Eu nunca vi meu irmão lendo um livro, mas sempre o vejo assistindo vários seriados. Também lembro que quando a literatura estava me afastando dela, eu estava jogando games, que por sua vez, também possuiu narrativas. Sem falar nos animes, que tem um grande público.

Antes de criticarem crianças e adolescentes que leem livros de youtubers sobre aventuras de Minecraft, saibam que eles estão tendo a oportunidade de serem apresentados a literatura da forma natural que não tivemos. Eles assistem esses tipos de histórias em vídeos e depois leem os livros. O que aconteceu e acontece com maior parte da população brasileira, é que eles são apresentados a histórias durante a infância e quando estão crescendo a literatura é mostrada de uma maneira diferente.

Eu acredito que algum dia nossa literatura seja, de fato, valorizada, mas acho que ainda temos uma longa caminhada pela frente. As escolas precisam resgatar o que há no nosso imenso acervo, além das obras canonizadas por instâncias legitimadoras majoritariamente elitistas, para que os novos autores que estão escrevendo histórias (algumas baseadas no nosso folclore) tenham vez no mercado.

Muito obrigado para vocês que leram até aqui! ❤

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Johnnie Brian
GeekExpresso

Meu nome é Johnnie. Escrevo sobre cultura pop. “Geek” não me define, mas é o termo mais próximo. hehe