“Get Lucky” e o próximo estágio de evolução da espécie humana

Johnnie Brian
GeekExpresso
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10 min readJan 14, 2020

Muitos filmes de ficção científica retratam a vida humana fora da terra. Esse é um conceito que eu gosto bastante e que, consequentemente, está presente nos meus filmes preferidos. A ideia de sair do sistema solar e explorar novos planetas em busca de um capaz de suportar a vida terrestre tem sido um enredo presente em muitas obras e nunca se torna enjoativo, pelo menos não para mim. A ficção científica está sempre de olho no que a ciência diz, principalmente sobre teorias. Pode parecer mais um cenário de filme ou série sci-fi, mas o falecido Stephen Hawking, físico teórico e cosmólogo britânico, um dos mais consagrados cientistas do século, avisou que temos apenas por volta de 100 anos para deixar a Terra. Segundo ele, epidemias, crescimento populacional desordenado, mudanças no clima e colisões com asteroides estão entre as possíveis causas da nossa necessidade em abandonar o planeta.

São discutidos mundos candidatos a abrigar nossa terrível e destruidora espécie. Dentre milhões de planetas que estão em zona habitável no universo, nosso vizinho Marte tem se destacado bastante. Ele não é exatamente o melhor mundo para nos abrigar, mas é, de longe, o mais perto. O planeta vermelho realmente é um ótimo candidato, mas para torná-lo habitável como a Terra, ele precisaria passar por um processo de terraformação. Consideremos que esse processo de fato funcione. Ainda assim, modificar o campo magnético, bem como a atmosfera e topografia de um planeta, é um processo que deve levar muito tempo e como já fomos alertados por Stephen Hawking, talvez não tenhamos esse tempo. As chances não são muito otimistas. Por isso, outras alternativas são consideradas, inclusive a de encontrarmos um planeta extremamente parecido com a Terra. A sonda/telescópio espacial Kepler, procura exoplanetas, que são basicamente planetas que orbitam uma estrela que não seja o sol. É como se procurássemos sistemas solares e seus mundos. Encontramos e podemos encontrar mais planetas em zona habitável, assim como Terra e Marte.

Imaginemos agora que encontremos um planeta igual a Terra; capaz de abrigar nossa existência. Ainda sim teríamos dois grandes problemas:

Transporte: se todos nós nos mobilizássemos para sair da Terra, ainda assim teríamos problemas com transporte. Transportar coisas em uma nave seria caro em relação a recursos. Então, uma alternativa seria fazer paradas em alguns planetas e luas, para podermos coletar recursos até chegarmos em nossa nova casa. Mas essa nave teria de ser muito bem projetada, pois serviria de lar por muitas gerações: as pessoas que se mobilizariam para sair da Terra e ir até esse novo planeta não seriam as mesmas que viveriam nele, e sim seus descendentes, pois mesmo que viajássemos na velocidade da luz, demoraríamos 720 anos para chegar em um planeta como esse. Socialmente falando, isso não seria um grande problema, mas teríamos que coletar muitos recursos, como comida e oxigênio, para várias gerações. O que provavelmente seria quase impossível e teríamos que fazer paradas que atrasariam ainda mais a nossa chegada, consumindo mais recursos, e talvez entrássemos em um loop infinito de irmos atrás de recursos para sobreviver, e uma hora talvez, pereceríamos. Há também a criogenia, que consiste em congelar um organismo para revivê-lo tempos depois. Ela é uma boa solução, pois pouparíamos muitos recursos e poderíamos fazer uma viagem mais direta.

Vírus e bactérias: Supondo que tudo desse certo e conseguíssemos chegar bem nesse novo planeta, ainda teríamos que nos preocupar com os organismos que vivem nele. Pois se estamos a procura de um planeta parecido com a Terra, temos de lidar com o fato de existir vida nele, como animais e plantas. O contato com novas espécies poderiam nos trazer doenças, que dificultaria bastante nossa luta pela sobrevivência. Então, antes de um contato, teríamos que estudar aquele planeta e seus organismos para desenvolver vacinas contra vírus e bactérias. Mas esse é o cenário mais otimista, pois poderíamos encontrar doenças que levariam anos para que desenvolvêssemos uma vacina pra ela.

Como eu tentei deixar claro, tratei desses dois problemas com o cenário mais otimista possível. Agora pensem nas chances dessas opções falharem e procurem o motivo por trás disso.

Pensaram?

Nessa situações, os problemas que são apresentados são os relacionados ao nosso fator biológico. Nossos corpos são fracos e podemos morrer por vários motivos, desde simples até complexos. Muitas pessoas não acreditam na teoria da evolução porque, por exemplo, “o macaco não evolui mais”. Mas o que essas pessoas não sabem, é que a evolução não é um processo simples e muitos menos rápido. Há também quem não acredite que estamos evoluindo, mas estamos sim e até rapidamente, mas de uma outra forma. Se olharmos a nossa história registrada, podemos ver diversas evoluções. Não criamos asas para voar como os pássaros, ou será que criamos?

