A delicada relação entre depressão e felicidade

Bruna Talarico
Gente Extraordinária
4 min readApr 21, 2016

O relato de uma leitora querida.

Nesta semana, o Gente Extraordinária publicou uma história sobre a busca pela felicidade diferente. Sherry Smith vive em Tamworth, cidadezinha country longe da costa australiana, e desde a adolescência sofreu com a depressão. Sherry teve a sorte de ser diagnosticada e tratada corretamente. Ela é ativa, faz planos para o futuro, e carrega um sorriso leve no rosto. Sherry defende que ela mesma tem um papel muito ativo na própria felicidade.

Isso nos marcou muito.

Entusiasta do projeto desde o início, Thayse Lopes mantém um canal chamado Tive Síndrome do Pânico. Pedimos a ela que nos contasse seu ponto de vista pessoal. Ele segue abaixo.

Todos são bem-vindos a participar do debate.

O Gente Extraordinária é de vocês.

Eu Posso ser feliz

Por Thayse Lopes*

Um dia me perguntaram se eu era feliz, não soube responder. Felicidade é algo tão amplo e ao mesmo tempo tão contido, tão pessoal que, o que pode ser sinônimo de felicidade para mim, pode não ser para o outros.

Talvez eu nem saiba dizer qual conceito de felicidade. Você sabe? Crescemos sendo ensinados que precisamos buscar nossa felicidade. Isso mesmo “nossa” felicidade. O “nossa” se deve porque somente eu sei o que é que me faz feliz, somente eu posso saber o que alegra meu coração. Assim como também somente eu sou responsável por isso.

Mas, posso dizer que, depois de ter tido depressão e síndrome do pânico, meu conceito de felicidade mudou totalmente. Antes, na minha cabeça, felicidade era ter um bom emprego, dinheiro, viver bem financeiramente, conhecer alguns países, falar mais idiomas, enfim, eram todas essas coisas que você almeja normalmente.

Antes meu sonho de consumo era ter uma casa na praia, ainda é mas, não é o primeiro sonho. Não tem como você passar por uma depressão ou um transtorno psicológico e continuar a mesma pessoa. Nossa percepção muda, nossos sonhos mudam, você deseja mais do que nunca ter saúde para seguir em frente e lutar pelos sonhos. Viver e ter que lidar com o monstro dos transtornos, te leva a um nível de prioridades que antes você não conseguia olhar, o olhar para si. Você se torna sua prioridade.

Ao passar por uma situação em que coisas que não considerávamos interessante nos é tirada, aprendemos a valorizar. É o velho ditado “quando perde é que dar valor”, isso se aplica perfeitamente. Suas razões para viver mudam de acordo com o que você passa.

Ter uma depressão ou síndrome do pânico, me fez privilegiar e priorizar coisas que antes eu simplesmente ignorava. Ir à padaria, por exemplo, era algo que eu não fazia, tinha crises de pânico só de pensar em sair e casa, hoje vou com o maior prazer porque sei o quanto me custou ser privada de fazer coisas aparentemente banais.

Assim como passar por uma tristeza intensa faz você valorizar quando surge algum vestígio de alegria. Você aprende a ficar feliz com tão pouco para só assim conseguir viver e melhorar. A dor da alma muitas vezes é singela, vem aos poucos e é aos poucos que ela sai também. Normalmente, um motivo muito grande para ficar feliz não é o que me faz feliz. Hoje em dia as coisas pequenas têm tomado seu lugar e, para mim, elas são enormes, me deixam realmente feliz. É uma ida ao supermercado sozinha, é conseguir arrumar minha casa sozinha, é conseguir sair da cama e colocar uma música, é conseguir fazer uma maquiagem e se sentir bonita de novo. Até sair de casa para ir trabalhar me emociona por muitas vezes, já que antes eu não podia fazer isso. Quando você tem uma doença como a depressão ou a síndrome do pânico, muitas vezes, você não tem mais prazer em fazer esse tipo de coisa, tudo se torna sem sentido e exaustivo.

Então, quando vem a melhora, você a alegra o coração, já ver novas possibilidades. É difícil, mas é possível.

Não sei qual seu motivo de felicidade, mas agradeça por estar vivo. Quando a gente reconhece pequenos prazeres, somos melhores. Deixamos o peso de ter que carregar a vida nas costas e aprende apenas a vivê-la. Eu sou Thayse Lopes, tenho depressão e síndrome do pânico (ambos controlados) e acredito que eu posso viver melhor mesmo tendo que lidar com essas doenças. O primeiro passo é acreditar que você pode ser feliz e se apegar aos pequenos detalhes de felicidades, são eles que te darão forças para prosseguir.

*Thayse Lopes é fotógrafa e autora do Tive Síndrome do Pânico.

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Bruna Talarico
Gente Extraordinária

Jornalista brasileira, estudo Media Management em Nova York para encontrar novas maneiras de comunicar o mundo. Co-fundadora do projeto Gente Extraordinária.