Não criamos nadadeiras e um sistema respiratório subaquático para nadar como os peixes, ou será que criamos?

Esses são alguns exemplos de nossa evolução. Não biológica, mas sim intelectiva. Nossa inteligência está frequentemente evoluindo. Em relação ao nosso corpo, ficamos mais resistentes a doenças, mas a nossa anatomia não mudou nada. Essa parte de nós, a inteligência, fez com que sobrevivêssemos. O que costuma parar gênios(as) da ciência, não são problemas que são difíceis de resolver, mas sim o nosso fator biológico. Uma hora todos morremos, e para que todos os avanços que fizemos durante a vida não se percam, nós compartilharmos com o mundo, para que após a nossa morte, outras pessoas continuem o nosso trabalho. Mas nem sempre quem sucede as ideias consegue compreender e pensar da mesma forma. Por isso que, talvez, tenhamos uma perda na evolução intelectiva quando um(a) gênio(a) morre.

Nós estamos evoluindo a ponto de criar os primeiros fragmentos de seres pensantes como nós. O campo de estudos de inteligência artificial tem avançado bastante. Como eu já havia dito antes, a nossa capacidade intelectiva, bem como a de evoluí-la, foi o que nos fez chegar onde estamos. Claro que só a capacidade de pensar não fez com que cheguemos até aqui. Os sentidos também tiveram um papel fundamental na nossa busca pelo desconhecido. E isso é uma coisa que, assim como inteligência, nós podemos “simular”.

Se um dia, nós — ou as nossas criações, uma vez que não esperamos que o ser humano tenha esta capacidade, mas que uma máquina tenha — conseguirmos decodificar o cérebro humano, seremos capazes de digitalizar a mente humana e torná-la livre do fator biológico. Acredito que não seríamos simplesmente “robôs”, mas sim humanos sem algumas limitações. Uma evolução na espécie. E é disso que eu acho que a música Get Lucky, de Daft Punk, fala.

Antes de mais nada, gostaria de dizer que acredito que não haja interpretações 100% certas sobre diversas obras. Como também acho que se alguma interpretação faz sentido, então ela não deve ser descartada. Não há somente uma certa. Então, antes que ache que eu viajei demais, considere isso.

Eu usarei a tradução da letra para melhor compreensão de todos, mas vez ou outra citarei a letra original se necessário for. Tente ler o texto ouvindo a música com a letra.

“Como a lenda da Fênix

Tudo termina com começos”

A maioria das pessoas conhecem a lenda da Fênix. Basicamente, na mitologia grega, é um grande pássaro que quando morre, renasce das próprias cinzas. “Tudo termina com começos”: como falei, acho que teremos uma grande evolução, mas que para isso teríamos de deixar de lado nossa parte biológica, ou seja, algo vai terminar, deixar de existir, mas que renasceremos com um novo começo.

“O que mantém o mundo girando

A força do começo”

Na primeira frase, acho que não estão se referindo a força gravitacional, etc. Ela é bem subjetiva. Acho que é uma linguagem mais figurativa, como “o que faz a natureza funcionar”. A própria evolução nos prova que é a forma com que as espécies se sustentam na natureza, se adaptando. Sem ela a natureza não iria se sustentar. Já na segunda frase, “A força do começo”, que também é traduzida como “A força primordial”, acho que dá outro exemplo do que é a evolução. Ela proporciona começos para as novas espécies.

Na primeira parte ele fala sobre recomeço, já na segunda ele fala sobre evolução. Uma recomeço com uma evolução.

“Chegamos longe demais

Para deixarmos de ser quem somos”

Dentre todas as espécies da Terra, a Homo sapiens foi a única que conseguiu chegar onde estamos. Dominamos o planeta. Evoluímos nossa capacidade intelectiva a ponto de conseguirmos explorar novos mundos. Fomos longe demais para perecermos caso a extinção bata à nossa porta. Fomos longe demais para deixarmos de existir.

Há também outra interpretação minha sobre essa parte, que diz a respeito de explorações. É evidente que somos exploradores. Somos curiosos, gostamos de descobrir as coisas. Achamos um meio de nos estabilizar em um lugar e após um tempo procuramos novas terras, por muitas vezes, sem necessidade. Construímos embarcações para podermos explorar os mares, e hoje construímos sondas e foguetes para explorar o espaço. Chegamos longe demais, para deixarmos de ser quem somos: exploradores.

“Então vamos elevar o nível

E erguer nossos copos às estrelas”

Vamos subir um nível na escala evolutiva. A segunda frase pode ter dois significados: “our cups to the stars”, em inglês, há muitos significados, mas, em todos os sites de tradução que olhei, eles traduziram como “erguer nossos copos até as estrelas”. “Até” é diferente de “Para”. “Até” pode significar que iremos até as estrelas, que popularmente chamamos qualquer corpo celeste. Já “Para”, pode significar que só apontaríamos nossos copos para elas.

Essa parte, pra mim, fala que para irmos até às estrelas teríamos que evoluir, e isso é dito de uma forma otimista e motivadora, como se não encontrássemos nenhuma solução a não ser essa e estivéssemos apreensivos.

“Ela fica acordada a noite toda, até o sol raiar

Eu fico acordado a noite toda para conseguir algo

Ela fica acordada a noite toda para se divertir

Eu fico acordado a noite toda para me dar bem

Ficamos acordados a noite toda, até o sol raiar

Ficamos acordados a noite toda para conseguirmos algo

Ficamos acordados a noite toda para nos divertirmos

Ficamos acordados a noite toda para nos darmos bem”

Como essa parte é o refrão, acho normal que fuja um pouco do que falava antes. Há duas interpretações minhas que se encaixam no contexto apresentado anteriormente. Então vou ordená-las, mas elas conversam entre si, então acho que não descartaria alguma.

1. Essa interpretação eu já tinha quando escutei a música pela primeira vez. Ela basicamente fala sobre sexo e sobre o que fazemos para conseguirmos ele. Get lucky(ter/conseguir sorte) significa “se dar bem”; conseguir sexo com alguém em inglês. O sexo para nossa espécie é essencial para conseguirmos evoluir e próspera-la. É algo natural, pois é assim que nos reproduzimos e damos continuidade a nossa espécie.

2. Dentro desse mesmo contexto, para mim, get lucky também pode significar evolução. Ter sorte, na natureza, pode significar encontrar um ambiente propício que possibilite a evolução da espécie. Sem uma epidemia que a mate ou sem um grande predador. Dito isso, contrariando um pouco a outra interpretação, “ficar acordados a tarde” pode significar esforço, uma vez que essa é uma prática que muitos estudantes usam quando precisam estudar para uma prova, por exemplo (não que seja saudável). “Ficamos acordados até tarde para termos sorte”. Nós estudamos e trabalhamos muito para evitar nossa extinção. E fazemos isso para termos a sorte de sobreviver e evoluir mais uma vez.

“O presente não tem laço

Sua dádiva continua a ser dada”

Aqui, basicamente, ele diz que nós podemos mudar o futuro, pois o presente não tem laço com ele. Então, mesmo que nossa extinção seja anunciada, temos como mudar. E isso é dito de uma forma otimista e motivadora.

“O que é isto que estou sentindo?

Se quiser partir, eu topo”

Nesses trechos, acho que ele fala sobre sexo mais uma vez e como ele é natural, quando diz “O que é isto que estou sentindo?”. A força que move a espécie. Com “Se quiser partir, eu topo” acho que ele fala em como acompanhamos alguém quando queremos fazer sexo ele(a), seja por um noite, seja pela vida toda.

Após o refrão, Pharrell para de cantar e a voz marcante robótica do grupo começa. Mas, no começo ela só diz “We’re up all night to get…”(“Ficamos acordados a noite toda para…”) repetidamente, até outra voz robótica completar com “back together”(“voltarmos juntos”). “We’re up all night to back together”(“Ficamos acordados a noite toda para voltarmos juntos”) pode se referir a relação de homem-máquina, inteligência artificial, como eu havia dito. Ficamos acordados até tarde, nós e as máquinas, trabalhando incessantemente, para superarmos a extinção e voltarmos das cinzas como a fênix, só que renascendo junto às máquinas. E note que isso é dito por uma voz robótica após uma voz humana cantar a maior parte da música. E claro, após isso, o refrão dizendo que fomos longe demais para deixar de ser quem somos é cantado, mais uma vez otimista e motivador, enquanto os robôs continuam cantando.

Sei que minha interpretação é bem viajada, e ela é pra ser mesmo, pois nada fica explícito nessa música. No mais, desconfie de uma música que fala sobre sexo feita por robôs.

Agradecimentos ao canal Ciência Todo Dia por ter feito vídeos que facilitam o entendimento e a introdução de algumas questões que abordei no início do texto. Também ao canal Nerdologia por vídeos do mesmo tipo. E também à minha parceira, Letícia Sena, por ter me ouvido quando tive essa ideia e ter me ajudado com a edição do texto.

Muito obrigado também pra quem leu até aqui! Fique à vontade para expor suas opiniões e comentar sobre o texto! Nos vemos no próximo post aqui no GeekExpresso!

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Johnnie Brian
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Meu nome é Johnnie. Escrevo sobre cultura pop. “Geek” não me define, mas é o termo mais próximo. hehe